Um gigante! Não há exagero ao descrever dessa maneira o Rio Itapemirim, que corta o sul do Espírito Santo e abastece 17 cidades capixabas e 1 mineira. O principal rio do sul capixaba tem aproximadamente 5.952 km de área de drenagem e é responsável pelo abastecimento de milhares de moradores. Fonte de vida também para a fauna e a flora, além de ser força para as atividades econômicas da região. E é exatamente pela sua relevância que é preciso olhar para o Itapemirim com atenção especial.
Pensando em traçar um diagnóstico da situação do rio Itapemirim que foi promovida pela Rede Gazeta mais uma expedição científica, assim como foi feito há cerca de 15 anos. A equipe de pesquisadores, técnicos, policiais ambientais, bombeiros e jornalistas da TV Gazeta Sul percorreu 700 quilômetros por terra, mais 60 quilômetros pelas águas, para mostrar a realidade da Bacia do Rio Itapemirim. Mais que isso a ideia é colocar luz onde os problemas persistem e também buscar bons exemplos e práticas que inspiram.
Os expedicionários saíram de Cachoeiro de Itapemirim e já na primeira parada cenas de desrespeito que chocam. No local onde oficialmente o rio ganha o nome de Itapemirim, sobre a ponte da localidade de Duas Barras, construções irregulares, próximas demais do rio. E uma das margens está completamente desprotegida, porque a mata ciliar foi retirada. “Aqui faltou fiscalização para que isso não fosse implantado lá no início, para que as casas não tivessem chegado no ponto em que chegaram, para que a ilha não tivesse sido desmatada no ponto que foi”, afirma o biólogo Helimar Rabelo.
Flagrantes

Foto: reprodução TV Gazeta Sul
Equipe encontra lançamento de esgoto direto no rio, ao lado da estação de tratamento, em Castelo
A equipe seguiu até o município de Castelo. No distrito de Aracuí e encontrou uma estação de tratamento de esgoto da Cesan – Companhia Espírito-santense de Saneamento, que não existia na época da primeira expedição, em pleno funcionamento. Mas, o que parecia muito positivo, na verdade, não era. Há alguns metros da estrutura, parte do esgoto da estação é lançado direto no Rio Castelo. “É um odor insuportável e dá para a gente perceber nitidamente uma mancha negra que se forma do esgoto que sai da estação de tratamento, misturado com a água do rio. É muito decepcionante você ver que milhões foram investidos na estação e a gente vê que não está funcionando”, lamenta a cientista social e ambientalista Dalva Ringuier.
A Polícia Militar Ambiental colheu provas e foi até a Delegacia de Castelo registrar a ocorrência de crime ambiental. “Cabe multa, e a previsão de pena é de um a quatro anos de prisão. E nesse caso já está poluindo o rio, nós estamos vendo que o esgoto está sendo jogado in natura no curso hídrico”, explicou o sargento Silva.
Ainda no primeiro dia, mais uma parada, agora no município de Muniz Freire. E mais um flagrante, dessa vez registrado pelos moradores. Um cano, também perto de uma estação da Cesan, lançando esgoto num córrego. “O município tem que tomar as providências cabíveis, tivemos que aplicar uma multa em torno de 14 mil reais, na Cesan. É um crime ambiental e seja quem for a gente não pode deixar impune”, afirmou Maxuel de Miranda, secretário de Meio Ambiente de Muniz Freire.
Bom exemplo no campo
Apesar dos flagrantes de esgoto sendo lançado diretamente no rio Itapemirim, ao fim do primeiro dia da expedição a equipe encontrou um exemplo que inspira. A consciência e o cuidado com a natureza do produtor aposentado Anel Figueiredo, que está transformando a propriedade dele, na comunidade Menino Jesus, zona rural de Muniz Freire. O verde, aos poucos, vai transformando a região. Na área onde antes ficavam os pés de café, agora, surge a uma floresta. Há 15 anos ele tomou a decisão de preservar, transformando a propriedade herdada do pai. Espécies da mata nativa, que estão em estágio secundário de recuperação, revelam o cuidado desse homem que hoje pode olhar para a propriedade com orgulho.”Eu sempre tive essa noção de preservação, de não usar veneno, não usar agrotóxico. No final, agora, resolvi deixar tudo pra virar uma floresta”, diz o produtor.
Outro lado: o que diz a Cesan
Em nota, a Cesan informou que ainda esse ano Castelo vai receber mais de um milhão de reais em investimento para ampliação das redes de água e esgoto e das estações de tratamento. Tais obras devem beneficiar cerca de 22 mil moradores. Afirmou que 85% da sede de Castelo têm coleta de esgoto, com tratamento de 50% desse total. Com a conclusão dessa obra, o lançamento de esgoto no rio será completamente eliminado.
Sobre o esgoto sendo lançado no córrego em Muniz Freire, a Cesan disse que teve um problema operacional na estação elevatória de esgoto bruto e que tudo foi corrigido no mesmo dia. Disse ainda que a empresa responsável pela operação foi notificada e que foram aplicados testes, que comprovaram não haver dano ambiental. E informou ainda, que vai recorrer da multa aplicada pelo município.
*Com informações da TV Gazeta Sul