Os últimos anos trouxeram uma série de avanços tecnológicos que colocaram o mundo em nossas mãos. Computadores, tablets e celulares permitem fácil acesso a diversas fontes de conhecimento, entregando a chave para aprender a quem quiser mergulhar na internet, ler um artigo ou assistir a um vídeo. Nesse contexto, que já não é mais novidade, qual é o papel do professor?
Não há dúvida de que os educadores desempenham uma função de extrema importância na formação social e intelectual do ser humano. Mas o que os novos tempos nos mostraram é que eles devem se distanciar do paradigma de portadores de todo saber. Está cada vez mais claro que a tarefa de educar vai muito além de transmitir conhecimento. Nestes tempos modernos, a escola vai contribuir para que as crianças e os jovens lidem com o grande volume de informação que chega até eles.
Essa é a opinião de Cleonara Schwatz, pós-doutora em Educação e professora da Ufes, para quem a tecnologia não deslegitima o papel do professor. Pelo contrário, amplia sua missão.
“O professor é altamente necessário, e sempre será, para uma perspectiva de educação crítica. Nós, profissionais, precisamos nos apropriar dos recursos disponíveis para ensinar o aluno a selecionar o que ele lê, comparar, e analisar as informações”, afirma.
Em uma sociedade hiperconectada, as mudanças sociais ocorrem cada vez mais rapidamente. Não só as técnicas são alteradas, mas também os valores. E tudo isso impacta diretamente o universo da educação, que precisa processar os novos cenários e reformular métodos a todo momento.
No lugar de enxergar as ferramentas digitais como competição, uma nova geração de professores tem dado espaço para que a tecnologia seja aliada no processo de ensino-aprendizagem.
Mayra Duarte, que é professora de língua portuguesa no Centro Educacional UP, tem acompanhado as mudanças na forma como os alunos estudam para provas e atividades. “Eles já chegam em sala contando que assistiram a uma videoaula no YouTube, dizendo que aquilo ajudou bastante. Vejo isso como algo positivo, é um acesso muito rápido à informação”, expõe.
Rapidez
O Google, os aplicativos, as redes sociais e infinitos outros recursos para estudantes e professores já fazem parte do dia a dia das escolas, mas a professora lembra que, há apenas alguns anos, o processo para adquirir conhecimento era mais lento e cheio de barreiras.
“Sou nova em sala de aula, e há 10 anos, quando cursei o ensino fundamental, não conseguíamos concluir um trabalho de forma tão rápida quanto hoje. Se queremos trabalhar um conteúdo, basta utilizar o celular para uma pesquisa, e a matéria está ali, disponível”, diz Mayra.
O secretário de Estado da Educação, Haroldo Rocha, define o papel do professor atualmente como o de um curador, que separa o joio do trigo. “A tecnologia possibilita fazer uma escola diferente, onde o aluno é pesquisador e o professor é tutor. Com a internet, o conhecimento é infinito. Soltando o jovem na rede, ele pode se perder em meio a tanta informação. O professor deve acompanhar e estar a postos para tirar as dúvidas”, aponta.
A capacitação não pode parar
Selecionar, organizar e compreender todas as informações que circulam na rede não é tarefa simples para crianças e adolescentes, que ainda estão aprendendo a conhecer e se relacionar com o mundo à sua volta.
Mas a tecnologia acaba sendo um desafio também para os professores, já que nem todos estão preparados para lidar com um contexto diferente do que aprenderam na faculdade. Cabe aos profissionais do ensino e às escolas buscar a modernização das práticas pedagógicas, adaptando-se, pouco a pouco, ao universo digital.
Pensando nisso, algumas escolas oferecem treinamentos e qualificação para o corpo docente, para que os educadores saibam tirar melhor proveito das tecnologias, sem cair em suas armadilhas.
"Alguns professores já têm olhar diferenciado para novas metodologias"
Esse é o caso da Escola SEB COC. A instituição disponibiliza cursos on-line e também presenciais para aproximar os professores dos aparatos tecnológicos, capacitando-os para aplicar várias ferramentas em sala de aula.
“Temos buscado trabalhar a formação continuada dos professores. Valorizamos muito o uso da tecnologia, o que força o professor que não está preparado a se formar”, comenta o diretor de Ensino da escola, Vander Barbato.
“Alguns professores, mesmo entre os mais experientes, já têm um olhar diferenciado para as novas metodologias. Porém outros têm dificuldades para lidar com esse novo contexto. Por isso, todos estão em formação, seja com especializações ou cursos”, complementa.
A palavra-chave é adaptação, para a professora de língua portuguesa do Centro Educacional UP Mayra Duarte. “Estamos em um momento de aprender a lidar com a tecnologia, que já pertence ao universo dos alunos. Temos que aprender a inserir isso de forma cada vez mais construtiva”, destaca a professora.