Projeto de produção e extração de mel ganha destaque na região
Aracruz é conhecida pela rica história indígena, mas as aldeias do município também se destacam pelos produtos de altíssima qualidade. E não apenas o artesanato característico desse povo. A boa-nova da vez é o mel. Desenvolvido por meio do Plano de Sustentabilidade Tupinikim e Guarani (PSTG) em parceria com a Fibria, doze aldeias aracruzenses contam com pequenos centros de produção e extração do mel, proveniente de espécies de abelhas nativas da região, principalmente, a Uruçu-Amarela.
Os primeiros passos foram dados em 2012, mas a produção se consolidou anos depois, como detalha Tiago Barros dos Santos, da aldeia Pau Brasil, que atua como coordenador do Projeto Tupyguá. “O projeto de meliponicultura faz parte do Plano de Sustentabilidade Tupinikim e Guarani desenvolvido pela Fibria e começou com um trabalho de resgate das espécies nativas de abelhas, com o objetivo de ocupação do território, reflorestamento através da polinização e posteriormente veio a possibilidade de geração de renda através da colheita do mel. Começamos em outubro de 2012 e tivemos nossa primeira produção experimental em 2014, a comercialização iniciou-se em 2016. Tudo acontece nos quintais das famílias dentro das aldeias. O manejo é tranquilo, pois essa espécie de abelha não requer a utilização de equipamentos de proteção, pois não tem ferrão”, detalha.
A consultora de sustentabilidade da Fibria, Cláudia Belchior, explica como se dá a introdução do projeto dentro das comunidades indígenas. “Cada família que entra no projeto, recebe 30 caixas e daí vai multiplicando, sempre com a consultoria existente. Nós, posteriormente, ajudamos na logística, venda, embalagens até que consigam tocar sozinhos. Nossa expectativa é criar muito em breve uma cooperativa para tornar a produção e comercialização ainda mais abrangentes.”
Cerca de 60 famílias das aldeias Pau Brasil, Caieiras Velha, Irajá, Comboios, Boa Esperança, Três Palmeiras, Piraquaçu, Areal, Córrego do Ouro, Olho d’Água, Boa Vista, Amarelo e Nova Esperança lidam diariamente com o manejo da abelha Uruçu-Amarela. Apesar de crescente, a produção das doze comunidades ainda é pequena. “São aproximadamente 120 pessoas trabalhando diretamente no projeto Tupyguá. Na nossa última safra, colhemos quase meia tonelada de mel, mas a cada produção a quantidade extraída aumenta”, garante Tiago Barros.
O projeto Tupyguá extrai três tipos diferentes de mel, de cor mais clara que o mel tradicional, são eles: tabuleiro, capoeira e restinga. E a escolha dos nomes respeita as características do local onde foi extraído. “Existem microecossistemas dentro das comunidades. O Tabuleiro é extraído das matas nativas e virgens, próximas ao Rio Piraquê-Açu. O Capoeira vem de uma região onde já não há mais a cobertura original, mas em fase de regeneração natural. E o Restinga é produzidos nas aldeias mais próximas das praias, como Comboios. Cada um deles tem um sabor peculiar e único. Além disso, também comercializamos o pólen”, explica o assistente técnico.
Apesar de pequena, a produção vai longe. O mel produzido nas aldeias de Aracruz rompeu barreiras e é encontrado em mercados de produtos artesanais de São Paulo. No Estado, há pontos de vendas em Vitória, Vila Velha e no Centro de Aracruz. Isso, claro, sem contar nas próprias aldeias, onde é possível realizar encomendas com os produtores. “Há muita procura, até por ser um produto diferenciado e único”, atesta Tiago Barros.
Vale destacar que o projeto Tupyguá é só uma das muitas atividades implantadas nas aldeias de Aracruz desenvolvidas por meio do PSTG. “Inicialmente foram implementados vários projetos, e o mel era só uma das atividades. O objetivo, a princípio, era trazer condições ambientais para que os índios desfrutassem das potencialidades locais, não era somente focado na geração de renda. Tínhamos a parte de reflorestamento, criamos uma rede coletora de sementes, a agroecologia com as famílias, a extração do mel de abelhas nativas. As coisas começaram a mudar há cerca de três anos, quando houve uma produção interessante. Estimamos uma tonelada de mel produzidos nas aldeias para esse ano”, conclui a consultora do programa.