Entrevista:João Eurípedes Franklin Leal

Foto: Fernando Madeira

Espero que esta história tenha continuidade”

O historiador que foi peça essencial para o resgate da Rota Imperial da Estrada Real São Pedro de Alcântara e conta peculiaridades que só quem faz o trajeto consegue vivenciar

É impossível falar de Rota Imperial, em qualquer município, sem ouvir o nome do professor e historiador João Eurípedes Franklin Leal. Ele refez o trajeto, redescobriu pontos fundamentais para a história da estrada e, acima de tudo, sabe de histórias e “causos” que deixam a Rota ainda mais atraente.

Como é a rota na divisa do Espírito Santo com Minas?

A divisa é em São João do Príncipe, um ponto-chave e turístico da Rota. É um lugarejo que existe há 200 anos e permanece como pequena vila, com momentos de progresso e de esquecimento. Assim como a própria Rota.

Um ponto que gera bastante curiosidade é sobre os quartéis. Onde eles eram construídos?

Os quartéis eram sempre colocados em um ponto estratégico, isto é, com boa visibilidade da redondeza. Tinha a função de fiscalizar quem passava, e até o próprio chão da estrada, no caso de chuvas fortes. Também protegia os passantes contra possíveis ataques indígenas.

Todos os locais da Rota se desenvolveram graças aos tropeiros?

Eles foram fundamentais. Um exemplo é Ibatiba que, hoje, se tornou um dos grandes centros de tropeiros - abriga até um monumento em homenagem a eles. É lá, também, que se promove a maior festa dos tropeiros no Espírito Santo. Isso é fruto da estrada, sem dúvida.

A Rota guarda muitas lendas?

Muitas. Em Monforte Frio, que faz parte de Conceição do Castelo, a estrada segue em um trecho conhecido como “Estrada do Estreito”, um local lindo. Uma das lendas diz que, no passado, italianos carregavam um sino com todo cuidado para uma igreja e, de repente, ele caiu em um barranco e sumiu. Nunca foi encontrado. Dizem que a pessoa que passa no local à meia-noite, se ouvir o sino bater, pode começar a rezar, é sinal de que vai morrer em breve. Provavelmente, ninguém se arrisca a passar lá tão tarde (risos).

E os ramais que se formaram em volta da Rota?

O trecho que acabou dando origem a Castelo, por exemplo, descia mais e encontrava o Rio Itapemirim. Depois, descia mais pela margem sul do rio, passando por um lugar que hoje é Cachoeiro de Itapemirim, e chegando a Barra de Itapemirim. Por isso nós advogamos que Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim e Marataízes deveriam, assim como é hoje Santa Teresa, fazer parte da rota. É uma variante da rota para se atingir o mar.

Por que a Rota Imperial ficou tão abandonada? O que motivou?

Há exatos 110 anos, houve a construção da estrada de ferro Leopoldina. Saía do Rio de Janeiro, passava por Campos, Cachoeiro de Itapemirim e chegava a Vitória. Outro ramal saía do Rio e seguia até Ouro Preto. Em 1913, foi feito um ramal saindo de Carangola, passando por Espera Feliz, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Alegre e Jerônimo Monteiro, chegando a Cachoeiro de Itapemirim. O viajante da Rota, que antes gastava até 20 dias subindo e descendo morro montado em mulas ou cavalos, poderia fazer todo o trajeto em um dia. A estrada de ferro matou a Estrada Real, que caiu em esquecimento. Já disseram até que a Rota não existiu. Mas ela está em todos os mapas. E a gente espera que todo esse resgate tenha uma continuidade.

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