Entrevista:José Sales Filho

Foto: Fernando Madeira

Dom Pedro foi o nosso primeiro turista”

Secretário de Estado de Turismo fala sobre o desenvolvimento que a Rota Imperial trouxe para os municípios que estão no seu caminho

A Rota Imperial é, além de tudo o que já vimos nas páginas anteriores, uma oportunidade de mostrar aos turistas - de fora e os daqui também - que o Espírito Santo ainda tem locais pouco explorados, paisagens inéditas e programações que não fazem parte do circuito tradicional. É sobre esse assunto que conversamos com o Secretário de Estado de Turismo, José Sales Filho, um defensor da rota como ela é, sem “inventar modas”.

O que representa o resgate dos 200 anos de Rota Imperial no Espírito Santo?

O resgate histórico da Rota é essencial. Ela percorre diversos municípios capixabas, e outros mineiros, e ajuda a manter viva a história desses locais. Vi no museu de Santa Leopoldina, por exemplo, fotos de pessoas que testemunharam a passagem de Dom Pedro II por lá. Isso é fantástico. Eu brinco que Dom Pedro foi o nosso primeiro turista de primeira classe. Ele era curioso, intelectual, era tudo ao mesmo tempo. E o turismo vive disso.

O que a Rota tem de diferencial?

Trata-se de um roteiro fora do circuito tradicional, que atende desde o mochileiro que pede carona, até alguém com dinheiro, mas que não quer fazer nada muito programado.

E quais surpresas podemos encontrar ao longo do trajeto?

Na Rota você tem cachoeiras, fazendas e casarões tão bonitos quanto os das rotas tradicionais, mas que ainda são inéditos. Isso é genial. O que o turista quer hoje em dia é viver como a pessoa da região, o morador.

Na Rota, o que chama mais a atenção do secretário?

O que a rota tem de mais interessante é o povo, sem dúvidas. É a gente que mora nos locais. Uma das coisas que mais marcam uma viagem são as pessoas que a gente encontra. Não se viaja mais só para conhecer monumentos. Na rota você tem experiências. Imagine o tanto de histórias que esse povo tem para contar e que não eram ouvidas há 200 anos?

O que foi feito pelo Estado até o momento?

A estrutura da Rota Imperial é compartilhada. Trata-se de uma construção de todos. O governo ajuda um pouco, mas a rota é incorporada pelo mercado local. O governo, por ser uma entidade só, não pode impor nada. A Rota existe e o governo organiza a estrutura. E a rota passa a dar certo quando as pessoas da região entendem a importância dela e colaboram.

Quais as expectativas para quem mora às margens da Rota?

Vamos qualificar essa mão de obra junto ao Sebrae, para fazer a diferença. Vamos capacitar os empreendedores de cada região, para que eles sejam bons no óbvio, mas preservando as características do local. Não podemos querer fazer um resort lá, não é o perfil.

Alguns municípios já têm tradição turística, enquanto outros ainda não despontaram nesse sentido. Como fazer?

A ideia é uma rede de cooperação. Alguns municípios já sabem como fazer e fazem muito bem. Eles têm experiência nisso e podem ajudar seus vizinhos que ainda precisam engatinhar um pouco mais nesse sentido.

Qual é o objetivo da rota imperial daqui pra frente?

Basicamente, a gente não vai mexer na estrutura dela. O turismo tem uma parceria grande com a agricultura, por exemplo. Se em algum trecho da rota tiver uma parte do programa Caminhos do Campo, por exemplo, a gente vai mexer, asfaltar, mas pensando junto. É uma equipe de várias secretarias. Não há um plano só para a rota. Ela vai ser cuidada de acordo com o potencial de cada região. O que não queremos é inventar moda. Cada uma dessas cidades já tem sua programação normal: festival do carro de boi, festival do vinho, festa da polenta. Não precisamos criar nada mirabolante. Não podemos transformar a Rota Imperial em Hollywood. Não é necessário. Precisamos apenas colocar luz nos eventos que cada cidade já produz. E mostrar que o turista não é só quem vem de longe. Quem mora na cidade vizinha também é visitante e pode trazer novos convidados se gostar da recepção.

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