Cariacica, penúltimo município visitado por nossa equipe ao longo da Rota Imperial, é uma cidade rica em história. E mais rica ainda em informações que muita gente da Grande Vitória não conhece (mas deveria conhecer). Na cidade há dois ramais da rota: o principal, que vem de Viana e faz o trajeto da BR-262, e um secundário, que passa por Cariacica-Sede com destino a Santa Leopoldina.

No caminho, propriedades com potencial para o agroturismo, rios e paisagens dignas de cartão-postal, sempre com o Monte Mochuara ao fundo. É por ali, entre estradas de chão e prosas com moradores da região, que conhecemos um pouco da Cariacica que ainda está escondida para muita gente.

Em Cachoeirinha, por exemplo, vale um bate-papo com Vera Lúcia Monteiro Barcelos. Ela é dona de uma venda antiga que ainda funciona, onde os tropeiros faziam parada durante suas viagens pelo Estado.

“Eles dormiam aqui, faziam festas. E a gente preservou o imóvel. Nosso objetivo é montar um museu dos tropeiros aqui ao lado da venda. Já começamos a juntar alguns objetos da época deles. Nossas crianças precisam conhecer a história da cidade”, conta Vera, enquanto mostra algumas das ferramentas que são guardadas como relíquias.

Para montar o museu, a família já trabalha há algum tempo com pesquisas sobre a história de Cariacica e, particularmente, a história da localidade onde a venda está localizada. “Descobrimos muita coisa. Eles desciam para Vitória com as coisas do campo e subiam de volta para o interior com carne e açúcar, para abastecer os vilarejos”, afirma.

E Cariacica está cheia de “donas Veras” para uma prosa rápida ou mesmo um pedido de informação. Um pouco mais adiante, por exemplo, conhecemos Terezinha Dutra Barcelos e sua mãe, Luzinete, proprietárias de um rancho com restaurante e piscina natural. Tudo de frente para a Pedra Negra.

“O lugar tem esse nome pois a história diz que era para a Pedra Negra que os escravos subiam quando queriam se esconder. Hoje virou cartão-postal da nossa fazenda, onde as pessoas visitam no final de semana para almoçar e passar o dia”, conta Terezinha, enquanto observa uma grande piscina natural com água cristalina.

Outros pontos do município também trazem um charme especial, com pinta de fazenda de novela. Subindo pelo vale do Mochuara, chegamos a Alto Roças Velhas, um local com uma vista impressionante para o Mestre Álvaro, localizado na Serra. A vista é praticamente um quarto a céu aberto para o historiador Fábio Leite, que mora lá em cima, bem pertinho do Mochuara, e conhece como poucos a história da cidade.

“Vitória não tinha acesso viário até 1929. E Cariacica era território de Vitória. Abastecia a cidade. Só que quando houve a inauguração da ponte Florentino Avidos, toda a história foi levada para Vitória. Mas onde foi gerada toda a riqueza foi esquecido pela história”, questiona. Além de pesquisar a história do município, Fábio também possui um grande acervo de fotos com a história da cidade e ainda encontra tempo para realizar um interessante trabalho com trilha ecológica e visita guiada pelo Mochuara.

Com a retomada e a divulgação dos trechos da Rota Imperial, nesses 600 anos da estrada o prefeito de Cariacica, Juninho, acredita que mais do que fomentar o turismo, a rota tem ajudado a familiarizar os moradores com a história da própria cidade.

“O grande segredo da rota foi que ela começou a tocar na história de cada família que chegou aqui. Temos várias situações assim em Cariacica-Sede, por exemplo. Lá, ainda há vestígios da linha férrea por onde parte da Rota Imperial passava, e muita gente ainda não se dá conta. Então, isso tudo permite o desenvolvimento da cidade e o resgate da história”.

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