O mundo está em constantes mudanças. Falamos em geração Y e Z, mas as salas de aula já estão sendo ocupadas pela geração Alpha, a primeira que é 100% nativa digital. Com a tecnologia cada vez mais onipresente, o desafio de oferecer um ensino de qualidade e conectado com os novos tempos é ainda maior. Mas, seja qual for a estratégia adotada pelas escolas, a melhoria na educação é inseparável da boa prática docente.
E uma pesquisa realizada pela organização Todos pela Educação revela que os obstáculos para a valorização dos educadores ainda são muitos e afetam diretamente a qualidade do ensino. Mesmo diante das dificuldades, o estudo Profissão Docente mostra que há um forte desejo de aprimoramento profissional da categoria – sete em cada dez afirmam que dar oportunidades de qualificação é uma das medidas eficazes para valorizar a profissão.
“O reconhecimento do docente está relacionado a vários aspectos, como condições de trabalho, infraestrutura e plano de carreira. É preciso que o professor tenha tempo para se aperfeiçoar e desenvolver a sua prática. E uma formação continuada possibilita que o profissional acompanhe as inovações de sua área, se atualize e aplique isso na sala de aula”, defende Sonia Dias, coordenadora de implementação do Itaú Social.
LINHA DE FRENTE: Seja qual for a estratégia adotada pelas escolas, boa prática docente é fundamental
Diante dessa realidade, muitas instituições de ensino já se mobilizam para garantir um ambiente que reflita a importância do trabalho da equipe docente. “As escolas precisam ofertar capacitações para que o professor possa ser bem-sucedido na sala de aula, e o professor precisa entender que não é o único detentor do conhecimento em sala, passando a atuar como mediador da aprendizagem, direcionando os estudos dos alunos, por meio de aulas dinâmicas, interativas, com maior participação dos estudantes”, atesta José Geraldo Gaurink Dias, diretor-geral da Escola Siena.
Para o diretor, a formação de um docente é um processo contínuo que visa capacitá-lo a atender às constantes exigências do contexto tecnológico, científico, profissional e social. Por isso, o colégio não abre mão de oferecer cursos e capacitações aos professores.
“É uma maneira de reconhecer e valorizar nossos profissionais, aprimorar o conhecimento, melhorar a motivação e garantir o engajamento de todos em fazer parte do processo educacional. Assim podemos assegurar uma atuação de professores mais preparados e capacitados em garantir uma educação de qualidade para os nossos alunos”, explica.
Boa comunicação é a chave da relação
Para 78% dos professores, a afinidade com a profissão foi o aspecto que os levou à escolha da carreira. No entanto, 49% dos entrevistados em um estudo do instituto Todos pela Educação afirmam que “certamente não recomendariam” a profissão para um jovem. Entre algumas das razões apontadas estão a falta de valorização e de reconhecimento.
No ensino público, os desafios são ainda maiores. Segundo a pesquisa, 64% dos professores ouvidos disseram que falta um bom canal de comunicação entre a gestão e os docentes e 72% se queixam da não inclusão dos profissionais nas decisões relacionadas às políticas públicas de ensino.
Para impedir que esse cenário se instale, a Escola Leão Marinho adota uma filosofia de valorização contínua. Workshop, cursos, visitas de especialistas, atendimento com fonoaudiólogo e psicólogo fazem parte da rotina dos docentes da instituição. “Se o professor está sendo tratado com respeito e reconhecimento, o retorno é imediato. A escola precisa estar disponível para ouvir o professor, observar o emocional deles. Tudo é importante e faz diferença”, explica a proprietária da escola, Manisa Barros Leão Borges.
“É preciso que o professor tenha tempo para se aperfeiçoar e desenvolver a sua prática”
Sonia Dias, coordenadora de implementação do Itaú Social
Prova disso é que a escola de educação infantil coleciona “pratas da casa”, com professores que estão na instituição desde o seu surgimento, há 17 anos.
Há um ano e três meses na escola Leão Marinho, a professora Jéssica Nascimento Alvarenga, 28 anos, também destaca a importância da formação continuada para ensinar de forma mais lúdica. “O profissional precisa sempre estar se informando, estudando. Investindo na qualificação pessoal, ele vai descobrir diversas maneiras de passar o conteúdo para os alunos”, garante.
O laço de confiança e afeto entre docentes e alunos é outro ponto em destaque. “Os professores vestem a camisa da escola sem peso porque reconhecem, gostam e se identificam com a proposta da escola. E os pais se sentem mais seguros e confiam na qualidade do ensino”, conta Manisa.
Aperfeiçoamento em cultura digital na rede pública
Na rede pública, a formação continuada e a valorização dos profissionais são metas prioritárias dos próximos anos. Segundo o secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, garantir a formação inicial e continuada aos profissionais da área é um dos desafios estratégicos da gestão.
“Trabalhamos para oportunizar condições pedagógicas, metodológicas e físicas adequadas para a formação integral, voltada à cidadania e ao trabalho, a partir de um engajamento dos profissionais da educação. Temos implementado algumas ações, baseadas no diálogo junto aos gestores escolares”, afirma.
Para isso, foi criado o Programa Pró-Docência, voltado para a qualificação da formação continuada, por meio da oferta de vagas e da readequação da jornada de trabalho, para que o professor realize pós-graduação lato e stricto sensu.
Dentro da nova política de promoção da qualificação está também a reestruturação e o fortalecimento do Centro de Formação dos Profissionais da Educação (Cefope), que está desenvolvendo, neste momento, a formação do novo currículo do Espírito Santo para mais de 28 mil profissionais.
Ainda de acordo com o secretário, a Sedu também tem promovido capacitações, por meio de cursos presenciais, on-line e autoinstrucionais para aprendizado, atualização e aperfeiçoamento, com foco no letramento e criação de cultura digital nas escolas.
De olho no futuro
Metas do Plano Nacional de Educação
Objetivos a cumprir
O Plano nacional de Educação (PNE) estabeleceu 20 metas que devem ser atingidas até 2024, com o objetivo de melhorar os índices educacionais do país. Como prova de que o compromisso com a qualidade do ensino não pode ser cumprido sem a valorização do magistério, nada menos do que cinco das 20 metas envolvem o reconhecimento e a capacitação dos professores.
Objetivos a cumprir
O país terá que melhorar não apenas os salários, mas também a formação de quem atua nas salas de aula. Entre os objetivos traçados estão os que incluem a ampliação do número de mestres e doutores no corpo docente das instituições de ensino superior, a garantia de que todos os professores da educação básica possuam licenciatura na área de conhecimento em que lecionam e a oferta de formação continuada.
Salário e carreira
O PNE também estabelece que, até 2020, o Brasil deve igualar o salário médio dos professores à renda de outros profissionais com a mesma escolaridade. Até 2016, deveria ter criado planos de carreira para os professores da rede pública, mas existem apenas iniciativas estaduais.