Cada vez mais escolas ofertam o ensino integral na Grande Vitória, inclusive na rede pública, que tem meta estabelecida no Plano Nacional de Educação. O documento define que, até 2024, o Brasil deve oferecer essa modalidade em, no mínimo, em 50% das escolas da rede pública. Mas o aumento puro e simples da carga horária diária não garante uma educação de melhor qualidade.
A expansão do ensino integral deve vir acompanhada de uma nova proposta pedagógica. “Não se trata apenas de ensino integral – e, sim, da formação integral das pessoas. Não basta a excelência acadêmica, há ainda a formação das habilidades socioemocionais e para atuar na sociedade”, defendeu Aléssio Trindade de Barros, representante do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), no Seminário Tempo integral: alternativa para o ensino médio brasileiro?, que ocorreu neste ano no Congresso Nacional.
As escolas do Estado com experiência nessa modalidade de ensino dão o exemplo. Oportunidade de desenvolver a própria autonomia e aguçar a sensibilidade artística e social estão entre os objetivos para formar não só alunos nota 10, mas também bons cidadãos. Tudo sem deixar a rotina maçante para o aluno.
Entram em campo música, esportes, teatro, cinema, jogos, dança e até culinária e higiene pessoal. “As atividades desenvolvidas na rotina do ensino integral têm por objetivo desenvolver a independência do aluno e a socialização com os colegas”, afirma Rita de Cássia Ferreira da Silva, supervisora educacional para educação infantil da Escola São Domingos.
Variedade
As estratégias vão desde ampliar os campos de ensino a diversificar formas com que os conteúdos são apresentados.
“Tem que ser algo que desafie o aluno. Então, às vezes, ele tem uma aula de manhã das disciplinas tradicionais, e, à tarde, está envolvido em projetos em torno de temas diversos”, afirma Paulo de Tarso, professor de Língua Portuguesa e assessor da direção do Centro Educacional Leonardo Da Vinci. “Pode ser com MPB, cinema, atividades artísticas, lúdicas, salas de jogos”, exemplifica.
É preciso evitar a hiperescolarização
Os baixos índices de aprendizagem do Brasil em comparação aos países desenvolvidos estão relacionados às grandes diferenças entre os sistemas de ensino, e um dos fatores essenciais é o período em que os estudantes ficam expostos à aprendizagem.
Enquanto uma educação de 7h ou mais na escola é realidade nos países desenvolvidos, no Brasil a média é de 5h aula por dia no Brasil, sendo que o tempo de exposição à aprendizagem é ainda menor: pouco menos de 2h, segundo o Instituto Todos pela Educação.
A questão, como se vê, não é apenas o tempo que o aluno passa na escola. É importante não confundir ensino integral com ensino de horário integral. O primeiro é mais focado na formação completa do aluno, enquanto o segundo está relacionada à duração dessa formação. “Percebemos na fusão do sentido das duas expressões o grande desafio do ensino integral”, diz a coordenadora pedagógica do Centro Educacional Primeiro Mundo, Grasiele Menezes Ribeiro Martins.
Outro desafio da modalidade é evitar a chamada “hiperescolarização” das crianças. “Os alunos devem realizar as atividades no contraturno com prazer e disposição. Além disso, é importante que a escola proporcione uma estrutura adequada, favorecendo uma mudança de ambientes durante o dia”, alerta Rita de Cássia Ferreira da Silva, supervisora Educacional para Educação Infantil da Escola São Domingos.