Educação é antídoto para a desinformação

Na Era da Informação, escolas devem estar aptas a ensinar alunos a acessar conteúdos de forma crítica

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Pixabay
Educar para a informação é essencial para formar cidadãos mais conscientes

Na Era da Informação, saber ler é apenas o começo. É preciso saber acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do mar de dados, fatos, boatos e opiniões disponíveis a um clique. Essas habilidades não são nenhuma novidade, mas ganham relevância em um mundo hiperconectado.

Longe de ser um tema que só diz respeito aos profissionais da notícia, educar para a informação é essencial para formar cidadãos mais conscientes e para construir uma sociedade mais democrática. E a escola é uma grande aliada no letramento digital. Tanto que a educação midiática é uma das demandas da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Para o diretor-presidente do UP Centro Educacional, Fábio Portela, preparar crianças e adolescentes para um consumo midiático consciente é uma necessidade. “Se os estudantes desenvolvem senso crítico, a escola está contribuindo para a formação de cidadãos que possam exercer melhor sua liberdade de expressão”, comenta.

Portela completa que a educação midiática pode agir como um antídoto às fake news. “Você percebe que tem algo estranho, vai pesquisar outra fonte, e não simplesmente ‘compra’ uma informação como verdade absoluta. São três os desafios atuais para a iniciativa chegar às salas de aula: disseminar o conceito da educação midiática, divulgando sua importância; formar os professores para que eles possam abordar o tema; e desenvolver a produção de conteúdos e materiais relevantes para serem usados na escola”, avalia.

O programa EducaMídia, criado pelo Instituto Palavra Aberta com apoio do Google.org para capacitar professores para esse letramento, explica que a educação midiática não é uma disciplina escolar isolada. A capacidade de relacionar-se com o grande fluxo de informação permite a construção autônoma de conhecimento, habilidade que é necessária não só para todos os conteúdos da escola, como para a vida.

As escolas que aceitam esses desafios, e incluem a educação para a mídia no currículo, acabam incentivando discussões proveitosas e muito aprendizado sobre atualidades e assuntos que podem até ajudar na hora do vestibular. Lúcio Manga, professor de Redação e Português do Centro Educacional Leonardo da Vinci, trabalha a análise de notícias em sala para despertar a leitura crítica desses conteúdos.

Ele explica que é importante ensinar a diferença entre opinião e informação jornalística, e a partir disso discutir com os alunos os motivos e ferramentas utilizadas para a divulgação de notícias falsas. “As ‘fake news’ têm uma intenção. Seja política, de difamação ou preconceituosa. Oriento que devemos trabalhar com fatos e buscar sempre a razão, entender o contexto e estudar as fontes oficiais sobre o assunto”, defende.

Jornais e revistas nas salas de aula

Entender de que forma se dá o processo de construção do conteúdo jornalístico pode ser o diferencial para que o discernimento entre notícias falsas e verdadeiras se torne um hábito. E é justamente com esse objetivo que um projeto realiza oficinas de leitura crítica da mídia em escolas públicas da Grande Vitória.

O ‘ComunicaÊ’ é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades e ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele surgiu em 2011.

“O projeto trabalha na formação das crianças e adolescentes para uma visão mais crítica das informações construídas nos meios de comunicação”, explica a professora Franciani Bernardes, uma das coordenadoras da iniciativa. “Tentamos mostrar aos jovens que o processo de comunicação é construído, e não exatamente um reflexo da realidade. Levantamos questões como ‘de que forma os meios produzem uma notícia’, ‘o que é uma notícia’, e ‘o que são critérios de noticiabilidade’”, revela.

Durante as oficinas, os alunos também produzem conteúdo de caráter jornalístico, permitindo que saiam do papel de receptor de informações e experimentem o processo de produção da notícia. Essa habilidade, além de ser uma demanda da Base Nacional Curricular Comum, é a chave para que esses jovens aprendam a identificar conteúdos de caráter duvidoso.

Por dentro da notícia

Educar para a mídia por meio da prática também é uma aposta do UP Centro Educacional, como explica o diretor-presidente, Fábio Portela: “A Base Nacional prevê o desenvolvimento das habilidades de leitura e produção de textos jornalísticos e a autonomia e pensamento crítico para se situar em relação a interesses e posicionamentos diversos, além de saber diferenciar liberdade de expressão de discursos de ódio. No UP, acreditamos nesse processo e temos diversos projetos pedagógicos que colocam o aluno como protagonista da produção de conteúdo em diversos contextos”.

Outra unanimidade entre os educadores é que o estímulo constante à leitura, de revistas, jornais, portais da internet e até redes sociais, é mais uma ferramenta para o desenvolvimento de um olhar crítico.

Chico Guedes/Arquivo AG
O professor Carlos Manga

“Os jovens que são bem informados e formados para a leitura já não levam as notícias falsas de conteúdo a sério. Vivemos um momento em que a leitura e a informação não são mais tão valorizadas. Precisamos levantar sempre essa discussão com alunos e professores, não só na língua portuguesa. É nosso papel”, completa o professor Lúcio Manga.

Entenda a importância do letramento digital

  • O fenômeno das notícias falsas foi considerado tão impactante que a Universidade de Oxford elegeu “pós-verdade” como a palavra do ano de 2016. Desde então, as estratégias de desinformação não saíram do foco do debate
  • Os impactos das fake news podem causar verdadeiras tragédias. Em 2017, sete pessoas foram linchadas na Índia após a circulação de uma notícia falsa de que elas raptavam crianças. Em 2014, no Brasil, uma mulher também foi morta após boato de que era sequestradora
  • Crianças têm mais dificuldade em distinguir se a notícia é verdade ou mentira. No Brasil, onde cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes navegam na web, segundo estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 31% dos usuários com idade entre 11 e 17 anos disseram que não são capazes de verificar se informação está correta
  • A inteligência artificial, com as deepfakes (manipulações profundas de áudio e vídeo, quase imperceptíveis) tornam a educação midiática uma necessidade do mundo atual

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