Poder da literatura vai além dos livros

Adaptações de clássicos para o cinema e até para quadrinhos podem ser uma boa opção de ensino

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Foto: Pixabay
Boas releituras são veículos para ajudar a conduzir o estudante por um caminho cheio de possibilidades do mundo literário. Foto: Pixabay

Que é sempre bom estar em contato com a obra original, nenhum professor de literatura há de negar. Mas nada impede também que adaptações literárias tenham o seu lugar ao sol em sala de aula. Longe de serem consideradas meras simplificações de clássicos, as boas releituras, que incluem filmes e até HQs, são veículos para ajudar a conduzir o aluno pelo caminho cheio de possibilidades do mundo literário.

“Temos que trabalhar com a realidade do nosso aluno. Não sei se por conta da evolução, da tecnologia, de todos esses jogos… Sei que nossos alunos hoje têm uma dificuldade maior do que o aluno, por exemplo, da minha geração, de resolver por ele mesmo as barreiras com a linguagem”, observa Ana Lucrécia Figueiredo de Oliveira, professora de Literatura do ensino médio do Sesi de Araçás, em Vila Velha, e facilitadora da área de Linguagem.

“O objetivo principal é levá-los a interagir com os clássicos, a ter o primeiro contato com as obras, os enredos. No caso do ensino fundamental II (6º, 7º, 8º e 9º anos), por exemplo, a ideia é justamente proporcionar esse reconhecimento das histórias, de forma que o aluno não perca o interesse”, complementa Rebeca Monteiro Lobão, professora do Sesi de Jardim da Penha, em Vitória.

E não é porque as releituras são adotadas que os originais são deixados de lado. No Sesi, as adaptações são mais utilizadas com alunos do ensino fundamental II, enquanto os originais são trabalhados no ensino médio.

Foto: Sesi/Divulgação
PALCOS: A professora Rebeca Lobão, do Sesi de Jardim da Penha, também usa teatro para abordar obras literárias. Foto: Sesi/Divulgação

No fundamental, a preferência é por adaptações de clássicos brasileiros, como as obras de José de Alencar e Machado de Assis. No ensino médio, os professores voltam a trabalhar com esses autores, mas em suas versões originais, e com adaptações de clássicos internacionais, como os de Miguel de Cervantes, autor de “Dom Quixote”, e de William Shakespeare, nome por trás de “Romeu e Julieta” e “Sonho de Uma Noite de Verão”, ambas originalmente escritas para o teatro.

Um exemplo disso foi experimentado pela professora Rebeca, que já usou com uma turma de 8º ano “O Mistério da Casa Verde”, que faz referência a “O Alienista”, de Machado de Assis, que é apresentado aos alunos na 2ª série do ensino médio. “É uma boa forma de já iniciá-los nas narrativas de Machado de Assis”, explica.

Análise: Adaptação não substitui o original

As obras são consideradas clássicas quando se tornam referência para uma determinada cultura. Podem ou não se tornar referência por sua qualidade estética, mas por sua temática ou importância histórica.

Toda obra é produzida para um determinado grupo de leitores. Há livros escritos para crianças, por exemplo. Os romances de Machado de Assis foram escritos para os brasileiros adultos do século XIX. Isso não quer dizer que não possam ser compreendidos e apreciados por outros leitores.

Na literatura, adaptar é reescrever um determinado livro visando outro público, por exemplo, reescrever Machado de Assis para adolescentes brasileiros do século XXI. Pode parecer inofensivo, mas não é. A leitura de obra adaptada não substitui, sob nenhuma hipótese, a obra leitura da obra integral, original.

Ao fazer uma adaptação, são feitas diversas alterações nos textos, como a retirada de trechos inteiros – e até de personagens! – ou sua reescritura. Essas mudanças quase sempre enfraquecem o original e sempre o transformam em outra coisa.

A leitura da adaptação nunca substitui a leitura do original, mas não é inútil que elas existam. As adaptações podem servir como uma introdução ao universo dos clássicos, que leve à leitura dos originais no futuro. É fundamental que as adaptações não sejam lidas para substituir, mas para aproximar dos textos integrais.

Quando falamos da transformação de um livro em outra coisa, por exemplo, um filme ou uma história em quadrinhos, trata-se de uma tradução intersemiótica, não de uma adaptação.

Andrea Antolini Grijó, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo, onde leciona

 

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