A tradição é uma das principais marcas das escolas confessionais que perduram ao longo dos anos educando crianças e adolescentes de geração em geração. Hoje em dia, com as mudanças cada vez mais constantes na sociedade, os colégios religiosos estão antenados para acompanhar as transformações sem abrir mão de uma característica comum entre essas instituições: o ensino de valores universais.
“Nossa cara nova está nas questões voltadas para a nova docência, a tecnologia, a formação dos professores, as instalações do colégio. Tudo isso muda muito, e temos 75 anos de história. Muita gente já passou pela nossa escola, e o bacana é que os avós agora trazem os netos para estudar onde eles estudaram”, explica a coordenadora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Maria, Silvana Bizzo Cruz.
Ainda de acordo com Silvana, é comum ouvir dos responsáveis pelos alunos que a escola mudou ao longo do tempo, mas os valores perenes continuam presentes. Além disso, o Sagrado Coração é um exemplo de instituição que recebe estudantes de todas as religiões.
“Temos alunos que são da Igreja Batista, que são presbiterianos, que são espíritas, por exemplo. Eles convivem muito bem até porque falamos sobre as outras religiões nas aulas de ensino religioso. Uma das coisas que valorizamos é saber lidar com a diversidade.”
O Colégio Marista Nossa Senhora da Penha também é uma escola confessional preocupada, sobretudo, com o respeito às diferenças. “Componentes, como ensino religioso, conforme preconizado nas diretrizes nacionais para a educação básica, só se tornam exequíveis e proficientes no expediente escolar quando partem da diversidade cultural e focalizam o sujeito sócio-histórico como agente social transformador, isento de estereótipos e crenças limitantes, respeitando o princípio mútuo da liberdade de expressão e valorizando a alteridade”, observa a vice-diretora educacional da escola, Vilmara Mendes Gonring.
Com o objetivo de formar cidadãos que saibam conviver com a diversidade e contribuir para uma sociedade mais harmônica, o Centro Educacional Agostiniano também está no time das escolas confessionais que priorizam valores universais.
“Todos os anos, além de outras atividades, o Agostiniano promove Encontros de Formação voltados a todas as séries, cujo objetivo é proporcionar momentos que ampliem a reflexão em torno de temas de cunho ético, social e espiritual”, explica a diretora da escola, Irmã Rita Cola.
Espiritualidade na formação dos estudantes
A espiritualidade é comum a todos os seres humanos, segundo o professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcelo Martins Barreira. De acordo com ele, estimular essa qualidade na educação das crianças e adolescentes não impede que as escolas confessionais mantenham suas tradições.
“O diferencial de trabalhar com a espiritualidade no sentido amplo do termo, tendo em vista uma diversidade cultural que espelha nossa sociedade, é que pode agregar bastante, tanto para a escola como para os alunos e suas famílias. Os valores universais, de alguma maneira, expressam a própria tradição cristã”, explica.
Promover a espiritualidade que cada um tem dentro de si é considerada uma das tarefas do Colégio Agostiniano, por exemplo. “Esse transcendente é a forma que a pessoa tem de expressar aquilo que é de mais sagrado dentro dela mesma. Isso faz parte da formação do ser humano”, comenta a diretora da unidade, a Irmã Rita Cola.
Na prática, as crianças e os adolescentes do colégio contam com momentos de reflexão e de oração durante o dia a dia da escola. “Nós nos sentimos no dever de oferecer esses espaços nas nossas convivências. A gente percebe nitidamente a alegria das crianças que até pedem para fazer oração. Elas têm esse sagrado dentro delas que não pode ser apagado nem bloqueado”, pontua.
Dessa forma, para Barreira, os valores católicos não entram em contradição com os valores universais. “A tradição cristã foi base para nossa sociedade moderna da democracia. Muitos dos valores que temos, os direitos humanos, por exemplo, têm uma herança cristã que influencia a maneira da configuração política da nossa sociedade atual”, finaliza.