Por que a matemática ainda é um bicho-papão?

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Jaqueline Brum
doutora em Educação e membro do Grupo de Estudo em Educação Matemática do Espírito Santo (Ufes)

A matemática é vista como bicho-papão por muitos alunos. Quais seriam as possíveis estratégias de ensino da disciplina? Por que o Brasil apresenta baixo índice de desempenho nesta área? Quais seriam as alternativas metodológicas? Como tornar a aprendizagem da matemática mais prazerosa e eficaz?

Vou tentar iniciar este artigo baseando-me na proposta acima. Provavelmente não seguirei a ordem dos questionamentos, até porque a matemática também não é tão exata assim. Desse modo, em primeiro lugar, precisamos desmistificá-la, uma vez que tudo depende do contexto. Um mais um é igual a dois? Imaginem se um copo de pipoca é igual a outro com pipocas empapadas. Isso significa que a coisa não é bem o que parece.

Talvez, por isso mesmo, a matemática seja vista como um bicho-papão, já que a cultura ocidental fez questão de classificá-la como simplesmente exata, esquecendo-se da sua intrínseca e extrínseca complexidade. Acredito que a área de estudo é uma construção social. Digo “acredito” porque as correntes platônicas, formalistas e construtivistas convivem entre si até hoje, e não são excludentes.

Ao seguir esse raciocínio, visto que a matemática não pode ser considerada tão exata, por que os altos índices de reprovação? Aqui faço uma análise às avessas. Por que ela foi territorializada como um componente de exclusão? Podemos deixar de considerá-la altamente classificatória? Acho que não, os números, afinal, possuem certo poder, mas precisamos conhecê-los para não sermos manipulados por eles, e isso ocorre frequentemente.

Como exemplo para identificar o poder dos números, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) compara a Finlândia com o Brasil em termos de “desempenho” educacional, inclusive matemático. Entretanto, lá se investe na formação de professores, e não em um documento apenas prescritivo. Outro ponto a levar em conta é que a BNCC considera a definição de habilidades e competências como se isso fosse suficiente para superar os desafios postos para aprendizagens, o que não é verdade.

Em termos de estratégias e alternativas, acredito na formação continuada de professores, uma vez que, apenas citando o exemplo da educação básica (anos iniciais), os professores que vão atuar na base do conhecimento são “formados” em matemática em apenas dois semestres de 60 horas, quando precisam aprender números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas e tratamento da informação, se considerados os Parâmetros Curriculares Nacionais.

A partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vez de quatro componentes, o professor terá que trabalhar com cinco componentes curriculares, assim que for implementada em todo o território nacional. Ou seja, números, álgebra, geometria, grandezas e medidas, probabilidade e estatística. Fica difícil para o professor formador atender a tamanhas exigências em tão pouco tempo.

Até o quinto ano dos séries iniciais, as crianças, em sua maioria, não consideram a matemática um bicho-papão, isso começa a ocorrer quando seu ensino se torna mais sistematizado e menos contextualizado com a realidade. Para que isso não aconteça, penso que trabalhar com a resolução de problemas, jogos e desafios, tornar nosso aluno o centro do processo de ensino e aprendizagem, motivando-os a querer aprender e a fazer uso da história como componente de sua construção, pode alargar o campo da educação matemática a favor de uma cognição inventiva em detrimento de uma aprendizagem bancária.

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