É comum que as crianças passem mais tempo na escola do que em casa, o que deposita na instituição de ensino uma responsabilidade cada vez maior sobre a formação dos alunos. Isso acontece não apenas com o conhecimento acadêmico, mas também com a construção de valores e até de comportamento.
Diretor-presidente do Colégio UP, Fábio Portela acredita na parceria entre pais e professores para preparar a criança para uma vida harmoniosa. Para isso, os professores precisam considerar a família como parte importante no processo ensino-aprendizagem.
“O papel da escola, além de proporcionar a aquisição do conhecimento, é educar para o convívio com várias pessoas. A escola é responsável pela formação pedagógica do indivíduo. À família cabe o papel de transmitir os valores morais e a ideologia de vida. Valores como generosidade e honestidade, por exemplo, devem ser ensinados pelos pais. E, claro, a ratificação disso vem com a escola”, ressalta.
A parceria impacta até na dinâmica de ensino. “Às vezes temos alunos que não se adaptam às metodologias mais inovadoras, pois estão conectados a uma cultura mais tradicional em casa. Acredito que as escolas devem mesclar uma educação mais tradicional com experiências inovadoras”, comenta Vander Barbato, diretor de Ensino do SEB COC.
A doutora em Educação Cleonara Schwatz lembra que, em algumas situações, os pais acabam deixando algumas atribuições da família a cargo da escola, seja por falta de tempo, seja por acreditarem no papel transformador da instituição. “Vejo cada vez mais uma aposta dos pais na escola, para intervir em determinado comportamento do aluno, corrigir, ajudar a moldar aquele estudante”, comenta.
Na perspectiva da especialista, se há um contexto em que o aluno necessite de intervenção da escola, como em problemas de relacionamento e respeito à diversidade, é papel do professor e da escola ajudar. “A educação engloba intervir para que haja um comportamento mais coletivo em relação a questões sociais e de relacionamento”, pondera.
Educação domiciliar foi rejeitada pelo Supremo
No dia 12 deste mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) descartou a possibilidade de haver ensino domiciliar no Brasil, ou seja, que crianças e adolescentes possam ser educados em casa, sem a necessidade de frequentar a escola. A prática – conhecida pelo nome em inglês, homeschooling – é legalizada em países como França, Portugal e Estados Unidos. No Brasil, a proposta levanta polêmica por não haver mecanismos de controle em relação, por exemplo, a frequência e ao conteúdo lecionado. Organizações ligadas ao ensino, como a Todos Pela Educação, são contrárias à modalidade.
Para muitos especialistas da área educacional, o homeschooling descumpre direitos fundamentais de crianças e jovens. “Ao frequentar apenas espaços controlados pela família, o estudante é privado de uma construção coletiva do conhecimento, que a partir do contato com a diversidade e a pluralidade de ideias, torna-se muito mais rico. É em uma escola regular que atenda a todos os alunos com qualidade que será possível diminuir a desigualdade educacional e, consequentemente, aumentar o desenvolvimento”, afirma o Todos Pela Educação, em seu site.