Faculdades 4.0

Faculdades 4.0

Com a quarta revolução industrial e as novas exigências do mercado de trabalho, as faculdades estão tendo de se reinventar para garantir que seus alunos sejam competitivos antes e depois da formatura. O que se aprende durante a graduação deve estar cada vez mais alinhado ao que os futuros profissionais vão encarar na hora do trabalho. Para isso, as instituições estão modernizando seus cursos e atualizando currículos cada vez mais rapidamente. O foco é aliar teoria e prática.

Nesse ponto, uma das principais tendências nas faculdades, além do uso de tecnologias, são as chamadas metodologias ativas. Elas propõem que o aluno seja protagonista do próprio aprendizado,  vivendo experiências em que coloque a mão na massa e encare problemas reais, tais como os que vai encontrar depois de formado.

Manter o currículo atualizado também é fundamental. Para acompanhar essas transformações, a Universidade Vila Velha (UVV), por exemplo, criou o Núcleo de Inteligência e Inovação do Ensino (Nudite). Esse núcleo estuda o tempo inteiro sobre metodologias ativas e capacita professores para que conheçam as novas tecnologias e as demandas do mercado e utilizem as novas formas de ensino. Por lá, os currículos são atualizados a cada dois anos.

“Vários estudos mostram que o aprendizado se dá quando os alunos colocam a mão na massa. Há um autor que diz que, quando você lê, depois de algumas semanas lembra-se de 10%; quando você escuta, de 20%; quando vê, de 30%; e o máximo de aprendizagem se dá quando você faz uma simulação e um debate e de fato executa algo, além de ter aprendido”, explica Rafael Galvêas, vice-reitor da UVV.

Lidar com os avanços

Coordenadora das unidades de Engenharia e Computação da Faesa, Cláudia Câmara destaca que mais importante do que os avanços tecnológicos é o fato de o estudante saber lidar com eles. “Hoje nossos alunos são desafiados a atuar e a serem engenheiros desde o primeiro dia de aula.”

Esse tipo de atitude, segundo ela, embora pareça simples, exige toda uma mudança do paradigma curricular. “O aluno não vê mais o cálculo pelo cálculo, a matemática pela matemática. Todos os conteúdos são vistos de forma integrada, contextualizada na solução  de problemas de engenharia”, complementa.   

Para Cláudia, sem essa nova formação, o aluno não consegue se posicionar no mercado de trabalho, que está cada vez mais fazendo novas cobranças. “A empresa hoje não quer só um engenheiro que tenha o conhecimento técnico, mas quer alguém que pegue esse conhecimento técnico e consiga transformar e gerar valor para a empresa. Isso é empregabilidade”, comenta.

Ela afirma que a faculdade já incorpora conceitos da Indústria 4.0 no currículo. O aluno é instigado a trabalhar desde a concepção de uma ideia até o produto final, passando por todas as etapas e trabalhando com a mão na massa e em parceria com o mercado na solução de problemas.  Além disso, são interligados conceitos de inteligência artificial na formação de base e no desenvolvimento dos alunos, com inserção de tecnologias em sala de aula.

“O nosso olhar, porém, não é apenas tecnológico, é humano também. Isso porque, cada vez mais, nas engenharias e na computação, os profissionais precisam desenvolver as habilidades comportamentais”, destaca.

Empreender

Outro viés importante é o do empreendedorismo. Na Faesa, ele faz parte de um dos pilares do currículo e não é contemplado apenas em uma única disciplina. Um aluno do curso de jogos digitais, por exemplo, é orientado desde o começo a pensar no produto como algo viável e rentável. Já a UVV possibilita que os estudantes, em vez de entregarem o trabalho de conclusão de curso da maneira tradicional, criem uma startup.  “O aluno já sai daqui com uma visão empreendedora, mas uma visão empreendedora humanizada”, ressalta Rafael Galvêas.

A Universidade Vila Velha também adota disciplinas ligadas às competências comportamentais e ao big data, temas cada vez mais presentes no mercado de trabalho. Os alunos também têm aulas  com colegas de cursos de áreas completamente diferentes para que aprendam a lidar e a interagir com pessoas de diversos perfis.

Da teoria à prática: alunos colocam a mão na massa

O chamado ensino maker, o “aprender fazendo”, também é adotado pelo Centro Universitário Católica de Vitória. Todas as matrizes curriculares foram montadas com base nas principais competências e qualidades que se espera de cada profissional. Desde os primeiros períodos, os alunos têm contato com demandas, problemas e projetos reais e são desafiados a buscar soluções.

“Isso proporciona ao aluno, desde o início dos cursos, contatos com as empresas e com a sociedade, porque trazemos essas situações reais para a academia. Assim ele também já cria um networking, conhece profissionais das empresas e sabe do que elas precisam”, conta a diretora acadêmica da Católica de Vitória, Lis Helena Teixeira Paula .

Um exemplo disso é o que ocorre no curso de Nutrição. Os estudantes identificaram uma comunidade com necessidades nutricionais aparentes e, a partir daí, realizaram visitas e levantamentos e identificaram os principais problemas. Agora, estão elaborando um plano nutricional e capacitando a comunidade para que  fortaleça o comércio local de determinados alimentos aos  quais algumas pessoas não têm acesso.

Parcerias com a comunidade também têm sido adotadas pela Faculdade Doctum em Vitória e na Serra. Segundo a coordenadora de administração Sheyla Passoni, as metodologias ativas são um ponto forte da instituição, que tem procurado cada vez mais propor aos alunos a resolução de problemas e a visão empreendedora desde o primeiro período. As unidades trabalham com empresa júnior e com um recém-inaugurado laboratório de inovação, onde os alunos podem colocar a mão na massa.

“O perfil do nosso aluno é o trabalhador que estuda. Ele chega à sala de aula, especialmente nos cursos noturnos, já cansado. Não dá para a gente continuar com aquela aula tradicional, na qual o professor fala e o aluno é ouvinte. Tivemos que implementar as metodologias ativas nas nossas aulas, porque elas incentivam, são aulas interativas. Os cursos de Psicologia, Educação Física e Enfermagem, por exemplo, desenvolvem ações com a comunidade. Também temos um Núcleo de Práticas Jurídicas que atende a população.”

Alunos da UVV participaram de evento de inovação para entender as novas demandas do mercado de trabalho. | FOTO: UVV/Divulgação

SAIBA: Revolução do ensino

As chamadas metodologias ativas, em que o aluno aprende fazendo, são tendência na maioria das faculdades do Espírito Santo. Veja as transformações em curso:

Renovação de currículos

A UVV tem renovado as grades de seus cursos a cada dois anos para acompanhar as necessidades do mercado. Além disso, criou um departamento especializado em mudanças de currículo e nas mudanças de metodologias de ensino

Interdisciplinaridade

Faesa e UVV trabalham projetos que integram estudantes de vários cursos. Na Faesa, por exemplo, alunos da engenharia são convocados para pensarem soluções para problemas de outras áreas. Na UVV, os estudantes de áreas diferentes têm aulas juntos para aprender a lidar com equipes de perfis diversificados

Big data

O ensino das ciências de dados vem ganhando espaço nas universidades. A UVV, por exemplo está inserindo big data em vários de seus cursos que estão tendo a grade renovada para o ano que vem

Parcerias com o mercado

As universidades estão, cada vez mais, desenvolvendo ações em parceria com empresas que permitam aos alunos terem uma visão do mercado antes mesmo do estágio. Essa iniciativa também permite aos estudantes que construam network ainda antes de começarem a fazer estágio

Parceria com a comunidade

UVV, Faesa, Doctum, Católica e Unesc possuem programas de atendimento à comunidade. Neles, os alunos atendem às necessidades da população de acordo com a sua área de formação

Inteligência emocional

Disciplinas relacionadas a competências soft skills, como inteligência emocional, também têm sido inseridas nas grades das faculdades. As instituições também estão misturando alunos de diversos cursos em aulas comuns para que aprendam a trabalhar com profissionais dos mais diversos perfis

Ensino baseado em soluções

O aluno precisa criar  a solução do problema baseado na teoria. E a partir daí, surgem debates, são feitas moderações e interações com base na proposta

Portal de desafios

A Católica conta com um portal no qual são cadastradas demandas da sociedade ou de empresas. Para cada uma delas, os alunos propõem soluções e têm a chance de executá-las na prática. A grande diferença é que os problemas não são simulados, mas reais

Salas de aulas diferentes

Sai o modelo de uma carteira atrás da outra em que o professor fala, e o aluno ouve. São salas de aula interativas, com aparato tecnológico para que o estudante trabalhe a resolução dos problemas

Incentivo ao uso de tecnologias

Em vez de proibir, faculdades estão estimulando os alunos a usarem os celulares em sala de aula para finalidades educativas, por meio de compartilhamento de vídeos, ou aprendizagem híbrida, parte em casa, parte na sala de aula

Sala de aula invertida

Os alunos estudam um texto e, a partir dele, compartilham experiências, estudam casos

TCC startup

Em vez de o aluno entregar e apresentar um trabalho de conclusão de curso no modelo tradicional de monografia, ele tem a opção de abrir uma empresa (startup) com todas as suas partes, análises e processos. Assim, já sai com tudo pronto para ser empresário

Gamificação

Várias faculdades trabalham com o uso de jogos para o ensino, como a Faesa e o Unesc. Nesta última, são trabalhados especialmente os games voltados para as situações do meio empresarial e os simuladores online

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