2019

Mercado exige novas habilidades no trabalho

A rápida evolução da tecnologia está causando uma série de mudanças na sociedade e na rotina das pessoas. Essas inovações trazidas pelos novos métodos e processos, claro, também abrangem o mercado de trabalho.

Cada vez mais as empresas estão usando novas ferramentas para melhorar o desempenho e garantir mais resultado. É uma mudança que não só atinge  os funcionários ligados à tecnologia, mas também vai até a estrutura das organizações.

Diante desse cenário, o trabalhador precisa se reinventar para se manter competitivo profissionalmente, já que, com as coisas cada vez mais dinâmicas, inúmeras competências e habilidades serão fundamentais para quem quer se destacar.

A subsecretária da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional do Espírito Santo, Solange Batista de Souza, acredita que a principal maneira para se sobressair nesta nova configuração de mercado de trabalho é a busca incansável pelo conhecimento, não parando de se qualificar.

“É preciso acompanhar essas  mudanças em tempo real, para não ficar para trás. E só consegue fazer isso quem está qualificado e atualizado. É muito importante, mesmo para os mais experientes, nunca deixar de lado o aperfeiçoamento. Este é o principal trunfo para se dar bem, nunca parar aprender. Se as transformações não param, o trabalhador também não pode parar”, enfatizou Solange.

A subsecretária destaca também que, além de se preparar melhor, os profissionais precisam estar prontos para se adaptar às novas relações de trabalho, aprimorando ainda as habilidades emocionais.  “O mercado pede cada vez mais trabalhadores que tenham inteligência emocional e consigam desenvolver  habilidades como  capacidade de trabalhar em equipe, adaptação, empatia e principalmente criatividade para propor soluções a problemas ainda não conhecidos.”

Subsecretária de Ciência e Tecnologia, Solange Maria Batista de Souza | FOTO: Rodrigo Gavini

A especialista acrescenta que o Espírito Santo é referência nacional em quesitos que tratam de qualificação para o mercado de trabalho e inovação.

“Hoje nossa maior meta é incentivar uma cultura de promoção do ambiente da inovação e da tecnologia no Espírito Santo,  e para isso já desenvolvemos ações  que certamente nos colocam como um dos Estados que mais pensam em inovação no Brasil”, ressaltou a subsecretária.

Entre essas ações, estão cursos voltados à educação técnica, além de cursos profissionais de curta duração nas modalidades presencial, semipresencial e on-line.

“É  importante, mesmo para os mais experientes, nunca deixar de lado o aperfeiçoamento”

Solange Batista de Souza, subsecretária da Secti

Carreiras aceleram no ritmo da era digital

Os profissionais precisam estar de olho nas mudanças e acompanhar as transformações das suas carreiras. Nessa jornada, a busca pelo conhecimento e o desenvolvimento da chamada inteligência emocional – que agrega questões como responsabilidade, reconhecimento de seus talentos e alcance da felicidade fazendo o que se ama – serão chaves nesse novo momento.

Com o futuro batendo à porta, as profissões já estão em constante mudança. Com foco sobre elas, a Rede Gazeta reuniu profissionais de diversas áreas do mercado e estudantes do Ensino Médio no último dia 17, em Vitória, para discutir as inovações e vocações que devem surgir durante a Arena de Profissões, mediada pelo apresentador Serginho Groisman.

A Arena Profissões, mediada por Serginho Groisman, reuniu profissionais de diversas áreas do mercado e estudantes do Ensino Médio | FOTOS: Rodrigo Gavini

 

Marcello Moraes, diretor de Negócios da Rede Gazeta, aponta que a sociedade vive um momento de transformação e, com isso, o mercado de trabalho, as empresas e o comportamento das pessoas também estão mudando. “Isso fará com que tenhamos diferentes profissões no futuro. Quem entra hoje na faculdade já não sabe como a sua profissão será no final do curso devido à velocidade dessa transformação”, aponta.

Para se manter no mercado, o trabalhador precisa ir além da formação técnica ou da graduação, como aponta a subsecretária da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti), Solange Maria Batista de Souza. “O profissional que não pensar em buscar conhecimento continuamente estará fora do mercado. Ele precisa estar em constante aprendizado para poder melhorar suas aptidões”, afirma.

A psicóloga e especialista em carreiras Gisélia Freitas explica que, com o avanço da tecnologia, surgiu uma nova forma de se pensar em carreira.

“O profissional tem que se reinventar e, ao mesmo tempo, desenvolver a sua inteligência emocional. Criatividade, ideias inovadoras e gestão de conflitos são apenas algumas das coisas que vão tornar esse trabalhador diferente dos demais que estão no mercado”, explica.

“Estar infeliz no trabalho adoece e faz com que o profissional tenha um mau desempenho” – Fernando Marcarini, fisioterapeuta

 

Já o cofundador e diretor de Pessoas e Cultura do PicPay, Dárcio Stehling, lembra que o computador é essencial para todas as atividades que são hoje realizadas. Porém, o material humano, as pessoas, continua sendo indispensável. “Eu vejo a tecnologia ajudando as pessoas a automatizarem atividades chatas e rotineiras. Isso é algo com muito potencial de ser desenvolvido, mas para ajudar as pessoas”, comenta.

Além das transformações tecnológicas que estão modificando as profissões, as pessoas mudaram seu entendimento sobre de quem é o papel de buscar o desenvolvimento do profissional.

“Inovação e gestão de conflitos são só algumas das coisas que vão tornar o trabalhador diferente dos demais” – Gisélia Freitas, psicóloga e especialista em carreiras

“Antes as pessoas pensavam que era o papel das empresas fazer esse profissional  desenvolver-se. Hoje, são os próprios trabalhadores que estão em busca da sua jornada profissional”, aponta o gerente de Gente e Gestão da Suzano, José Alexandre Santos.

“Quem entra hoje na faculdade já não sabe como a sua profissão será no fim

do curso. A transformação é veloz”,

Marcello Moraes, diretor de Negócios da Rede Gazeta

“Vejo a tecnologia ajudando as pessoas a automatizarem atividades chatas e rotineiras” –
Dárcio Stehling, cofundador e diretor de Pessoas e Cultura do PicPay

 

 

“Hoje, são os próprios trabalhadores que estão em busca da sua jornada profissional”
José Alexandre Santos, Gerente de Gente e Gestão da Suzano
Faculdades 4.0

Com a quarta revolução industrial e as novas exigências do mercado de trabalho, as faculdades estão tendo de se reinventar para garantir que seus alunos sejam competitivos antes e depois da formatura. O que se aprende durante a graduação deve estar cada vez mais alinhado ao que os futuros profissionais vão encarar na hora do trabalho. Para isso, as instituições estão modernizando seus cursos e atualizando currículos cada vez mais rapidamente. O foco é aliar teoria e prática.

Nesse ponto, uma das principais tendências nas faculdades, além do uso de tecnologias, são as chamadas metodologias ativas. Elas propõem que o aluno seja protagonista do próprio aprendizado,  vivendo experiências em que coloque a mão na massa e encare problemas reais, tais como os que vai encontrar depois de formado.

Manter o currículo atualizado também é fundamental. Para acompanhar essas transformações, a Universidade Vila Velha (UVV), por exemplo, criou o Núcleo de Inteligência e Inovação do Ensino (Nudite). Esse núcleo estuda o tempo inteiro sobre metodologias ativas e capacita professores para que conheçam as novas tecnologias e as demandas do mercado e utilizem as novas formas de ensino. Por lá, os currículos são atualizados a cada dois anos.

“Vários estudos mostram que o aprendizado se dá quando os alunos colocam a mão na massa. Há um autor que diz que, quando você lê, depois de algumas semanas lembra-se de 10%; quando você escuta, de 20%; quando vê, de 30%; e o máximo de aprendizagem se dá quando você faz uma simulação e um debate e de fato executa algo, além de ter aprendido”, explica Rafael Galvêas, vice-reitor da UVV.

Lidar com os avanços

Coordenadora das unidades de Engenharia e Computação da Faesa, Cláudia Câmara destaca que mais importante do que os avanços tecnológicos é o fato de o estudante saber lidar com eles. “Hoje nossos alunos são desafiados a atuar e a serem engenheiros desde o primeiro dia de aula.”

Esse tipo de atitude, segundo ela, embora pareça simples, exige toda uma mudança do paradigma curricular. “O aluno não vê mais o cálculo pelo cálculo, a matemática pela matemática. Todos os conteúdos são vistos de forma integrada, contextualizada na solução  de problemas de engenharia”, complementa.   

Para Cláudia, sem essa nova formação, o aluno não consegue se posicionar no mercado de trabalho, que está cada vez mais fazendo novas cobranças. “A empresa hoje não quer só um engenheiro que tenha o conhecimento técnico, mas quer alguém que pegue esse conhecimento técnico e consiga transformar e gerar valor para a empresa. Isso é empregabilidade”, comenta.

Ela afirma que a faculdade já incorpora conceitos da Indústria 4.0 no currículo. O aluno é instigado a trabalhar desde a concepção de uma ideia até o produto final, passando por todas as etapas e trabalhando com a mão na massa e em parceria com o mercado na solução de problemas.  Além disso, são interligados conceitos de inteligência artificial na formação de base e no desenvolvimento dos alunos, com inserção de tecnologias em sala de aula.

“O nosso olhar, porém, não é apenas tecnológico, é humano também. Isso porque, cada vez mais, nas engenharias e na computação, os profissionais precisam desenvolver as habilidades comportamentais”, destaca.

Empreender

Outro viés importante é o do empreendedorismo. Na Faesa, ele faz parte de um dos pilares do currículo e não é contemplado apenas em uma única disciplina. Um aluno do curso de jogos digitais, por exemplo, é orientado desde o começo a pensar no produto como algo viável e rentável. Já a UVV possibilita que os estudantes, em vez de entregarem o trabalho de conclusão de curso da maneira tradicional, criem uma startup.  “O aluno já sai daqui com uma visão empreendedora, mas uma visão empreendedora humanizada”, ressalta Rafael Galvêas.

A Universidade Vila Velha também adota disciplinas ligadas às competências comportamentais e ao big data, temas cada vez mais presentes no mercado de trabalho. Os alunos também têm aulas  com colegas de cursos de áreas completamente diferentes para que aprendam a lidar e a interagir com pessoas de diversos perfis.

Da teoria à prática: alunos colocam a mão na massa

O chamado ensino maker, o “aprender fazendo”, também é adotado pelo Centro Universitário Católica de Vitória. Todas as matrizes curriculares foram montadas com base nas principais competências e qualidades que se espera de cada profissional. Desde os primeiros períodos, os alunos têm contato com demandas, problemas e projetos reais e são desafiados a buscar soluções.

“Isso proporciona ao aluno, desde o início dos cursos, contatos com as empresas e com a sociedade, porque trazemos essas situações reais para a academia. Assim ele também já cria um networking, conhece profissionais das empresas e sabe do que elas precisam”, conta a diretora acadêmica da Católica de Vitória, Lis Helena Teixeira Paula .

Um exemplo disso é o que ocorre no curso de Nutrição. Os estudantes identificaram uma comunidade com necessidades nutricionais aparentes e, a partir daí, realizaram visitas e levantamentos e identificaram os principais problemas. Agora, estão elaborando um plano nutricional e capacitando a comunidade para que  fortaleça o comércio local de determinados alimentos aos  quais algumas pessoas não têm acesso.

Parcerias com a comunidade também têm sido adotadas pela Faculdade Doctum em Vitória e na Serra. Segundo a coordenadora de administração Sheyla Passoni, as metodologias ativas são um ponto forte da instituição, que tem procurado cada vez mais propor aos alunos a resolução de problemas e a visão empreendedora desde o primeiro período. As unidades trabalham com empresa júnior e com um recém-inaugurado laboratório de inovação, onde os alunos podem colocar a mão na massa.

“O perfil do nosso aluno é o trabalhador que estuda. Ele chega à sala de aula, especialmente nos cursos noturnos, já cansado. Não dá para a gente continuar com aquela aula tradicional, na qual o professor fala e o aluno é ouvinte. Tivemos que implementar as metodologias ativas nas nossas aulas, porque elas incentivam, são aulas interativas. Os cursos de Psicologia, Educação Física e Enfermagem, por exemplo, desenvolvem ações com a comunidade. Também temos um Núcleo de Práticas Jurídicas que atende a população.”

Alunos da UVV participaram de evento de inovação para entender as novas demandas do mercado de trabalho. | FOTO: UVV/Divulgação

SAIBA: Revolução do ensino

As chamadas metodologias ativas, em que o aluno aprende fazendo, são tendência na maioria das faculdades do Espírito Santo. Veja as transformações em curso:

Renovação de currículos

A UVV tem renovado as grades de seus cursos a cada dois anos para acompanhar as necessidades do mercado. Além disso, criou um departamento especializado em mudanças de currículo e nas mudanças de metodologias de ensino

Interdisciplinaridade

Faesa e UVV trabalham projetos que integram estudantes de vários cursos. Na Faesa, por exemplo, alunos da engenharia são convocados para pensarem soluções para problemas de outras áreas. Na UVV, os estudantes de áreas diferentes têm aulas juntos para aprender a lidar com equipes de perfis diversificados

Big data

O ensino das ciências de dados vem ganhando espaço nas universidades. A UVV, por exemplo está inserindo big data em vários de seus cursos que estão tendo a grade renovada para o ano que vem

Parcerias com o mercado

As universidades estão, cada vez mais, desenvolvendo ações em parceria com empresas que permitam aos alunos terem uma visão do mercado antes mesmo do estágio. Essa iniciativa também permite aos estudantes que construam network ainda antes de começarem a fazer estágio

Parceria com a comunidade

UVV, Faesa, Doctum, Católica e Unesc possuem programas de atendimento à comunidade. Neles, os alunos atendem às necessidades da população de acordo com a sua área de formação

Inteligência emocional

Disciplinas relacionadas a competências soft skills, como inteligência emocional, também têm sido inseridas nas grades das faculdades. As instituições também estão misturando alunos de diversos cursos em aulas comuns para que aprendam a trabalhar com profissionais dos mais diversos perfis

Ensino baseado em soluções

O aluno precisa criar  a solução do problema baseado na teoria. E a partir daí, surgem debates, são feitas moderações e interações com base na proposta

Portal de desafios

A Católica conta com um portal no qual são cadastradas demandas da sociedade ou de empresas. Para cada uma delas, os alunos propõem soluções e têm a chance de executá-las na prática. A grande diferença é que os problemas não são simulados, mas reais

Salas de aulas diferentes

Sai o modelo de uma carteira atrás da outra em que o professor fala, e o aluno ouve. São salas de aula interativas, com aparato tecnológico para que o estudante trabalhe a resolução dos problemas

Incentivo ao uso de tecnologias

Em vez de proibir, faculdades estão estimulando os alunos a usarem os celulares em sala de aula para finalidades educativas, por meio de compartilhamento de vídeos, ou aprendizagem híbrida, parte em casa, parte na sala de aula

Sala de aula invertida

Os alunos estudam um texto e, a partir dele, compartilham experiências, estudam casos

TCC startup

Em vez de o aluno entregar e apresentar um trabalho de conclusão de curso no modelo tradicional de monografia, ele tem a opção de abrir uma empresa (startup) com todas as suas partes, análises e processos. Assim, já sai com tudo pronto para ser empresário

Gamificação

Várias faculdades trabalham com o uso de jogos para o ensino, como a Faesa e o Unesc. Nesta última, são trabalhados especialmente os games voltados para as situações do meio empresarial e os simuladores online

“O jovem não precisa ter medo de errar”

O jovem não precisa ter medo de errar em suas escolhas, mas deve ter ética e amor pelo que faz e pensar sempre em si e nos outros. A afirmação é do apresentador do “Altas Horas” (da TV Globo), Serginho Groisman, que esteve em Vitória para atuar como mediador na Arena de Profissões.

Ele lembra que frequentou três faculdades. Por um ano, dedicou-se ao curso de  Direito. Depois, durante  um ano e meio, estudou   História, mas foi no Jornalismo  que enfim concluiu  a graduação.

“Tive a sorte de ter mais liberdade de escolha. Por     isso, sempre digo aos jovens que não tenham medo de errar. A pior coisa é trabalhar naquilo que não se gosta. Sem prazer, não se chega a lugar algum”, comentou.

Confira a entrevista completa.

O que os jovens querem para suas carreiras e para suas vidas?

Percebo que se abriu muito o leque no mercado de trabalho. Há muitas coisas específicas. Por exemplo, antes a medicina oferecia muitos campos e agora oferece mais. Na área de propaganda e marketing também, fora as coisas ligadas ao digital, que apareceram com muito mais oportunidades. O mercado está muito mais aberto, mas as profissões mais concorridas têm oportunidades um pouco mais restritas. Acho que daqui para a frente o que vai acontecer é que o jovem vai experimentar mais, vai ter menos medo de errar. Antes, as profissões eram para sempre. A pessoa se formava em Engenharia e morria engenheira. Hoje as possibilidades são maiores. Acredito que o que acontece, um pouco, é uma interrogação nos jovens, no que eles querem. O mercado está muito aberto e é competitivo, mas ao mesmo tempo ele oferece opções dentro da faculdade muito grandes. Já conversei com jovens que estavam cursando algumas faculdades e que não sabiam direito o que estavam fazendo.

Os jovens hoje estão mais certos do  que querem ou estão em busca de alguma coisa que os faça felizes?

Não posso dizer por todo mundo, mas a minha orientação é fazer um trabalho que lhe dê prazer, que lhe complete. É importante ressaltar que o trabalho é uma extensão da sua vida e deve ser feito com prazer.

Serginho Groisman, apresentador do “Altas Horas” (da TV Globo) | FOTO: Rodrigo Gavini

A escolha da profissão é algo que se faz muito cedo, por volta de 17 anos. Existe uma fórmula para que essa decisão seja mais assertiva?

Não existe. Eu mesmo fiz três faculdades: Direito e História e acabei como jornalista. Sugiro que o jovem comece a fazer alguma coisa e, se precisar mudar de ideia, ainda há tempo. Acho que uma pessoa com 16, 17 anos sofre muita pressão para escolher o que vai fazer o resto da vida; na verdade não é nada disso. Essas mudanças também são muito importantes. É preciso se permitir a ter experiências diferenciadas. Todo o conhecimento adquirido vai acompanhá-lo a vida toda.

“A pior coisa é trabalhar sem gostar. Sem prazer no que se faz, não se consegue nada”

Com a crise, muitos jovens ficaram desempregados. Essa situação permitiu que eles se reinventassem?

Acho que eles estão testando mais, mas têm um pouco de frustração nisso. Isso porque vivemos em um momento em que as vagas de trabalho estão menores. Entretanto, quando está no começo da carreira, você batalha, você procura, se reinventa, procura maneiras de mostrar o seu talento, e uma hora as coisas acontecem. Quem quer se destacar  no mercado precisa ter vocação, talento e paciência.

Sobre o comportamento nas empresas, os jovens entendem que precisam cumprir hierarquia e  metas ou estão meio    soltos?

Eu acho que cabe à família e à escola darem esse entendimento de que hoje uma empresa não quer só uma pessoa que tenha talento e qualificação. É preciso ter aspecto de liderança, saber se comportar em uma companhia e não ser subjulgado, tendo iniciativa. Hoje, esse comportamento é muito importante dentro de uma empresa. É valorizado quem tem ética e amor pelo que faz e pensamento em si e nos outros.

As faculdades contam agora com a disciplina de Empreendedorismo. Você acredita que os jovens estão empreendendo mais?

Se você for perguntar, todo mundo quer ser dono do próprio negócio. Empreendedorismo tende a ser um caminho profissional, mas não é fácil, não é para todo mundo. No entanto, quem consegue empreender tem uma satisfação muito grande porque passa a ser dono do próprio negócio, a empregar gente e  a fazer aquilo que realmente gosta. Os jovens precisam entender que o mercado de trabalho também é feito de outras parcelas e outras contribuições, mas o empreendedorismo é bastante forte entre eles hoje em dia. O mercado precisa de ideias diferenciadas.

Como você tem visto o mercado de startups?

É um mercado que está bastante em alta, um modelo que exige muita criatividade. Acho que todo mundo quer ser realmente protagonista do seu próprio destino, de seu trabalho, e as startups fazem parte desse caminho; fazem com que isso tudo aconteça.

Qual a dica para quem está escolhendo a profissão?

A minha dica é: não tenha medo de errar. Se errar, pode refazer. A pior coisa é trabalhar sem gostar. Acredito que, sem prazer no que  se faz, não se consegue nada.

“Quem quer se destacar  no mercado precisa ter vocação, talento e paciência”

Linguagem de programação é o novo idioma

O conhecimento em outros idiomas, principalmente o inglês, é considerado um diferencial no mercado de trabalho. Uma pesquisa do site de empregos Catho mostrou que quem sabe falar a língua tem salário até 70% maior em relação a quem não tem esse domínio. Mas uma outra “linguagem” pode ocupar esse lugar e até mesmo virar requisito em futuros processos seletivos. E não é nenhum idioma; trata-se da linguagem de programação.

Mas, afinal,  o que é essa linguagem de programação? O professor dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação da Universidade Vila Velha (UVV), Denis Rodrigues da Silva, define resumidamente como dizer a um computador o que ele deve fazer.

“A linguagem de programação é basicamente se comunicar com o computador. Para definir melhor, eu até faço uma comparação com a comunicação entre as pessoas e as atividades diárias, já que você emite uma mensagem e precisa que seu receptor  entenda-a e responda ao comando das várias atividades na sua rotina. A programação é um conjunto de regras que precisam ser seguidas para que os programas funcionem corretamente”, explica o especialista.

Mas por que essa atividade, que parece complexa ou uma coisa restrita aos profissionais de Tecnologia da Informação, está se tornando um diferencial para qualquer pessoa e vai ser cada vez mais importante no mercado de trabalho?

O professor afirma que isso tem relação direta com o avanço tecnológico e o aumento do uso de dispositivos que estão forçando mais pessoas a dominar a linguagem de programação para conseguir desempenhar as funções no trabalho.

“As mudanças provocadas pela tecnologia levam a novas formas de se produzir no mercado de uma maneira geral e em diversos segmentos. A tendência é que esses processos sejam acelerados e, no futuro, estejam presentes em qualquer profissão. A relação com softwares e dispositivos eletrônicos dará ao profissional um ganho de produtividade e eficiência e, para saber lidar com isso, qualquer um vai precisar trabalhar com programação, pelo menos os conceitos mais básicos”, enfatiza o professor.

Apesar de considerar que dominar a linguagem de programação vai ser uma competência importante para qualquer profissional, o professor afirma que algumas carreiras vão exigir mais esse tipo de conhecimento. Entre elas, ele destaca a indústria de entretenimento,  varejo, transporte urbano, comunicação e saúde.

FOTO: Pixabay

Desenvolver habilidades relacionadas à programação também pode agregar outros benefícios para o profissional de qualquer área no entendimento do especialista. “Saber programar desenvolve uma série de habilidades que vão além da atividade em si. A principal delas é o raciocínio lógico. Além disso, a programação ajuda a ampliar conceitos que são fundamentais para a resolução de problemas e a tomada de decisões no ambiente profissional,  isso pode ser aplicado em qualquer área”, conta o professor.

Como aprender a programar?

Para quem não é da área de Tecnologia da Informação, mas  quer aprender a programar, o professor Denis Rodrigues da Silva sugere que comece vendo vídeos e artigos gratuitos na internet sobre o tema e depois procure por treinamentos específicos.  Assim como os diferentes idiomas do mundo, existem várias linguagens de programação atualmente, e, para os iniciantes, o professor afirma que a linguagem Python é a mais indicada, pela simplicidade de se operar com ela e por ser uma das mais usadas, inclusive em grandes empresas. Além dessa, outras linguagens populares são Java, Javascript e PHP.

“As mudanças provocadas pela tecnologia levam a novas formas de se produzir no mercado”

Denis Rodrigues da Silva, Professor  de Ciência  da Computação e Sistemas

de Informação da UVV

Os Tinders do emprego

Há alguns anos, buscar um novo emprego era uma missão demorada e desgastante. O profissional precisava imprimir seu currículo, bater de porta em porta e ainda descobrir se a vaga se encaixava ao seu perfil. Porém, novos recursos tecnológicos estão deixando essa tarefa mais fácil.

Vários aplicativos de celular, redes sociais ou sites especializados  disponibilizam vagas de trabalho em diversas áreas do mercado. Por meio deles, o trabalhador pode se cadastrar e fazer contato com as empresas. Os empregadores também são beneficiados com esse método, já que conseguem atrair mais interessados e ainda economizar com os processos de recrutamento.

Algumas dessas plataformas já são mais conhecidas, como o site Vagas.com, criado em 1999 e  pioneiro nesse tipo de serviço no Brasil, ou a rede social profissional LinkedIn, que conta com 45 milhões de usuários brasileiros.

Existem também tecnologias mais recentes, tais como a Switch, que começou a operar recentemente na Grande Vitória e promete benefícios para o trabalhador temporário e também para o empregador do ramo de alimentação.

“Trabalhei no mercado de alimentação durante alguns anos. Nesse tempo, percebi a dificuldade dos trabalhadores de achar de maneira rápida as oportunidades disponíveis e também dos empresários de encontrar os melhores profissionais para suas empresas. Aí veio a ideia de utilizar a tecnologia para resolver essa questão, e criei a Switch, uma plataforma que, por meio de vários filtros e parâmetros, conecta quem quer trabalhar com a melhor vaga para o seu perfil”, explica Robson Vesper, criador do aplicativo.

Outro sistema que pode ajudar os capixabas que estão em busca de emprego é o TrabalhaVix, criado pela Prefeitura de Vitória. No site, é possível pesquisar a relação de vagas por função, a quantidade ofertada, a experiência exigida e as informações sobre o cargo pretendido, inclusive para pessoas com deficiência. Além das chances do Sine de Vitória, a ferramenta possibilita consultar as oportunidades disponíveis nas agências de emprego da Grande Vitória.

O recurso permite, ainda, ver a oferta de emprego por meio do sistema e se inscrever no “Alerta de Vagas”, que envia notificações ao e-mail cadastrado sobre oportunidades que se encaixem em seu perfil.

De acordo com dados do TrabalhaVix, entre janeiro e 23 de setembro de 2019, o site  ofereceu 4.187 vagas de emprego.

O governo federal também tem seu aplicativo para auxiliar na busca por emprego. No Sine Fácil,  o trabalhador encontra vagas de emprego disponibilizadas na rede Sine de todo o Brasil, candidata-se e agenda entrevistas com empregadores. A ferramenta está disponível na loja de aplicativos dos smartphones.

FOTOS: Pixabay

FRASE DESTAQUE

“Percebi a dificuldade dos trabalhadores  de acharem de maneira rápida oportunidades disponíveis”

Robson Vesper, criador do aplicativo Switch

SAIBA: Conexão trabalho

Conheça alguns aplicativos  e sites para conseguir emprego mais rapidamente

LinkedIn

Além de servir como rede profissional, o LinkedIn pode ser usado para procurar emprego

Vagas.com

As funcionalidades do Vagas.com incluem a busca por emprego, alerta de vagas por e-mail e cadastro de currículo. A plataforma conta com mais de 3 mil empresas cadastradas

Catho

Na plataforma, é possível cadastrar seu currículo, pesquisar por vagas de empregos de acordo com seu perfil e seus desejos, marcar como favoritas determinadas vagas e receber alertas de emprego no e-mail

TrabalhaVix

O site notifica os usuários com alerta de vagas e foi criado pela Prefeitura de Vitória, mas pode ser usado por todos os moradores da Região Metropolitana

SineFácil

É um aplicativo desenvolvido pelo governo federal onde o candidato pode conferir as oportunidades disponíveis, conforme o endereço cadastrado

Switch   

Atuando no mercado capixaba,  a Switch é uma plataforma que, por meio de vários filtros e parâmetros,  oferece empregos temporários  no ramo de alimentação

Quem tem diploma ganha mais que o dobro

O mercado de trabalho busca profissionais cada vez mais qualificados e com boa formação. Por isso, o diploma de graduação pode fazer com que o salário do profissional mais do que duplique.

De acordo com dados da Síntese de Indicadores Sociais 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o ano passado, quem tinha diploma de ensino superior recebeu, em média, R$ 4,8 mil por mês. Já as pessoas que concluíram apenas o ensino médio ganharam R$ 1,7 mil.

Para se ter uma ideia da importância da graduação no país, enquanto uma pessoa com o diploma universitário ganha 1,6 vezes mais do que alguém com ensino médio em 46 países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil, um trabalhador com diploma recebe, em média, 2,5 vezes a mais do que quem não tem graduação.

Além de melhorar o salário, ter um curso superior também aumenta a empregabilidade do trabalhador. A gerente de Recursos Humanos da Faculdade Multivix, Lícia Boechat Assbu Janones, observa que o mercado de trabalho nunca esteve tão competitivo para os profissionais.

“Hoje temos uma concorrência no mercado de trabalho muito grande e, parte disso, é devido ao alto índice de desemprego. Com qualificação, o profissional já passa na frente”, comenta.

Lícia ainda aponta que a especialização também faz com que o profissional amplie sua capacidade de tomar decisões. De acordo com a especialista, a graduação em uma determinada área faz com que o trabalhador passe a analisar as situações com mais cuidado e, por isso, tome decisões mais racionais.

FOTO: Pixabay

Desafio

Para Lívia Ferrari Heringer Frugulhetti, chefe da Divisão de Gestão de Pessoas e coordenadora do Núcleo de Inteligência e Inovação do Ensino e do MBA em Gestão de Pessoas da UVV, o cenário atual do Brasil é desafiador. Segundo a especialista, as carreiras hoje já não são lineares.

“Estamos vivendo em um mundo em transição, ou melhor, em constante transformação, com uma evolução exponencial da tecnologia. Nós já não temos controle sobre diversas variáveis e estar preparados para as oportunidades requer conhecimentos, habilidades e atitudes que, a universidade em sua gama de opções de graduação, extensão e pós-graduação proporcionam”, analisa Lívia.

Ela também aponta que o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais impulsionam o profissional para se destacar no mercado de trabalho.

“Novas habilidades surgem, e as empresas esperam que o profissional invista para adquiri-las, como é o caso das novas interações entre pessoas e máquinas. O impacto da inteligência artificial já é muito grande, não só nos negócios, mas nas profissões, carreiras e na sociedade.”

Diante de uma imensidão de inovações que afetam ambientes educacionais e organizacionais, a inteligência artificial, os robôs, a nanotecnologia e o blockchain estão revolucionando o mercado de trabalho e a demanda por profissionais. Com isso, apontam os especialistas, novas oportunidades estão sendo geradas, mas somente quem estiver preparado vai conseguir aproveitá-las.

“Quem aprende e se adapta rapidamente às novas soluções  sairá na frente. É claro que os profissionais mais bem qualificados, com competências comportamentais bem desenvolvidas, se destacam e possuem mais chances”, afirma Lívia.

Além de ter diploma de  curso superior, para crescer na carreira e multiplicar o salário, é importante investir no aperfeiçoamento profissional e traçar prioridades.

Lívia destaca  que é preciso investir na formação continuada. Além da graduação, o profissional ganha pontos ao fazer pós-graduação ou especialização, mestrado, doutorado e cursos para ter visão holística e perfil multidisciplinar.

“Aprender, aprender e aprender. Além disso, trabalhe duro, faça network, seja positivo e otimista, planeje e execute, seja empreendedor, trace prioridades e sobretudo, invista e acredite em você”, aconselha.

Além disso, o trabalhador também precisa se manter atualizado com o mercado e com o que acontece no país. Desta forma,  pode ampliar sua visão de mundo, melhorar a forma de se comunicar, além de dominar as qualificações da sua profissão.

Meditação para ajudar a crescer na carreira

Tão importantes quanto o conhecimento técnico, as habilidades comportamentais têm sido cada vez mais valorizadas pelas empresas, motivando contratações e até promoções para os profissionais. Mas se em algumas pessoas o controle emocional se manifesta de forma natural, em outras pode ser desenvolvido com a ajuda de cursos e até de meditação.

Autora de uma pesquisa sobre as competências necessárias para que profissionais mantenham seus empregos e se destaquem, a mestre em Gestão de Pessoas e Inovação Marinete Francischetto explica que o autocontrole é o aspecto emocional mais procurado.

“A habilidade mais requerida é o autocontrole emocional, justamente porque estamos vivendo em um mundo em constante evolução. O século XXI é globalizado, dinâmico e competitivo. A cada instante, temos inovações em processos e produtos, além de um volume de informações imensurável. O profissional tem que se adaptar a essas novidades e, ao mesmo tempo, ter a capacidade de julgar o que é e o que não é importante. O que vai fazer a diferença entre dois profissionais com o mesmo conhecimento técnico são as competências comportamentais, como a capacidade de manter o controle diante de tantas transformações”, avalia a professora e coordenadora do curso de Gestão de Recursos Humanos da Universidade Vila Velha (UVV) na modalidade a distância.

Marinete também destaca que em grandes empresas, como o Google, as habilidades comportamentais (soft skills) já são o principal fator para contratação e que, por conta dessa demanda, a formação profissional está passando por mudanças.

Já a psicóloga e especialista em Gestão de Pessoas e Carreira Gisélia Freitas acrescenta que os profissionais também devem estar atentos a outra competência, a organizacional, que varia de acordo com a cultura de cada empresa, com as regionalidades, entre outros aspectos.

A psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia do Unesc, Daiana Sturza de Queiroz, ressalta a importância do autoconhecimento na condução de uma carreira de sucesso.

“É importante entender quais são próprios objetivos, o que dá sentido à vida e o que compõe o projeto de vida. O autoconhecimento possibilita saber pontos fortes e fracos para buscar fortalecer as melhores características e aprimorar as que não são boas”, salienta a professora.

Daiana  destaca que uma habilidade pouco falada, mas  muito  importante é a “atenção plena” (mindfullness). Trata-se da capacidade de permanecer focado no momento presente e não se dispersar. A prática pode ser desenvolvida, por meio de exercícios que incluem meditações e treinos de respiração.

Habilidades

Leitura, participação em eventos, trabalhos voluntários e formação constante ajudam a trabalhar as habilidades comportamentais. Mas a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) seccional Espírito Santo, Kátia Vasconcellos, reforça que as soft skills (habilidades subjetivas) são desenvolvidas principalmente com exercícios práticos, já que não há uma fórmula pronta que pode ser aprendida em um banco de universidade ou em laboratório. É na pressão do dia a dia do mercado de trabalho que essas características vão ser testadas e desenvolvidas.

“Quanto mais a pessoa se coloca em posição de aprendizagem, melhor. Essas habilidades não são desenvolvidas só no ambiente de trabalho, são aprendidas também na vida e servem para a vida. Quanto mais oportunidades de experimentar, maiores as chances de se desenvolver. É na prática que aprendemos a ser melhores ouvintes e a nos colocar na perspectiva do outro”, observa Kátia.

Segundo relatório publicado no início deste ano pelo Fórum Econômico Mundial, até 2020, 35% das habilidades exigidas para a maioria das profissões devem mudar para dar espaço às habilidades comportamentais. Com o avanço da Quarta Revolução Industrial, estarão em foco as capacidades que diferem os seres humanos da inteligência artificial, e as transformações já começaram.

Kátia observa que os requisitos requeridos dos profissionais hoje são diferentes do que era exigido  há alguns anos. “Em um passado não muito distante, era exigida a hard skills – a competência técnica, o conhecimento, a habilidade, aquilo do núcleo duro da formação. Isso sempre foi um diferencial muito grande, e as pessoas se esforçaram muito por isso. Não deixou de ser importante, mas, agora, cada vez mais se fala nas soft skills, que não são competências técnicas, mas comportamentais. Em um ambiente cada vez mais tecnológico, é a qualidade do humano que mais vai fazer a diferença”, destaca Kátia

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FRASES DESTAQUE

“No  mundo em  evolução, a habilidade mais requerida  é o autocontrole”

Marinete Francischetto, coordenadora do curso de Gestão de Recursos Humanos da UVV

“É importante conhecer os   pontos fortes e fracos” 

Daiana Sturza de Queiroz, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia do Unesc

SAIBA: Habilidades  exigidas pelas empresas

Comportamento afeta a carreira dos profissionais

Resolução de problemas

Essa é a habilidade mais exigida pelo mercado, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial. Estima-se que 36% dos postos de trabalho vão exigir que o profissional saiba resolver problemas complexos

Pensamento crítico

Saber usar a lógica e a racionalização para descobrir pontos fracos e fortes na resolução de problemas é a definição do pensamento crítico, habilidade que é a segunda mais cobrada, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial

Autoconhecimento

O profissional que se conhece e sabe detectar seus objetivos, desejos e potencialidades consegue ver sentido na vida e na carreira. O autoconhecimento também possibilita reconhecer pontos fortes e fracos para fortalecer características boas e aprimorar outras, contribuindo para a própria carreira e para a empresa que trabalha

Resiliência

É um conceito da física que trata da capacidade que um material tem de se deformar, mas permanecer íntegro. Também é a capacidade de se adaptar a adversidades na rotina profissional e, a partir delas, transformar-se, ampliando oportunidades

Gestão de conflitos

O profissional não pode ter medo do conflito, e sim deve buscar resolvê-lo. Divergências de opinião são comuns e até saudáveis. Com criatividade, é possível gerir conflitos e fazer disso um diferencial estratégico

Negociação

A vida é uma constante negociação, com os chefes, colegas e consigo mesmo. Assim como a gestão de conflitos, essa habilidade tem sido muito procurada pelo mercado de trabalho. Quem é capaz de fazer negociações em que ambas as partes fiquem satisfeitas ganha pontos

Inteligência emocional

Conhecer e gerenciar as próprias emoções auxilia no desenvolvimento da carreira e também no relacionamento interpessoal, seja trabalhando em equipe, seja sozinho

Criatividade e inovação

Profissionais criativos saem na frente, já que empresas procuram quem sabe inovar e se reinventar. Esse é um diferencial competitivo, uma vez que a inteligência artificial consegue executar tarefas, mas não é capaz de ter ideias

Relacionamento interpessoal

Uma das habilidades mais requisitadas para o futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial, é a “inclinação para o servir”, que consiste na capacidade de ajudar as outras pessoas. Por isso, o relacionamento interpessoal é tão importante, enquanto que problemas de relacionamento podem resultar até em demissão

Comunicação

Além de saber se relacionar com os outros, a habilidade de comunicação  conta pontos para o sucesso na carreira. Quem quer ser promovido e ter visibilidade na carreira tem que ter uma boa habilidade de comunicação

Preparação para um futuro promissor

Como nasce um profissional do futuro? Ele deve estar aí, na sua casa, brincando, assistindo a um desenho animado na TV ou talvez até provando que domina o celular melhor que você. É essa galerinha que vai ocupar os postos de trabalho na Indústria 4.0; alguns, talvez, em profissões que nem imaginamos que irão existir. E a preparação para isso começa nas escolas e até mesmo nas creches.

Inglês, robótica, empreendedorismo e, principalmente, colocar a mão na massa – o chamado ensino  maker – são alguns dos principais ingredientes da educação 4.0, que já é uma realidade em algumas das principais escolas da rede particular do Estado.

A palavra de ordem é tornar os alunos protagonistas do próprio aprendizado, adotando um modelo diferente do que estamos acostumados a ver nas escolas, no qual o professor fala e os alunos só ouvem. Assim como no ensino superior, as chamadas metodologias ativas ganham força.

A ideia é promover nos estudantes o desenvolvimento das competências soft skills, como pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade. Por outro lado, há também o entendimento de que uma geração que já nasceu lidando com as telas e tecnologias dificilmente será atraída pelo modelo tradicional de ensino.

“Nosso mundo passa por uma grande transformação digital, também chamada de Indústria 4.0 ou Quarta Revolução Industrial, que conecta o mundo digital ao mundo real. Para as empresas, essa revolução traz mais produtividade e flexibilidade, mas também um desafio enorme para as gerações que estão e as que irão ingressar no mercado de trabalho.

Quando falamos de pessoas, é importante ter cuidado com o processo de formação delas, o que cria um grande desafio para as instituições de ensino daqui por diante”, explica Mateus Freitas, superintendente do Sesi-ES, que em sua rede de escolas abarca diversas metodologias voltadas para essa formação do futuro profissional.

A robótica é uma das aliadas nesse processo. Escolas como o Sesi, o Colégio Brasileiro de Excelência (Cobe) e o Salesiano trabalham a disciplina em diferentes etapas do currículo. O objetivo é fazer com que os estudantes desenvolvam raciocínio lógico, criatividade, trabalho em equipe e um pensamento voltado para resolver problemas complexos, além de lidar com uma ferramenta que deve estar cada vez mais presente no futuro. Na Rede Sesi, a partir de 2020, a robótica deve ser ensinada aos alunos desde o 3º ano do Ensino Fundamental em um projeto piloto. Atualmente, a disciplina está presente desde o 5º ano. Já no Salesiano, ela é trabalhada principalmente com os alunos do ensino integral.

“Essa parte tem uma pegada muito importante, que é a de raciocínio lógico, de trabalhar na mente do aluno que é possível modificar, inovar, acreditar em algo novo. Isso tudo vai ajudá-lo em uma decisão futura, naquilo que ele quer ser, porque, a partir desse aprendizado, o estudante vai desenvolver um raciocínio crítico”, explica a supervisora pedagógica do 1º ao 5º ano do ensino fundamental I do Salesiano de Jardim Camburi,  Gyselle Massini.

A escola também incentiva os alunos a refletir sobre as profissões que conhecem, com a ajuda dos próprios familiares, conhecendo o que fazem e qual a importância daquele trabalho para a sociedade. “Além disso, temos a consciência de que os alunos precisam estar preparados para outras profissões que existirão no futuro, tendo raciocínio lógico apurado e curiosidade aguçada e colocando realmente a mão na massa”, completa.

No Colégio Brasileiro de Excelência (Cobe), além de robótica, as  metodologias ativas estão presentes desde a Educação Infantil, envolvendo ainda cenários e ambientes diferentes de aulas, de acordo com o diretor Fernando Cobe. “Estive recentemente no Canadá e vi que a diferença na educação do primeiro mundo é que lá os alunos são protagonistas no aprendizado. Eles usam as metodologias ativas; é isso que estamos trazendo para cá”, revela.

Uma novidade que o colégio está importando do exterior são as aulas de Steam (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics ou Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) para o Ensino Médio, muito difundidas nos EUA e no Canadá.

“Vamos trazer para os alunos conceitos desse mundo digital, das tecnologias, inteligência emocional, design thinking, tecnologia 4.0 e  marketing digital. É um conteúdo totalmente inovador. Os estudantes vão trabalhar sempre ativos. Isso vai dar uma grande contribuição para o desenvolvimento de habilidades e formação para a vida e para o Enem”, explica Cobe.

Ele destaca que os alunos terão a oportunidade de se envolver em cenários práticos com empresas parceiras. Além disso, vão trabalhar conceitos de política dentro do Steam, o que é uma exclusividade da escola. Segundo o diretor, desde o 6º ano, os alunos já vão se envolver com aplicativos e  robótica desde a Educação Infantil.

O uso de games nas aulas também é uma estratégia crescente. No Sesi, um dos destaques é um jogo que prepara para o mercado de trabalho, o “Lean Game”. Por meio dele, os estudantes conhecem o ambiente empresarial e são instigados a pensá-lo de uma forma sustentável e a buscar respostas para questões que vão enfrentar no futuro.

No Cobe, os alunos têm aulas de robótica. Escola está trazendo conceitos do Canadá para a grade curricular. | FOTO: Cobe/Divulgação

Empreendedorismo

Uma das características muito importantes para os profissionais do futuro é a capacidade de empreender, o que está fazendo as escolas inserirem disciplinas ou conceitos de empreendedorismo ao longo da formação dos alunos. Na Rede Sesi, os estudantes têm essas aulas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Nelas,  precisam criar “negócios” diferenciados. O intuito é desenvolver a responsabilidade com questões financeiras e a capacidade de idealizar e coordenar projetos.  No Salesiano, o tema também é trabalhado desde o primeiro ano. Os professores motivam os alunos a entenderem o que é preciso para realizar seus sonhos e a terem ideias de aplicar o que já se tem.

A escola também conta com a disciplina de Educação Financeira. Os alunos são treinados desde os primeiros anos do Ensino Fundamental para administrar o dinheiro  e perceber a importância do bom uso, assim como do trabalho. “Já é uma projeção daquilo que ele pretende ser e como se comportar no futuro como profissional. Nossos alunos começam a poupar e a ter noção do que é preciso, do que é necessidade, do que é desejo. Algo que também é extremamente importante para o futuro profissional deles”, ressalta Gyselle Massini.

Estudantes colocam em prática o aprendizado

Uma educação em que os alunos colocam a mão na massa para aprender e, mais que isso, produzir algo concreto. Em espaço próprio, eles criam soluções e produtos com base em desafios apontados pelos professores ou em necessidades diárias da sociedade e das escolas. Esse é o ensino maker, o novo queridinho das escolas dentro das metodologias ativas. Nesses espaços de criação, as ferramentas não são só lápis, papel, caneta e computador, mas podem também incluir de martelo, pregos e furadeira a impressoras 3D.

“No nosso novo Ensino Médio, os alunos vão ter seus escritórios. Vão ser divididos em grupos, e cada um deles  terá o seu, com computador, quadro, painel. Ali vai desenvolver os seus projetos. Quando precisar de algo prático,  vai para a sala maker, onde terá as ferramentas para desenvolvê-lo.  Além disso, laboratórios de informática e ciências estarão à disposição”, comenta Fernando Cobe, ao falar sobre as novidades para 2020.

Toda a metodologia maker é baseada no design thinking, uma ferramenta que permite resolver problemas, realizar projetos e desenvolver produtos a partir do processo cognitivo. No Sesi, os alunos trabalham utilizando, por exemplo, peças de Lego ou elementos da robótica. Cada unidade no Estado conta com um espaço desse tipo.

“Essa forma de ensino disruptivo adotada pelo Sesi ajuda na transmissão e na formação das chamadas soft skills, já tão cobradas dos profissionais pelas empresas. São habilidades que vão além do conhecimento técnico, como capacidade de autoaprendizado, pensamento criativo, colaboratividade e gestão do tempo, entre outras”, comenta Mateus Freitas.

A cultura maker está presente no Salesiano desde os primeiros anos. Os alunos são instigados a construírem coisas a partir da teoria que veem na sala de aula, por exemplo: como se faz um vulcão. Com a mão na massa, eles percebem como tudo funciona.  Os próprios laboratórios têm essa cultura maker no seu DNA.

“Mais importante que uma sala maker específica é termos os espaços já existentes usuais para o maker. Temos o laboratório de ciências e de matemática e a  sala de tecnologia. E até mesmo as próprias salas de aula podem ser transformadas em mão na massa. É algo que aqui perpassa todos os ambientes da escola”, comenta Gyselle.

Preocupação com o currículo domina as instituições de ensino

Além do domínio da tecnologia  e do desenvolvimento de novas habilidades, outro quesito que tem ganhado importância no mercado de trabalho é a fluência em inglês. Com isso, muitos pais têm procurado e as escolas, oferecido, modelos de ensino bilíngues, nos quais, além de português, as crianças  aprendam desde cedo um segundo idioma. Até 2019, o Salesiano tinha duas aulas de inglês semanais do 1º ao 5º ano. A partir de 2020, a escola passará a adotar o programa bilíngue, tendo em vista que o inglês já não pode ser considerado mais um artigo de luxo, independentemente da profissão que o aluno vá escolher. Mesmo nas aulas lecionadas atualmente, a preocupação é mostrar sempre a parte prática do idioma.

“Em inglês,  ensinamos a escrita, mas transmitimos também a clareza de onde aquilo é aplicado, como o aluno se comunica. Daí promovemos várias atividades para mostrar essa aplicação: por exemplo, fazer um bolo, mas falando apenas em inglês, colocar em prática o que se está estudando”, comenta Gyselle.

O Sesi, por sua vez, já oferece aos alunos um programa de ensino bilíngue, com carga horária da disciplina três vezes superior à tradicional. A escola defende que esse tipo de ensino ajuda a aumentar a bagagem cultural dos estudantes, desenvolver habilidades de escuta e sensibilidade a linguagens, além de aumentar a memória e a capacidade de executar múltiplas tarefas.

Salário maior com mestrado e doutorado

Cursos de mestrado e doutorado costumam ser alvo de  profissionais que pretendem seguir carreira acadêmica ou se tornarem pesquisadores. Porém, em um mercado que passa por profundas transformações e está cada vez mais competitivo, essas qualificações se tornam um diferencial capaz de aumentar o salário e abrir novas oportunidades, mesmo longe das salas de aula.

“A gente observou, nos últimos anos, um aumento muito grande no número de pessoas com diploma de ensino superior no Brasil, isso é uma ótima notícia. Mas, por outro lado, também amplia a necessidade de profissionais que ultrapassem esse nível de qualificação. Para além das universidades, o mercado precisa muito de mestres e doutores que saibam atuar com protagonismo em um momento de transformação e inovação do setor produtivo.”

A avaliação é do diretor de Pós-Graduação da Universidade Vila Velha (UVV), Alessandro Coutinho Ramos.

Na visão dele, as empresas precisam cada vez mais de novas  fórmulas de execução de suas atividades, mais eficientes e menos desgastantes para se manterem saudáveis e competitivas no mercado. Nesse sentido, os bons cursos de mestrado e doutorado frequentemente trazem novidades, sejam elas conceituais ou tecnológicas. E o profissional que tiver esses conhecimentos se destaca em relação aos demais. Esse acesso mais rápido e facilitado às tecnologias é uma das vantagens de frequentar um mestrado ou doutorado.

O especialista afirma ainda que, principalmente, as grandes organizações precisam desses profissionais mais qualificados e mais bem preparados para lidar com grandes desafios e responsabilidades,  e as áreas de atuação são as mais diversas possíveis.

“Saúde, tecnologia, agricultura, construção civil, comunicação, negócios e economia são alguns segmentos que vão precisar cada vez mais de profissionais mais bem qualificados, com mestrado e doutorado. O interessante é que são áreas diferentes, mas se igualam quando a gente observa que são setores que estão passando por amplas transformações. E o mercado quer os melhores profissionais para conduzir essas mudanças com excelência, aplicando os conceitos de um mestrado e doutorado na rotina de trabalho”, destaca Ramos.

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O professor afirma que o profissional que passa por um curso de mestrado ou doutorado desenvolve, de maneira natural, fortes habilidades analíticas, de embasamento científico e de mediação de conflitos, além de conseguir trabalhar melhor em ambientes de tensão. Essas são  aptidões extremamente buscadas para os cargos de comando nas grande empresas.

Estar  cursando mestrado ou doutorado já é um dos requisitos para participar de algumas seleções de emprego. Além disso, esse tipo de qualificação tem impacto positivo no salário.

Segundo dados do estudo Mestre e Doutores, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o profissional com diploma de mestrado ganha, em média, quatro vezes mais que os demais trabalhadores no Brasil. Já para os profissionais com doutorado, o valor pode aumentar até seis vezes. Um mestre ganha em média, por mês, R$ 9.719; para os doutores, o salário médio é de

R$ 13.861, enquanto  a média salarial nacional dos trabalhadores só com graduação  é de R$ 2.449.

De acordo com um levantamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação, o  Brasil tem cerca de 122 mil estudantes de pós-graduação, sendo 80 mil de mestrado e 42 mil de doutorado. Porém, esses números no país ainda estão abaixo da média internacional.

Um dos motivos para essa diferença entre o Brasil e outras nações é justamente a ideia de que os  cursos de mestrado e doutorado são voltados apenas para atuação acadêmica ou em pesquisas.

“É preciso buscar alternativas para este problema do baixo número de mestres e doutores. As indústrias, empresas e órgãos públicos devem pensar ainda mais em estratégias para absorver esses profissionais altamente qualificados. Aliás, hoje é preciso estabelecer como firme propósito de transformar e reconhecer a pós-graduação como uma etapa profissional fundamental”, afirma Ramos.

FRASE DESTAQUE

“O mercado quer os melhores profissionais para conduzir mudanças com excelência, aplicando conceitos de mestrado e doutorado na rotina de trabalho”

Alessandro Coutinho Ramos, diretor de pós-graduação da UVV

PLACARES

R$ 2.449 de salário

Essa é a média salarial de profissionais com graduação

R$ 13.861de salário

Essa é a média salarial de profissionais com doutorado