Assim como no meio empresarial, cada vez mais as mulheres estão conquistando espaço, voz, voto e cargos de comando no cooperativismo. Estima-se que, em nível nacional, cerca de 40% dos membros de cooperativas sejam mulheres.
Muitas delas desbravaram caminhos há décadas, quando termos como “empoderamento feminino” nem existiam.
Foi dentro deste contexto que a funcionária pública Maria Jane Pereira ajudou a fundar, em 1995, a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores Públicos do Município de Vitória (Coopsmuv) – que depois se tornaria Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória (Coopmetro) – entidade que ela viria a se tornar presidente, há 22 anos.
“Vivemos em um país administrado por homens. Há 20 anos, eu era a única mulher na atuação direta na entidade. O setor de cooperativas de crédito naquela época era totalmente masculino. Hoje, as mulheres já são maioria”, pondera a presidente da Coopmetro.
Segundo Maria Jane, em qualquer evento cooperativista realizado hoje, a presença feminina é marcante. “A luta da mulher por espaço faz parte do lema do cooperativismo”, lembra.

Maria Jane Pereira ajudou a fundar a cooperativa que dirige há mais de duas décadas
Em algumas cooperativas, a gestão já é majoritariamente feminina. Fundada há 26 anos por pais de alunos para criar e manter uma escola de ensino infantil e fundamental, a Cooperativa Educacional de São Gabriel da Palha (Coopseg) é gerida por três mulheres: a presidente Drayze Piske, a secretária administrativa Simone Rigo e a diretora financeira Camila Andrade.
Os desafios de gerenciar a instituição, mantê-la no mercado e procurar a cada ano buscar inovações que venham a contribuir para a melhoria dos resultados, por si só, já torna a gerência um ato de extrema complexidade, independentemente da questão de gênero, como explica a presidente da Coopseg.
“Da mesma forma que as mulheres têm conquistado cada vez mais espaços no mercado de trabalho, o cooperativismo também vem ganhando cada vez mais cooperadas. Acredito que cooperativismo seja não só o motor para a geração de novos empregos para as mulheres, mas também o melhor caminho para que isso ocorra”, afirma Drayze.

Agência feminina
Quem vai à agência do Sicoob da Praia da Costa, em Vila Velha, percebe uma peculiaridade na equipe: um time formado somente por mulheres é responsável por todo o atendimento aos clientes na unidade, que foi aberta no início deste ano.
O diferencial já é notado na chegada ao local. São duas as vigilantes responsáveis pela segurança. Lá dentro, toda a parte de serviços, como abertura de contas e consultoria, também é feita por funcionárias.
E a atuação feminina no Sicoob não para por aí. Em todo o Estado, entre os 14 membros da diretoria, seis são mulheres. Uma delas é a superintendente institucional, Sandra Rosa Kwak.
“O ambiente cooperativista é fértil para o trabalho feminino”, diz Sandra, observando que 64% da equipe do Sicoob é composta por mulheres. Elas são, também, 40% dos associados pessoa física.

No DNA
Aos 36 anos, Fabrícia Colombi pode afirmar que tem o cooperativismo no seu DNA. José Colombi Filho, seu pai, foi um dos primeiros associados da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), além de ter sido sócio-fundador do Sicoob Norte.
Desde cedo, ela e suas quatro irmãs convivem com o movimento cooperativista dentro de casa. Tal proximidade fez com que ela assumisse o legado do pai na gestão da entidade.
Sócia da cooperativa desde os 14 anos, Fabrícia está atualmente em seu terceiro mandato no Conselho Administrativo da Cooabriel, a única mulher entre os nove conselheiros. “Entrei na cooperativa como estagiária, aos 18 anos. Passei pelo atendimento ao produtor, pelo setor administrativo, financeiro, e participei do comitê especial de assuntos eleitorais”, recorda.
Para Fabrícia, o incentivo do pai, que morreu em 2016, foi fundamental para a participação dela na gestão de uma cooperativa e principalmente na criação de conceitos para burlar o machismo.
“Meu pai era um homem com uma cabeça moderna e atual. Era um visionário. Teve cinco filhas, e sempre incentivou a igualdade entre homens e mulheres. O preconceito com a mulher existe na sociedade, mas o cooperativismo preza pela igualdade na participação de todos”, afirma.
Fabrícia destaca, ainda, a criação, há dez anos, do Núcleo Feminino da Cooabriel, o primeiro entre as cooperativistas do Espírito Santo. Atualmente com cerca de 60 mulheres, entre sócias, esposas e filhas de associados da cooperativa, o núcleo nasceu inspirado em um modelo vindo do Rio Grande do Sul. Por meio de reuniões mensais, o grupo ajuda a fomentar projetos de geração de renda e participação feminina nas atividades da cooperativa.
“O grupo foi criado para incentivar a inserção das mulheres no ambiente do cooperativismo e o desenvolvimento pessoal e profissional das integrantes. As ações oferecem aprimoramentos, por meio de cursos práticos, treinamentos, reuniões mensais, vivências, intercâmbios, dias de campo, entre outros”, explica.