A economia compartilhada, ou colaborativa, está mudando o mundo. Plataformas on-line, como Uber e Airbnb, assim como serviços de compartilhamento de bicicletas ou patinetes, são exemplos de iniciativas que deram certo, baseadas na ideia de coletividade e partilha de recursos. É o caminho para o futuro, dizem especialistas. E que, na prática, já vem sendo adotado por milhares de pessoas no mundo, por meio do cooperativismo.
A colaboração está na base da filosofia cooperativista, que promove o progresso socioeconômico dos cooperados, dos seus familiares e das suas comunidades por meio da união entre pessoas. Para Samuel Lopes Fontes, especialista em Administração de Cooperativas pela Universidade Federal de Viçosa, esse novo modelo econômico busca valores que estão presentes no cooperativismo, como a transparência, a eficiência, a inclusão e a pulverização dos resultados.
“Ambas as plataformas oferecem uma integração entre quem produz e quem consome, quem demanda e quem contrata”, observa. O economista e mestre em Ciências Contábeis Felipe Storch Damasceno destaca o conceito de redução e divisão de custos, também comum aos dois modelos.

Participação
No sistema cooperativista, as decisões são tomadas coletivamente, e os resultados obtidos são distribuídos de forma igualitária, na proporção da participação de cada membro. Para o superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras do Espírito Santo (OCB/ES), Carlos André Santos de Oliveira, a economia colaborativa é um movimento de concretização de uma nova percepção de mundo.
“Ela representa o entendimento de que, diante de problemas sociais e ambientais que se agravam cada vez mais, a divisão deve necessariamente substituir o acúmulo. Trata-se, assim, de uma força que impacta a forma como vivemos e, principalmente, fazemos negócio”, explica o superintendente da OCB/ES.

Diante de problemas sociais e ambientais que se agravam cada vez mais, a divisão deve necessariamente substituir o acúmulo. Trata-se, assim, de uma força que impacta a forma como vivemos e, principalmente, fazemos negócio” – Carlos André Santos de Oliveira Superintendente da OCB-ES
Caminhoneiro há 23 anos no interior do Estado, Valdemir Cavalcanti trabalhava como autônomo até que, em 2008, entrou para a então recém-formada Cooperativa de Caminhoneiros (Coopcam).
“Antes de ser cooperado, eu era sócio de um amigo em um caminhão. Com o tempo consegui comprar a parte dele, passei a ser o único dono e ainda comprei um ônibus para prestar serviço de transporte de passageiros”, comemora.
Entre as vantagens de ser um cooperado, ele destaca os valores mais justos do frete e a garantia de trabalho constante, já que a cooperativa tem acordos de prestação de serviço firmados com empresas. “Ao mesmo tempo que você passa a ser dono do seu negócio, tem a vantagem de contar com uma associação forte, que dá suporte ao trabalho”.

Empreendedorismo
O cooperativismo é o modelo de economia do futuro que já está transformando a vida das pessoas no presente. Um exemplo são as cooperativas financeiras, instituições nas quais os cooperados não são clientes, mas, sim, usuários e, ao mesmo tempo, donos.
Fomentar o empreendedorismo entre seus associados é uma das missões das cooperativas de crédito. É por meio desse tipo de parceria, que negócios como o da confeiteira Kátia Martins têm sido viabilizados.
Natural de São Paulo, ela chegou ao Estado há dez anos, quando o marido foi transferido a trabalho, e teve que buscar uma alternativa de renda. “Comecei fazendo tortas para vender em uma barraquinha em Itapoã. Era uma coisa pequena. Algumas clientes me sugeriram procurar o Sicoob, para sair da informalidade. Em pouco tempo, conseguimos expandir o negócio, meu marido passou a me ajudar e hoje vivemos da confeitaria”, diz Kátia, que agora atende encomendas e também realiza festas e eventos com a sua empresa, a Torta e Cia ES.
Além do suporte financeiro, a associação à cooperativa foi uma forma de buscar conhecimentos sobre o mundo dos negócios. “A cooperativa promove cursos e eventos de capacitação que ajudam a aumentar a clientela e a lidar com a parte administrativa.”
Esse suporte também foi o diferencial para a professora Ilzinete Barcellos. Além da poupança extra gerada pelos recursos acumulados durante os anos de associação à Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores do Municípios da Região Metropolitana (Coopmetro), o cooperativismo deu o apoio que ela precisou no momento mais difícil da sua vida.

Preocupação em crescer sem agredir o meio ambiente
Quando se pensa nesse modelo econômico do futuro,uma característica fundamental é a sustentabilidade. E ser sustentável – tendo em mente, sempre, a preocupação com temas coletivos -, faz parte da filosofia cooperativista. Um exemplo é o cuidado com o meio ambiente na produção agrícola.
A opção pelo uso de insumos de origem natural, como os adubos orgânicos, feitos com resíduos vivos de animais e vegetais, vem crescendo no Estado. A capacidade de melhorar a resistência da plantação a pragas, ao mesmo tempo que aumenta a capacidade de armazenagem de água no solo, é uma das vantagens do uso de fertilizantes orgânicos.
Com sede na zona rural de Ibatiba, a Natufert é uma indústria de fertilizantes orgânicos e organominerais (que somam as vantagens da adubação orgânica às da adubação mineral) que, em pouco tempo, no mercado, se destaca como grande fornecedora para cooperativas de cafeicultura.
Com matéria-prima do fertilizante oriunda de galinhas poedeiras de Santa Maria de Jetibá, o trabalho da empresa fecha um ciclo virtuoso no processo produtivo no Estado, como explica o gerente de vendas Adilson Scantamburlo.
“As granjas precisam dar um destino para o esterco das aves, e nós pegamos esse passivo ambiental e transformamos em adubo. Por sua vez, nossos clientes, ao usar o fertilizante orgânico, produzem mais e entregam mais café para a cooperativa. É um processo sustentável tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.”
Valor agregado
Outra característica forte do cooperativismo é a união de forças para agregar etapas ao processo produtivo. Um exemplo pode ser visto na maior associação de produtores de café conilon do país, a Cooperativa Agrária de cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), que buscou recentemente uma forma de agregar valor à sua produção, e consequentemente, melhorar o retorno financeiro para os seus mais de 5.700 produtores cooperados.
Após mais de cinco décadas atuando como fornecedora de matéria-prima para as indústrias do ramo, a cooperativa decidiu lançar no mercado o seu próprio produto.
Sob a marca “Guardião”, o café será comercializado em embalagens de 250g. Desta maneira, a Cooabriel passou a trabalhar em todas as fases de produção do café, desde o plantio, passando pela industrialização e chegando até o comércio.
“Criamos um produto final com potencial de conquistar o mercado e mostrar o valor do café conilon, especialidade do Estado. Nosso foco é ganhar mercado, agregar valor à matéria-prima dos produtores e poder pagar mais pela saca de café de nossos cooperados”, afirma o diretor-presidente da cooperativa, Luiz Carlos Bastianello.