Com o adensamento populacional que vemos hoje na Grande Vitória, é até difícil imaginar que, não faz muito tempo, a ocupação da região se concentrava nas áreas centrais. As cidades foram avançando por novos espaços e bairros inteiros foram criados e se desenvolveram a partir de investimentos promovidos por cooperativas habitacionais.
Jardim da Penha, em Vitória; Parque das Gaivotas, em Vila Velha; e Laranjeiras, na Serra, são apenas alguns dos exemplos que demonstram a relevância desse modelo de organização, que possibilita a associação de pessoas interessadas na construção de um empreendimento imobiliário. Começaram como pequenos conjuntos residenciais e tornaram-se polos de desenvolvimento econômico, com variada oferta de comércio e serviços.
“Temos que pensar em locais que ainda não foram considerados no mercado, com áreas pouco utilizadas. A cooperativa sai desbravando e valoriza a região. Vamos pavimentando a estrada para os outros que vêm atrás”, ressalta Aristóteles Passos Costa Neto, presidente do Inocoopes – cooperativa há quase 51 anos em atividade.
Nos primeiros empreendimentos, o senso de comunidade era um aspecto que mobilizava bastante quem ingressava em cooperativas, para que, com a ajuda de cada um, todos pudessem se beneficiar e adquirir a sonhada casa própria. E, até pela pouca experiência do ambiente condominial, esses projetos estavam vinculados a um programa de desenvolvimento comunitário.
“Após a entrega do imóvel, ficávamos de seis meses a um ano com esse programa para orientar os moradores sobre questões da vida em condomínio, como usar a garagem correta e recolher o lixo no momento adequado. Isso, claro, já não é mais necessário hoje”, relembra Costa Neto.
A passagem dos anos trouxe mudanças, e para melhor. A partir da década de 1990, o Inocoopes – que, até então, utilizava o financiamento bancário – passou a trabalhar com o autofinanciamento, que exclui a participação do agente financeiro.
A negociação é feita diretamente entre cooperados e cooperativa. Como as cooperativas não visam lucro, não há juros. O único indicador que incide sobre as parcelas é o CUB (Custo Unitário Básico da Construção Civil), que determina o custo global de qualquer obra, erguida por cooperativa ou não.
Para a analista de desenvolvimento Enia Viana Vieira Lima, 30, e o marido, o técnico em eletrotécnica Alan da Silva Lima, 29, pesou a favor da cooperativa o custo final menor do imóvel e o prazo de pagamento mais rápido.
“No financiamento bancário, ficaríamos muito tempo pagando (35 anos) e, ao final, iríamos desembolsar um valor triplicado em razão dos juros. No Inocoopes, a parcela é até um pouco maior, mas vamos quitar em 90 meses (sete anos e meio), sem juros. Foi a melhor escolha que fizemos”, compara.
O casal já está curtindo o novo lar, em Jardim Camburi, com o filho Ricardo. O melhor é que, em 2020, o imóvel estará quitado. “Já estamos nas parcelas finais. É muito gratificante saber que, aos 30 anos, temos um imóvel nosso”, comemora a analista.

Etapas
No Inocoopes, os condomínios são divididos em blocos, construídos por etapas. À medida que vão ficando prontos, parte das unidades é destinada a quem dá lances, parte por meio de sorteio. Essas entregas começam a ser feitas a partir do 30º mês do financiamento.
E foi com um lance que a fotógrafa Maressa Moura Zamprogne, 33, conseguiu a chave do seu primeiro apartamento. Ela e o marido, Gustavo Nicchio Zamprogne, 34, também fotógrafo, se surpreenderam com a burocracia zero da cooperativa. “Não precisamos comprovar renda. Não ter contato com banco e aquele monte de juros foi algo que me atraiu”, ressalta.
“Foi a melhor escolha que fizemos. É muito gratificante saber que, aos 30 anos, temos um imóvel nosso” Enia Viana Vieira Lima, analista de desenvolvimento
História
Em 1964, foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH), cujo objetivo era, por meio de cooperativa, possibilitar à população de classe média e média baixa a aquisição de imóveis de qualidade, com preço final abaixo do mercado.
Quatro anos depois, foi fundado o Inocoopes, cooperativa habitacional com a mesma finalidade
Em 1972, foi lançado o primeiro empreendimento, voltado para os bancários, em Jardim da Penha, Vitória. Em Vila Velha, o processo de expansão aconteceu com o lançamento de conjuntos habitacionais em Jardim Asteca e Jardim Colorado. Um pouco mais tarde vieram Coqueiral de Itaparica e Parque das Gaivotas.
Todos são exemplos de bairros criados a partir dos empreendimentos do Inocoopes. Via de regra, para ter custo menor, buscava-se áreas mais afastadas para a construção. Assim, a cooperativa ajudou, com seus projetos, no desenvolvimento da Grande Vitória.
No início da década de 1990, o Inocoopes parou de utilizar financiamento bancário e decidiu adotar outro formato, de autofinanciamento das cooperativas, até hoje vigente. São empreendimentos sem financiamento bancário, portanto, sem juros.

Com a experiência de quem já produziu 41 mil unidades habitacionais, o Inocoopes está lançando mais um empreendimento em Jardim Camburi, em Vitória, e analisa novos projetos em Vila Velha e Guarapari.
Na Capital, o foco está direcionado para o Reserva de Camburi, condomínio de 360 apartamentos de dois quartos, com uma suíte. “A localização é privilegiada, perto de tudo, em frente a shopping, supermercado. Jardim Camburi é um bairro com um apelo comercial muito grande”, observa Aristóteles Costa Passos Neto, presidente do Inocoopes.
O novo empreendimento, que está na planta e em fase de captação de interessados (mais de 600 já se manifestaram), terá área de lazer completa em cada uma das cinco torres. Piscina, churrasqueira, espaço fitness e brinquedoteca serão entregues mobiliados.

Mesmo em um momento econômico no país ainda instável, que afetou bastante o setor da construção civil, Aristóteles Neto revela que o Inocoopes continua a identificar áreas de demanda e a desenvolver projetos. A cooperativa estuda novos investimentos em Itaparica, Vila Velha, e na Praia do Morro, em Guarapari.