Venda Nova do Imigrante

Venda Nova do Imigrante

Saindo do nosso ramal da rota em Castelo, chegamos à acolhedora Venda Nova do Imigrante, um município de porte e às margens da BR-262. E Venda Nova é aquele tipo de cidade que você deve chegar praticamente em jejum, pois o que a cidade oferece de opções para alimentação não é brincadeira. Fica a dica: vale seguir a dieta no "miudinho" nos dias anteriores, pois é certeza de comer bem (e bastante).

O primeiro local que vale a visita assim que a Rota cruza a BR-262 é o estabelecimento da família Venturim. Além de possuírem uma estrutura grande com hotel, lanchonete, restaurante e posto de gasolina, eles também têm um leque grande de opções para comer. Mas não há cafés e biscoitos caseiros que superem o disputado macarrão com sabores exóticos. Criados há cerca de três anos, as massas chamam a atenção pela variedade: 26 sabores diferentes de talharim, incluindo os sabores pimenta, vinho e até chocolate.

  • Ana Venturim
    Ana Venturim
  • Ana Venturim
    Massas coloridas da família Venturim
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Ana Venturim administra um hotel e restaurante em uma área de antigo quartel da Rota Imperial. Os macarrões coloridos, com 26 sabores diferentes, estão entre as atrações do estabelecimento. Sabores como vinho, pimenta e café estão entre os oferecidos nas massas da família Venturim.

"A gente já tem 25 anos de comércio, mas nossa família é descendente de italianos e já está nesse local há mais de cem anos. O macarrão veio há pouco tempo, mas é muito procurado. E agrada a todos. O sabor é suave, então a pessoa não precisa ter medo de levar e se arrepender depois", conta Ana Venturim, empresária, que começou a fazer massas coloridas com produtos da horta de casa.

"O primeiro que eu fiz foi o de pimenta. O segundo, de café. Lembro da sequência de nascimento dos filhos (risos). As pessoas ficam encantadas, por ser uma massa bonita e saborosa. E a gente se encanta com esse encantamento deles", comemora.

Mas como há opções para todos os gostos, o público que prefere as carnes em vez da massa também tem vez em Venda Nova. Na fazenda Lorenção, também às margens da BR-262, é possível passar por um portalzinho de madeira e, de repente, se sentir em um cantinho da Itália. É lá nos fundos da casa da família que é produzido e vendido um produto que é famoso em Venda Nova, no Brasil e no mundo: o socol. É uma delícia!

Detalhe do socol sendo cortado para degustação.

"O socol é um tipo de presunto cru, só que feito com o lombo e temperos diferentes. O processo de cura leva até seis meses, para que ele fique pronto. Já o tempero vai de família para família. É o segredo do socol", conta José Lorenção, que viu no presunto feito em casa uma chance de aumentar a renda da família.

"Desde a adolescência eu já aprendi a fazer com minha mãe, receita de gerações passadas. Eu roubava o socol feito em casa e oferecia aos amigos. Eles adoravam. A notícia se espalhou e eu percebi que poderia, já que a renda da família era baixa, fazer o socol comercialmente. Uns amigos emprestaram o dinheiro, a gente começou e hoje várias famílias seguiram nossos passos", conta ele, enquanto atende turistas do Rio Grande do Sul encantados com o produto.

História viva

Seguindo viagem para não atrapalhar as vendas de seu José, damos um intervalo nas diversas opções culinárias: é hora de devorar história. Para quem quer conhecer os fatos documentados sobre a Rota Imperial dentro de Venda Nova do Imigrante, o nome a ser procurado na cidade é o do agricultor Benjamin Falqueto. 

Aos 89 anos, ele nasceu e viveu boa parte da vida em um casarão de 1914 (que existe até hoje, em ótimo estado de conservação no quintal de casa) em que foram aproveitados as portas e janelas do antigo Quartel das Bananeiras. O quartel é citado em documentos como um dos inúmeros espalhados ao longo da Rota Imperial para servir como ponto de apoio para quem passasse pela estrada.

  • Benjamin Falqueto
    Benjamin Falqueto
  • Benjamin Falqueto
    Benjamin Falqueto
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Benjamin Falqueto, 89, um dos moradores mais antigos de Venda Nova do Imigrante. Ele nasceu em um casarão que existe até hoje e foi construído com portas e janelas originais de um quartel da Rota Imperial.

Seu Benjamin dá um banho de memória em qualquer garotão, e se orgulha de conhecer os desdobramentos da história da cidade a partir da estrada encomendada por Dom João VI e concluída em 1816. "Tenho livros que falam do assunto, e um testemunho vivo era minha mãe. Quando os italianos chegaram em Alfredo Chaves e, 15 anos depois, vieram para cá, à beira da estrada da Rota Imperial havia um casarão velho no meio de uma capoeira, conhecido como Venda Nova. Ele deu origem à cidade. E minha mãe morou lá", lembra.

Contraste

Enquanto, pela janela do casarão onde nasceu, seu Benjamin avista saudosista quase todo o vale que abraça a rota em Venda Nova, lá na frente, na outra ponta do caminho, o advogado Eidiano Mauro, 40, pisa fundo no acelerador do seu UTV - um tipo de quadriciclo que chega a 120 km/h. E utiliza a Rota Imperial, segundo ele mesmo diz, como "esporte, lazer e terapia". Eidiano faz parte de um grupo de cerca de 20 pessoas que sobem e descem um paredão de pista em zigue-zague, dentro da Rota Imperial, na divisa de Venda Nova com Domingos Martins.

"Você ter a oportunidade de praticar esporte numa estrada dessa importância, apreciando um visual único desses, e com esse vento fresco jogando poeira pra cima... Costumo dizer que pra muita gente o psicólogo é até dispensável. Não há estresse que resista", conta ele, antes de nos oferecer uma carona em seu quadriciclo e subir o morro inteiro (com suas sete curvas fechadas) em pouco mais de um minuto. Para quem gosta de aventura, o trecho também é usado por pessoas de bike, moto ou a cavalo.

Eidiano Mauro, advogado. Ele usa a Rota Imperial para a prática esportiva, pilotando seu quadriciclo UTV pelas curvas em Venda Nova.

Lembra dos tropeiros?

Por falar em montaria, quem conhece bem esse trecho - e toda a Rota Imperial - é um morador ilustre de Venda Nova. José Nilton, mais conhecido como Pelé, um dos maiores entusiastas dos passos deixados pelos tropeiros. Ele é um dos organizadores da viagem feita por 13 amigos, descendo montados de Ouro Preto até Vitória, refazendo o mesmo caminho dos tropeiros. Em casa, ao sabor de um prato herdado das viagens de tropas - o feijão tropeiro -, Pelé reúne amigos para contar as histórias da rota e para planejar os encontros do próximo ano.

Para quem quer tirar qualquer dúvida sobre qualquer trecho da rota ou sobre os melhores locais para passar a noite, por exemplo, o nome mais indicado é o de Pelé. Para ele, ter realizado todo o trajeto foi um presente. "Foram 21 dias de alegrias e dificuldades. Mas nós voltamos de lá pessoas novas. Aprendemos demais naquela viagem. Aprendemos a respeitar o meio ambiente, a pedir desculpa assim que fizéssemos algo que não agradasse alguém, a ter mais paciência. Com isso, a viagem que a gente estava achando longa passou rápido demais e deixou saudade".

É assim, deixando saudade, que a rota deixa Venda Nova do Imigrante e seus sabores. Entre hortaliças, frutas, massas e carnes, uma coisa é certa: se a cidade já foi ponto de parada fundamental para os tropeiros, duzentos anos depois ela continua merecendo uma parada pra lá de demorada.

Serviços

  • Pousada Paraná - Tel.: (28) 3546-3581 ou (28) 99965-8151
  • Hotel Venturim - Tel.: (28) 3546-6614
  • Hotel Canal - Tel.: (28) 3546-1322
  • Alpes Hotel - Tel.: (28) 3546-1367 ou (28) 3546-1476
  • Hotel Esmig - Tel.: (28) 3546-1213
  • Pousada Casa Vecchia - Tel.: (28) 99964-3068
  • Pousada Bela Aurora (com restaurante) - Tel.: (28) 99925-6197 ou (28) 99986-9493
  • Bangalo’s - Tel.: (28) 3546-3548
  • Café da Roça Altoé da Montanha - Tel.: (28) 99955-2085 ou (28) 99915-9922
  • Churrascaria e Pizzaria Trevo - Tel.: (28) 3546-1484
  • Churrascaria Gauchão - Tel.: (28) 3546-1969
  • Self Service Fazenda Saúde & Restaurante - Tel.: (28) 3546-1528
  • Restaurante/Lanchonete Parada Obrigatória - Tel.: (28) 99886-8811
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