Castelo

Depois de Conceição do Castelo, chegamos à cidade de Castelo. No caminho, de qualquer ponto da cidade é possível ver aquele que foi o responsável pelo nome da cidade: o Pico do Forno Grande. Segundo a história, exploradores em busca de ouro chegaram à região e se depararam com um monte que mais parecia um castelo medieval. Daí teria vindo o nome Castelo. E desde esse primeiro contato visual, o Forno Grande é fonte de inspiração para seus moradores e de surpresa para os visitantes da cidade.

Vista do Forno Grande a partir da cidade de Castelo.

Antes mesmo de chegar ao centro da cidade, cerca de 15 quilômetros da sede, vale a pena visitar a Gruta do Limoeiro. O local é tombado desde a década de 80 como Patrimônio Histórico do Espírito Santo e é o maior sítio arqueológico do Estado. No local foram encontrados esqueletos de 11 índios que viviam na região há, pelo menos, 4.500 anos. Pois é, a gente também não fazia ideia.

A região da gruta é bem acessível para carros e tem estrutura com auditório, exposição de fotos antigas e informações sobre o local. Também há lojinha de artesanato e lanchonete. Ou seja, o visitante pode ir despreocupado com relação a alimentação. Pode demorar à vontade.





A Gruta do Limoeiro impressiona já na entrada. Um paredão 70 a 80 metros de altura e com cor alaranjada já mostra, ainda do lado de fora, várias camadas de rochas de diversas épocas diferentes. E acredite: mesmo estando bem longe do mar, a gruta tem em suas paredes diversas conchas e corais, um forte indício de que seus salões internos foram esculpidos em algum momento pelas águas do mar.




Entrada da Gruta do Limoeiro

Do lado de dentro, os caminhos vão se estreitando. Mas à medida em que o acesso fica mais difícil, também aumenta a recompensa quando conseguimos alcançar algum dos quatro grandes salões. São lindos, com algumas rochas translúcidas (encostando uma lanterna na rocha, a luz ilumina o interior da pedra) e outras pedras que têm formatos curiosos, lembrando animais. Mas tudo esculpido pela própria natureza!





Saindo da Gruta do Limoeiro, temos a impressão de que Castelo já é uma cidade surpreendente antes mesmo de chegar ao perímetro urbano. E realmente é assim. No entorno do centro também há opções para todos os gostos, como a rampa de Ubá, que tem 902 metros de altitude e é considerada a mais bonita do Brasil, recebendo praticantes de voo livre do mundo inteiro.

Turismo de fé

Falar de Castelo é falar de diversidade. E é também falar de fé. Na cidade que respira adrenalina com rampas, cachoeiras e grutas de tirar o fôlego, o lado espiritual também é referência. Afinal, Castelo é a principal cidade quando o assunto é Corpus Christi. Quem não se lembra dos tapetes gigantes que enfeitam as ruas e atraem multidões de peregrinos?




  • Patrícia Vicentini
    Patrícia Vicentini Barbosa, secretária de Turismo e Cultura de Castelo
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Castelo é desse jeito. A gente trabalha com diversos segmentos do turismo. O religioso, o de aventura e o cultural", explica Patrícia.

Mas não são apenas os tapetes de flores que levam fiéis à cidade. O Santuário de Aracuí também é um ponto que reúne cristãos o ano inteiro em Castelo. A céu aberto, no topo de um monte e todo feito com peças de granito (bancos, oratórios, altares e até os muros), o local é o santuário da Imaculada Esposa do Espírito Santo de Deus.





O santuário já recebeu até visitas ilustres, como a do cantor Roberto Carlos, em duas ocasiões (maio e agosto de 1999), em busca da cura para sua esposa Maria Rita. Toda a estrutura foi erguida como presente à cidade por um empresário do mármore e granito da região.

“Castelo é desse jeito. A gente trabalha com diversos segmentos do turismo. O religioso, o de aventura e o cultural. O Santuário de Aracuí, mesmo, é um bom exemplo. É um local diferente, que você não vê por aí, e que traz uma paz. Mas a história também é muito rica”, afirma a secretária de turismo e cultura, Patrícia Vicentini.





No centro da cidade há boa estrutura de hotéis, restaurantes e comércio de modo geral, além de pontos turísticos como a igreja matriz e o castelinho (de verdade) onde funciona a biblioteca municipal. Mas para quem quer desbravar o município mesmo, vale a pena sair por aí conhecendo outros pontos fora da zona urbana.

O santuário de Aracuí atrai cristãos de várias partes durante todo o ano.

Herança

Um desses locais onde até o ar é de história viva é o casarão da Fazenda do Centro. Distante 15 quilômetros da sede de Castelo, o casarão impressiona pelo seu estado de conservação e pela utilização até os dias atuais. Os cômodos gigantescos, os varandões com vista para os montes e a cozinha com pisos em estilo colonial se adaptaram e deram lugar a um museu com restaurante, onde turistas e excursões de escolas podem ver de perto um pouco da história do município e das heranças deixadas pelo auge do ciclo do café na região e também da mineração.





O casarão da Fazenda do Centro foi fundado em 1845 e é um local deslumbrante. Cercado de muito verde, o casarão tem dois andares, oito dormitórios, dois varandões gigantescos e cerca de 1.600 metros quadrados de área construída. Além disso, tem mais de 90 janelas e até uma capela. Enfim, um exemplo das riquezas permitidas pelo café. Mas com a abolição da escravatura, em 1988, o local entrou em declínio e foi vendido (e abandonado) várias vezes ao longo das décadas. Já abrigou a Ordem Agostiniana, foi ponto de apoio para imigrantes e até seminário.





E é lá, na frente de uma das vistas mais bonitas do interior do Estado que se reúnem os tropeiros mais antigos da região. Alguns de 40 anos, outros de 60, e a maioria com 70 e 80 anos vividos. Surgem de todos os lados. Uns descem o morro, sendo anunciados desde bem longe pela mula guia, que carrega em seu pescoço diversos sinos. Uma cena arrepiante, que nos faz viajar para séculos passados.




  • Valdemar, tropeiro
    Valdemar Brambila e seus amigos tropeiros: muitos "causos" pra contar.
  • Valdemar, tropeiro
    Preparação para o café dos tropeiros, em frente ao casarão.
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Café de macho é aquele que tem até dificuldade de passar pelo coador de pano, de tão forte que fica”, conta, entre uma gargalhada e uma golada na bebida, extremamente escura, junto dos amigos tropeiros

Do outro lado da fazenda, com som característico de buzina aguda e constante (impossível explicar com precisão), vem o carro de boi, puxado por seis enormes bovinos guiados por dois homens que parecem se comunicar com precisão com os animais.





E é ali, no gramado verde do casarão antigo que eles se encontram, retiram os balaios de seus burros e mulas, buscam lenha na hora (não trazem de casa) e fervem a água para um café “de tropeiro”. “Café tropeiro é café de macho”, afirma Valdemar Brambila, de 72 anos. “Café de macho é aquele que tem até dificuldade de passar pelo coador de pano, de tão forte que fica”, conta, entre uma gargalhada e uma golada na bebida, extremamente escura.




Tropeiros reunidos em frente ao Casarão da Fazendo do Centro.

Brambila é figura fácil em Castelo (vale procurá-lo), e é como um livro de história ambulante. Com seu chapelão branco e sua voz firme, ele rouba toda a atenção quando começa a falar sobre sua história. E sempre termina com os olhos marejados.





“Praticamente nasci em cima de burro e cavalo. Dei estudos a duas filhas em cima de cavalo. Eu desbravava essa Castelo toda, em locais que não tinham uma pedra na rua. Era tudo terra. Levava e trazia mercadorias com minha tropa, por 22 anos. Eu puxei pedra, areia, tijolo, madeira para casa, milho, feijão, batata. Ah, e até porco gordo eu puxei com burro. Matava os porcos gordos e distribuía de venda em venda”, lembra-se, contando um pouco de como foi o desenvolvimento da cidade.

“Mas o que eu também passei de dificuldade não é brincadeira. Já passei dias e dias com fome em meio de mato, sem ter nada para comer. Também já passei noites e mais noites frias, molhado de chuva, sem cidade na minha frente ou atrás de mim para me abrigar. Minha roupa, por exemplo, se você colocasse ela em pé, ela ficava. De tão suja que estava”.





Valdemar é interrompido apenas por outra golada de café. Sem fazer cara feia – acostumado com o gosto da bebida -, ele passa a mão em um pão francês, enche de carne seca (também cozida em fogareiro aceso na hora), e come com os amigos, também tropeiros da antiga.





E seguem a prosa deles, à beira da fogueira que acenderam para relembrar os tempos da ativa, e com a tarde caindo por trás da fazenda. Mas como ainda resta muita Rota Imperial pela frente, nos despedimos dos antigos tropeiros de Castelo com duas certezas: tivemos um grande aprendizado em uma só tarde, e fizemos meia dúzia de novas amizades para nunca esquecer.

Fogo no caldeirão durante reunião dos tropeiros

Serviços

  • Hotel Estrela do Sul - Tel.: (28) 3542-3709
  • Hotel Fort Esperança - Tel.: (28) 3310-2591 ou (28) 99931-2591
  • Pousada Lua & Sol - Tel.: (28) 3542-0119
  • Hotel Regina - Tel.: (28) 3542-1594
  • Hotel Plaza - Tel.: (28) 3542-1674
  • Castelo Hotel - Tel.: (28) 3542-0163
  • Casa do Cebolão – Cama & Café Cecilia Perim - Tel.: (28) 3542-1114
  • Cantinho do Aconchego – Cama & Café da Nega - Tel.: (28) 3542-4174
  • Cama & Café Fazenda Sossego - Tel.: (28) 99886-0975
  • Churrascaria Gauchão - Tel.: (28) 3542-2825
  • Bumblebee - Tel.: (28) 3542-6712
  • Castielo - End.: Avenida Nossa Senhora da Penha, 573, Centro
  • Burgueria Carioca Castelo - End.: Rua: Miguel P. Vasconcelos, 45, Loja B, Santo Agostinho
  • Toca do Coelho - Tel.:(28) 3542-2386
  • Restaurante do Del - Tel.: (28) 3310-3435 ou 99962-7773
  • Restaurante Regina - Tel.: (28) 3542-1594
  • Cachoeira do Pedregulho: Situada a 21 quilômetros da sede, além da bela queda d’água, conta com serviço de lanchonete, restaurante rural, área para camping e rapel.
  • Igreja Matriz: No centro, revela a todos o tamanho da religiosidade do povo castelense e expressa a devoção à Santa Mãe de Deus.
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