Ela entrou por último na Rota Imperial, mas não é menos importante que suas vizinhas. Santa Teresa, a bucólica cidade dos beija-flores, já está preparada para o turismo há tempos. Mas nunca é demais uma nova visita. Afinal, sempre se descobre um cantinho novo para visitar ou uma nova cantina para saborear os pratos típicos da culinária italiana.

Quem chega a Santa Teresa já percebe o desejo de preservar o patrimônio da cidade logo de cara. As ruas de bloco de pedra por todo o centro são as mesmas de sempre, e continuam estreitinhas, cortando o casario muito bem preservado e bastante utilizado. Difícil é ver imóvel centenário que não tem uso na cidade. Em resumo: Santa Teresa é uma cidade viva!

Em menos de meia hora de passeio a pé na sede é possível encontrar portas, janelas e portões de todos os tipos e cores, formando um conjunto arquitetônico de dar inveja. E a força da imigração italiana na cidade é tanta que também não é difícil ver moradores reformando suas casas e optando pelo branco com verde ou vermelho, as cores da bandeira da Itália.

A Rota

Mesmo não fazendo parte da estrada principal que liga Vitória a Ouro Preto, Santa Teresa ganhou o direito de fazer parte da Rota Imperial por dois motivos. Primeiro por fazer parte da zona de abrangência da rota, já que a construção da estrada beneficiou a colonização das margens da Rota Imperial e também do seu entorno. E o segundo motivo para incluir Santa Teresa na Rota: a persistência e a luta dos historiadores da cidade. Dentre eles, destacamos três: Simone Zamprogno, Sandra Gasparini e Luiz Buzzato.

Eles são autores de artigos e livros que comprovam: mesmo antes da chegada dos imigrantes à cidade, Santa Teresa já era cortada por uma estrada nos mesmos moldes da Rota Imperial: pelo alto dos morros, para evitar a construção de pontes; medidas semelhantes às da Rota Imperial; e a presença de quartéis.

Simone Zamprogno Scalzer, pesquisadora da história de Santa Teresa.

Sandra Gasparini, pesquisadora da história de Santa Teresa.

Luiz Busatto, pesquisador da história de Santa Teresa.

“Em 1847 foi feita a primeira retirada das árvores, a “picada”, para abrir a estrada. Isso bem antes dos imigrantes. A estrada já foi construída com o objetivo de ocupar a região. Essa estrada tinha de sete a dez palmos de largura e havia em Santa Teresa pelo menos dois quartéis: o do Timbuí, hoje região de Fundão, e o do Porto do Souza, às margens do Rio Doce. Havia em cada quartel um pequeno pasto para soltar os animais e uma cabana coberta com folhas que seria para o viajante descansar ou passar a noite”, explica Simone.

A Estrada de Santa Teresa também é citada no livro “Santa Teresa do Espírito Santo – História e Memória”, de Sandra Gasparini, como um trecho da Estrada Real. A constatação vem de uma série de pesquisas e documentos provinciais, que mostram a Estrada de Santa Teresa como uma das principais vias de ligação com Minas Gerais no século XIX.

Aspectos turísticos

Além de respirar história da imigração – principalmente a italiana -, Santa Teresa também se destaca pela variedade de opções turísticas. Chegando na entrada da cidade, por exemplo, já é possível perceber em uma das esquinas um cercadinho de um metro de altura com uma imponente e conservada casa feita de estuque. É a famosa Casa dos Lambert, construída por dois irmãos da família em 1875. É uma das primeiras casas da cidade. Do outro lado da rua há uma capelinha bem em frente à casa dos Lambert. A capela de Nossa Senhora da Conceição tem uma imagem da santa, datada de 1889, que foi esculpida pelo imigrante Antônio Lambert. A casa impressiona pelo estado de conservação.

Outra parada obrigatória é o Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Localizado dentro da cidade, o museu permite um passeio por fauna e flora da mata atlântica em poucos minutos. Há uma grande diversidade de árvores e também alguns animais criados em cativeiro, que são próprios da região.

Mas o xodó dentro do museu é a observação dos beija-flores. É de uma sutileza única. Em um varandão de um antigo imóvel que abriga a administração do museu foram penduradas várias garrafas com biquinhos, por onde os colibris bebem água o tempo inteiro. A cena encanta qualquer um, seja pela beleza do voo dos pássaros, ou pela quantidade deles (inúmeros, de várias cores).

Passeios

Pelas ruas da cidade, brotam restaurantes e boas opções de bares. O mais conhecido desses bares é também o mais antigo do município, aberto em 1920 e que, ainda hoje, 96 anos depois, ainda funciona diariamente. O Bar Elite fica na Rua de Lazer, em uma das esquinas mais movimentadas de Santa Teresa. As portas altas e estreitas são as mesmas de sempre. Mas não é só a fachada que foi preservada.

“Tudo o que é visto dentro do bar também é original. O piso é o mesmo, os balcões, as prateleiras. Tudo é original e ainda é usado. Temos até um “monumento” aqui, uma relíquia: um baleiro que tem, no mínimo, 70 anos de idade. Não se tem notícias sobre um baleiro desses, inteiro e conservado, em outra cidade do Estado”, conta Thiago Vicente Roldi, que atualmente gerencia o estabelecimento.

Por lá passa todo tipo de gente. É um bar democrático. “É um bar que atende a todos os públicos. O pessoal da cidade, os moradores do interior e os turistas. Temos de coisas que custam pouco até vinhos que são bem mais caros. É só escolher”, convida.

E para os apreciadores de vinho, que tal conhecer todo o processo de fabricação da bebida antes de comprá-la? Na Cantina Matiello, que está completando 20 anos, isso é permitido. Fica tudo pertinho, na mesma propriedade: as plantações de uva, a produção do vinho e a lojinha onde o produto é comercializado. É bem fácil de achar. Passando pela Rua São Lourenço, que dá acesso ao centro da cidade, há um barril de pelo menos três metros de altura em frente à cantina. Virou ponto de referência.

Produção da Vinícola Mattiello.

Eliton Stange, da Vinícola Mattiello

Bar Elite, com quase 100 anos de idade.

Thiago Vicente Roldi, proprietário do Bar Elite, em Santa Teresa.

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