Iúna

Iúna

Após atravessar a ponte que divide Minas Gerais e o Espírito Santo, chegamos ao vilarejo de Vila do Príncipe, que depois virou São João do Príncipe. Este é o primeiro ponto demarcado pela Rota Imperial no território capixaba. Segundo a sabedoria local, o "príncipe" no nome seria um a homenagem a Dom João VI, então príncipe regente quando a estrada São Pedro de Alcântara foi construída.

A vila de São João do Príncipe, batizada em homenagem a Dom João VI à época da construção da estrada.

No local ainda há poucas casas, a estrada é de chão e estreita, mas alguns pontos mais difíceis receberam pedras para facilitar o trânsito de veículos. Pelo local passam carros de passeio, vans de transporte escolar, motos e as "aranhas" (veículos adaptados a partir do motor de um Fusca, mas praticamente sem lataria), que são usados nas lavouras de café.

As casinhas em estilo colonial acomodadas entre cafezais são uma inspiração à parte para fotos. Mas entre janelões e telhados feitos "nas coxas", herdados do período da escravatura, uma casa em especial destoa do cenário acolhedor do Príncipe. Pertence à dona Celensina dos Santos, que tem 87 anos de nascimento mas, acredite, é mais nova de vida do que de idade: tem 92 anos segundo seus registros.

Ela é proprietária de uma casinha de estuque, que nem a dona sabe há quantos anos foi construída. "Até pouco tempo morava gente aqui. Agora virou ponto turístico. Até noiva tira foto na casa, que agora serve para guardar as coisas. E também para chamar a atenção de vocês, que passam pela estrada", conta Américo dos Santos Braga, filho de Celensina.

Américo dos Santos Braga, proprietário de uma casinha de estuque que chama a atenção pelo ótimo estado de conservação. A casa recebe até noivas para fazer fotos de casamento.

Mesmo com o bate-papo agradável com os moradores da região, seguimos viagem pela Rota Imperial até o distrito de Santa Cruz. Pela estrada de chão, acompanhando cada marco localizador da Rota. Somente em Iúna são 33 deles. No caminho, São João do Príncipe, o grande presente para Dom João, vai se revelando uma localidade com grande potencial para o turismo: inúmeras cachoeiras de água cristalina, áreas para camping e vales que contornam toda a estrada imperial.

Sede de Iúna

Chegando a Iúna, vale uma visita à Casa de Cultura, onde o diretor de Turismo do município, Cristiano Alves Ricate, e sua equipe podem oferecer informações preciosas sobre onde comer, dormir e visitar. Cristiano revela, por exemplo, que todo ano, entre os meses de outubro e novembro, Iúna tem uma caminhada da florada do café. Os moradores vão até as áreas onde os cafezais estão em flor. E ele garante que é uma cena inesquecível. "A cada ano vem mais gente. Quem vê a primeira vez não acredita", afirma.

Vista da Sede de Iúna

Ele conta também que a região tem um grande potencial turístico e que a Rota Imperial tem tudo para contribuir com o desenvolvimento da cidade, que já se prepara para receber capixabas apaixonados por natureza. "Estamos desenvolvendo em Iúna o Circuito Serras, Águas e Cafezais, totalmente voltado para o turismo. São 15 pontos que não podem faltar no roteiro dos turistas, englobando pontos turísticos, hospedagem e alimentação", adianta.

Turismo de fé

  • Morador
    José Olímpio de Almeida, 78 anos, conta que a região atrai gente de todo lugar para conhecer a Pedra do Pecado e a Água Santa.
  • José Bernado
    Pedra do Pecado, em Iúna.
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Vem gente de todo lugar para pegar um pouco da Água Santa e também para atravessar a Pedra do Pecado", garante José Olímpio

Além das belezas naturais, Iúna abriga um dos pontos turísticos ligados à religiosidade mais procurados no Estado, a Água Santa. Localizado nos arredores do centro do município, o local recebe visitas diárias por parte de quem confia nas águas de uma fonte para curar enfermidades. "Vem gente de todo lugar para pegar um pouco da Água Santa e também para atravessar a Pedra do Pecado", garante o advogado e historiador José Olímpio de Almeida.

A história conta que o missionário capuccino Bento de Gênova, que ajudou a colonizar o povoado de Rio Pardo (hoje Iúna), desapareceu após aparentar uma doença. "Ele sentia que iria morrer e decidiu se isolar. Chegando a um local de mata fechada e com uma nascente à beira das pedras, ele resolveu ficar uns dias repousando. Comeu os frutos e tomou a água e melhorou rapidamente. Quando voltou ao povoado curado, as pessoas começaram a dizer que a água era milagrosa", conta.

Mas o frei voltou a ficar enfermo e desapareceu novamente. O corpo foi encontrado após muita procura, dentro de uma fenda muito estreita entre duas pedras, a poucos metros de onde havia tomado a tal água milagrosa dias antes. "Resultado: começaram a dizer que a fenda também era milagrosa. Como apesar de estreita é possível uma pessoa passar em pé, começou a ser espalhada a informação de que quem se arrependesse de suas culpas e conseguisse atravessar o pequeno caminho três vezes seguidas teria os pecados perdoados por Deus".

Foi o bastante para que a notícia se espalhasse e pessoas dos mais variados locais buscassem a Água Santa e a Pedra do Pecado para tratar doenças e tentar se arrepender dos pecados. Mas o historiador conta que a fenda, de pouco mais de um palmo de largura, não é atravessada só por magrinhos. "A fé do outro não se discute, se respeita. Passa gente magra, passa gente gorda. A medida é a fé da pessoa. É um mistério que ninguém entende. O gordo passa apertado pela pedra. Mas gente magra também passa apertado", afirma José Olímpio.

Ao deixar Iúna, nossa equipe é agraciada por um belo pôr-do-sol entre as montanhas.

Serviços

  • Hotel Catuaí - Tel.: (28) 3545-1099
  • Hotel São Judas Tadeu - Tel.: (28) 3545-1843
  • Adega Gourmet 3 Taninos - Tel.: (28) 3545-1671
  • Sabor e Cia - End.: Praça Jones S. Lamas, s/nº
  • Restaurante Chuletão - Tel.: (28) 3545-1625
  • Pico Colóssus: Ganhou essa denominação na década de 1980, quando um grupo de jovens evangélicos numa das idas ao seu topo para retiro espiritual, fez meditação a partir de versículos do livro de Colossenses.
  • Igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens: A primitiva capela foi construída em 1845, sendo demolida em 1858 para a construção da Capela da Pureza, que permaneceu de pé até 1879, quando a nova e imponente Matriz foi construída pelos imigrantes italianos. Em 1910 foi demolida e no local foi construída uma réplica da Matriz de Santa Margarida.
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