Nós mulheres não deveríamos ser vistas como novidade no mundo cervejeiro. Se desde os tempos remotos, nas civilizações sumérias, mesopotâmicas e egípcias éramos nós as responsáveis pela fabricação das cervejas, nunca me fez muito sentido que sejamos figuras raras nessa cena, na qual até as deusas (Ceres, para os romanos e Ninkasi, para os sumérios) da cerveja são representadas por figuras femininas.
A Luana é lá da terra dos colibris, Santa Teresa. E é justamente lá que ela capitaneia a Cervejaria Teresense, que está prestes a abrir as portas. Ela, que estudou Engenharia de Produção no Rio, se viu apaixonada pelo mundo das cervejas artesanais na faculdade e resolveu investir na área. “Logo que comecei a beber cerveja artesanal, surgiu a ideia de produzir. Comecei a fazer cerveja em casa e também a fazer cursos. Meu mestrado em Engenharia de Produção foi voltado também para o mundo cervejeiro”, relata. Luana emendou o mestrado com o emprego em uma cervejaria fluminense e nunca mais parou: fez cursos de controle de qualidade, de produção e também estudou sommelieria e se tornou mestre cervejeira. Em seguida, resolveu fazer o caminho de volta para terras capixabas e agora se prepara para inaugurar a Teresense, em meados deste mês. Ela conta que a mais nova cervejaria de Santa Teresa conta com vários sócios, mas é dela toda a responsabilidade técnica e também de produção. “Vamos começar com cinco estilos: Pilsen, Weiss, American IPA, Helles Export e Dry Stout, mas nosso brewpub terá 14 torneiras”. A Teresense impressiona pela sua infraestrutura e também abrirá as portas para cervejarias ciganas.
Conheci a Carol em uma degustação e foi identificação à primeira vista: alguns goles depois de sermos apresentadas, já conversávamos como grandes amigas e me impressionei com a história da garota que resolveu ter, sozinha, uma cervejaria. Ela é formada em administração e também muito ligada ao mundo da gastronomia – sempre se viu empreendendo na área. Ainda mais nova, por incentivo do pai, que é chef, aventurou seus sentidos nas cervejas artesanais e se apaixonou por tantas possibilidades. “Cerveja e comida envolvem aromas, harmonizações e sabores. É entender que o mundo cervejeiro é muito mais do que aquela cerveja que a gente pede no boteco”, sintetiza. O encanto fez a Carol mergulhar em cursos, técnicas de degustação e tecnologia cervejeira. Paralelo aos seus estudos, ela e o pai criavam “venenos e antídotos”, como são chamadas as cervejas da Serpentário. Com o crescimento do negócio, ela tomou a decisão de seguir voo solo. “Em 2018 vi que aquilo era para ser meu. Propus a compra da parte do meu pai da cervejaria e desde então eu sou a dona da Serpentário”, diz, orgulhosa. A Serpentário abriu as portas oficialmente em novembro do ano passado, com sede em Vitória, e adianto: tem cervejas sensacionais.