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“Ele me diminuia dizia sentir nojo de mim”

“Meu ex-marido, nunca foi o tipo romântico e eu também nunca fiz muita questão disso. Talvez por isso tenha demorado pra entender os abusos psicológicos. Ele sempre tentava me diminuir na frente da família e dos amigos. Depois dizia que era “brincadeira”. Sempre fazia questão de me inferiorizar por não ter ensino superior, por não ser magra, e por não ter dinheiro.

No dia do nosso casamento, a primeira coisa que ele falou foi: “vê se não vai maquiada igual um palhaço. Aquele vestido que você  escolheu é ridículo. Usa preto que disfarça sua gordura”. Já apanhei porque não quis fazer sexo. Ficamos quatros anos sem nos beijar, porque ele dizia ter nojo de mim.”

Física

Conduta que ofende a integridade corporal. Pode resultar em lesões aparentes, como: equimose, hematoma, mordida, inchaço, escoriação, laceração, hemorragia ocular, perda de dente, fratura e aborto. A VIOLÊNCIA FÍSICA NEM SEMPRE RESULTA EM LESÕES CORPORAIS. Tapas, empurrões, esganaduras, socos na cabeça, afogamento são modalidades de violência física que nem sempre deixam marcas aparentes.

PSICOLÓGICA e moral

Causar dano emocional ou diminuição da autoestima. Por exemplo: isolamento social, regulação das atividades pessoais, destruição intencional de propriedade ou de objetos pessoais, negação injustificada de autonomia, proibição de educação ou atividade profissional, intimidação e/ou divulgação de imagem em situação de nudez ou ato sexual. Calúnia, difamação, injúria, ofender a dignidade (por exemplo, com xingamentos e vocabulário depreciativo).

Sexual

Conduta que constranja a participação em atividade sexual indesejada com o (a) parceiro (a) ou terceiros, ou que viole o livre exercício dos direitos sexuais e reprodutivos. O ESTUPRO MARITAL também é crime. Não há, na legislação brasileira, isenção para a prática sexual forçada sob alegação de débito conjugal.

Patrimonal

Conduta que configure retenção, subtração ou destruição total ou parcial de bens, instrumentos de trabalho e recursos econômicos.

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Nem precisa ser uma discussão. E a forma de fazer isso pode ser sutil, nunca é direta, como um “nossa que burro isso que você disse”, mas a impressão é a de que você nunca fala nada de bom.

Isso se chama gaslighting e é o abuso emocional em que a pessoa faz com que você comece a questionar sua própria compreensão da realidade.

Tal roupa não serve para você. Vai pedir que tire seu batom vermelho. Não gosta dos seus amigos ou parentes. Até o seu dinheiro não é mais seu. O que você pode ou não comprar, não depende mais de você.

Você não quer, mas “acaba cedendo” porque quer agradá-lo. Ou ele faz à força, só porque vocês estão numa relação. Isso é estupro marital

A agressão física não é só um tapa, um empurrão. Ela também passa pelo beliscão ou aquele hábito de “te segurar com força” quando vocês estão discutindo.

Essas são falas típicas da violência psicológica, que podem ser feitas a partir da chantagem, da ameaça e do controle com frases como “se você fizer isso quer dizer que não me ama” e “se você não fizer isso eu vou embora”.

Se algo bom te aconteceu, sempre dá um jeito de incluir uma discussão besta sobre qualquer outra coisinha, fazendo você questionar a si mesma/o.

Esse isolamento ajuda a provocar seu afastamento da família ou de amigos que possam te ajudar a sair do relacionamento abusivo.

Essa é uma das maiores mentiras da relação abusiva. Lembre-se que a culpa pelas ações dele nunca é sua. NUNCA. Você não “está pedindo”. Você não “o tirou do sério”. Não se culpe.

A pessoa culpa o álcool ou as drogas para agressividade desmedida.

Isso é sim uma forma de ameaça, de demonstrar a força que tem e de dizer que você pode ser a próxima.

Pode parecer óbvio, mas é sempre bom lembrar: não, não está tudo bem, isso não é certo, você não merece e – novamente – isso não é sua culpa.

Tem “pavio curto”, mas no momento seguinte pode se mostrar arrependido(a) e extremamente carinhoso(a). O que começa com um grito pode sim se tornar um tapa no futuro.

No ciclo da violência, após o momento da explosão, logo vem a “lua de mel”. A pessoa promete que vai fazer terapia, te dá presentes, fala o quanto te ama, te valoriza e te ouve.

Essa é a forma preferida para se fortalecer diante do outro, mantendo a pessoa insegura. Por mais que se faça para merecer um elogio, vai receber o desprezo ou críticas pesadas.

“Foi difícil, quis me matar várias vezes”

“Foram duas relações abusivas. A primeira durou 13 anos. Ele se sentia bonito demais para mim, estava gorda e não conseguia emagrecer de jeito nenhum. Ele vivia falando: “você  tem um rosto lindo, só falta emagrecer”. Quando fazia dieta, ele inventava de trazer pizza, sanduíches, sorvete, para dentro de casa e comia na minha frente. Eu só podia olhar.

Fiz dieta, emagreci, separei e conheci outra pessoa, um príncipe. Só que aos poucos ele mostrou sua possessão. Eu tinha que viver para ele, pôr comida no prato dele. Nunca me agrediu fisicamente, mas meu psicológico estava um caos. Quis me matar várias vezes.”

teste de violencia

Faça o teste de VIOLÊNCIA DOMÉSTICA e descubra se você é vítima.

Fonte: Ministério Público do Estado do Espírito Santo

eu sobrevivi

“Ele sempre pedia perdão depois de me agredir”

A balconista Lúcia (nome fictício), 28 anos, casou-se jovem, aos 18 anos. Viveu uma relação abusiva com o marido por nove anos. Neste período, foi estuprada por ele. O casal separou-se há quase um ano. Porém, ela conta que ainda é perseguida e sofre com as constantes humilhações do marido.

Como foi o início da sua relação?

Foi um sonho, tudo era lindo. A gente fazia tudo junto, ele me ouvia, me presenteava, dizia que eu era linda. Era tudo perfeito, igual em novela.

Quando começaram os abusos?

Perto de completarmos um ano de namoro. Ele me seguia me vigiava o tempo todo. Controlava meu celular, com quem eu falava, minhas roupas. Comecei a ficar paranoica.

Pensou em acabar tudo?

Sim, mas fiquei grávida. Com o bebê a caminho, fui me envolvendo mais. Foi bem difícil, mas não podia contar com ele para nada. Era obrigada a dar satisfação de um alfinete que comprasse para o bebê. Dizia para mim mesma: “melhor com ele do que com filho nos braços e sem ninguém”.

Quando começou a te bater?

Depois que nosso filho nasceu. Primeiro eram safanões, que evoluíram para socos no rosto e um dente quebrado. Ele se arrependia e me pedia perdão. Eu ficava com pena, achava que ele precisava de ajuda. Cada vez mais fui achando que eu dava conta sozinha de muda-lo. Até que não aguentei mais. Separei-me.

E ele, como reagiu?

Foi um inferno, mas depois ficou quieto. Arrumou outra mulher. Mas até hoje ele aparece na minha casa pedindo para voltar. Numa dessas ocasiões, bêbado, quis me obrigar a fazer sexo com ele. Disse que não e apanhei. Ele já tinha feito sexo comigo obrigada.

Para onde ligar

Se você está em situação de violência

– Saiba que não está sozinha.

Não é culpa sua.

– Não se trata de briga de casal e, sim, de violação de seus direitos humanos.

– É responsabilidade do Estado e de toda a sociedade o enfrentamento à violência de gênero.

Procure os órgãos públicos – saúde, assistência social, segurança pública e justiça – para conhecer os equipamentos disponíveis (por exemplo, Casa da Mulher Brasileira, casas de passagem, casas – abrigo, CAM, CRAS, CREAS, CAPs, unidades de saúde e varas judiciais, promotorias, defensorias e delegacias especializadas).

Não tenha vergonha de pedir ajuda inclusive psicológica se necessário, para atravessar as fases de conscientização, preparação, ação e manutenção.

– Ligue para SPM (Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República), no número 180 e peça informações.

– Se possível, registre ocorrência na delegacia (especializada da mulher, se houver na sua região) de todos os episódios de violência.

– Mas saiba que não há apenas a solução criminal para seu caso – há alternativas psicossociais e providências nos Juízos Cíveis e de Família, inclusive indenização por danos materiais e morais.

– Solicite medidas protetivas, elas não são apenas um pedaço de papel, porque:

1. Facilitam o acionamento de emergência via 190.
2. Marcam a data a partir da qual o(a) agressor(a) deve se afastar ou se abster de aproximação e contato, sob pena de decretação de prisão preventiva.

Quando a situação é de emergência

Se você está em situação de violência constante ou rompeu, mas o (a) agressor (a) está inconformado (a), procure desenvolver um plano de segurança. Algumas das opções abaixo podem se aplicar ao seu caso, confira:

– Tenha um celular consigo a todo o momento.

– Coloque ao menos o número de uma pessoa de sua confiança para discagem rápida em seu celular.

– Oriente essa pessoa para, ao receber a ligação, se houver silêncio ou gritos, acionar o número 190, ou combine com essa pessoa palavra ou frase para indicar sua situação de risco.

– Mantenha aparelho telefônico em cômodo que você possa trancar pelo lado de dentro.

– Informe a seus vizinhos a existência de medida protetiva e peça-lhes para acionarem o número 190 em caso de aproximação do(a) agressor(a) e/ou combine com eles palavra, frase ou gesto para indicar sua situação de risco.

– Se o (a) agressor (a) se mudou, troque o segredo das fechaduras.

– Identifique a saída mais fácil (porta ou janela) da sua casa.

– Evite banheiros, closets, despensas ou cômodos muitos pequenos onde o (a) agressor (a) possa encurralar você. 

– Evite cozinha, depósitos, garagem ou todo local em que o(a) agressor (a) possa ter acesso a arma de fogo ou arma branca (faca, facão, tesoura, canivete).

– Pense antecipadamente quem (vizinho, amigo, familiar) você procuraria em caso de emergência.

– Memorize endereço e/ou telefone dessa pessoa, ou tenha no celular ou local de fácil acesso.

– Mantenha sua bolsa organizada com tudo o que possa precisar em caso de fuga.

– Mantenha bolsa extra, em local próximo a sua saída mais fácil, contendo cópia de documentos seus e das crianças, dinheiro, medicamentos e chaves.

– Mantenha consigo todo o tempo cópia da medida protetiva (na bolsa, na bolsa extra, dentro do seu veículo).

– Forneça cópia da medida protetiva para as pessoas de sua confiança.

– Forneça cópia da medida protetiva à coordenação da creche ou da escola de suas crianças.

– Informe à coordenação quem está autorizado a retirar as crianças.

– Forneça cópia da medida protetiva a sua chefia no trabalho.

– Forneça fotografia e/ou descrição do (a) agressor (a) a seus colegas de trabalho e funcionários da recepção e segurança para que possam identificá–lo (a).

– Ensine a seus filhos o endereço da própria casa e o seu telefone, bem como os de familiares e amigos, mostre a saída de segurança.

– Indique quem procurar em caso de emergência e como ligar 190.

– Não viole a medida protetiva – recebendo, telefonando, ou trocando mensagens com o (a) agressor (a).

“ENQUANTO CHORAVA DE DOR, OUVI ELE RECLAMAR QUE MULHER SÓ PRESTAVA PARA SEXO, E NEM PRA ISSO EU SERVIA”

“Conheci meu ex-marido com 21 anos, e os abusos começaram cedo. Com dois meses de namoro, eu ia passar o réveillon daquele ano com minha irmã, mas ele me obrigou a ir com a família dele. Na casa deles, debochou da minha roupa na frente de todos. A família dele era de poder aquisitivo maior e ele sempre se achou superior por isso. Mas o pior estava por vir.

Dias depois ele me acordou querendo sexo. Quando neguei, por estar com sono, fiquei sem ar com o soco que recebi nas costas. Enquanto chorava de dor, ouvi ele reclamar que “mulher só prestava para sexo, e nem pra isso eu servia”. Quando meu choro começou a ecoar alto no silêncio da madrugada ele ficou com medo dos vizinhos chamarem a polícia e começou a tentar me acalmar. Minha vontade era ir embora, mas eu estava desempregada, não tinha dinheiro, não conhecia o bairro onde estávamos e já era bem tarde. No outro dia, foi como se nada tivesse acontecido.

Ele tinha curso técnico e eu, só ensino médio. Por causa disso, sempre ouvia que eu era burra e incompetente. Quando consegui um emprego achei que isso iria diminuir a implicância. Mas ele ficou ainda mais descontente e minha nova conquista virou motivo de piada por ganhar apenas um salário mínimo.

Muito tempo passou e muita coisa aconteceu. Passei em concurso, ingressei na faculdade e decidimos morar juntos e marcamos a data do casamento civil. Nesse meio tempo ele não parava em nenhum emprego e me destratava cada vez mais. Mas eu acreditava que com o casamento isso iria mudar, seu eu fosse mais carinhosa, ele iria perceber…

No dia do casamento, enquanto eu me arrumava, ele chegou por trás e disse: “Olha bem pro espelho, olha como você ficou ridícula nesse vestido, com essa maquiagem que parece um palhaço. Você devia levantar as mãos para os céus por eu estar com você, ninguém mais vai te querer”.

Depois disso, ficamos juntos mais 18 meses. Eu já me casei pensando em separar, mas ele tinha uma doença degenerativa no ombro e eu me sentia muito responsável por ele por conta disso. “Ninguém da minha família cuida de mim, só você me ama, eu vou ser alguém melhor” eram algumas das coisas que ele repetia e eu ia ficando, até que não deu mais.

Ele não quis dar a separação de cara, mas acho que depois viu que seria vantagem pra ele, financeiramente. E que eu não aceitava mais seus maus-tratos da mesma forma, eu já estava cansada, no meu limite, respondendo suas provocações. Ele tentou voltar, mas eu não aceitei. Felizmente, segui minha vida, trabalhando e estudando. Hoje, não tenho notícias dele e nem quero saber”.