Aquela história de que meio ambiente e agricultura não podem andar juntos ficou para trás. Se antes no campo os longos períodos de estiagem eram risco para a sobrevivência dos negócios, hoje eles se tornaram o propulsor de uma mudança de mentalidade.
Novos hábitos e consciência ambiental estão sendo adquiridos no presente, uma vez que se notou que cuidar das nascentes e da vegetação garante tranquilidade no futuro. Essa tranquilidade tem nome: segurança hídrica.
Foi pensando nisso que o produtor rural Marcos Pellacani, de 50 anos, decidiu conciliar preservação ambiental, sustentabilidade e desenvolvimento. Com uma pequena propriedade rural, de 18 hectares, em Santa Teresa, ele decidiu aderir ao Programa Reflorestar, do governo do Estado, há cerca de 3 anos, para restabelecer as condições naturais da suas terras.
“Eu acompanhei a realidade do Espírito Santo com a recente crise hídrica e enxerguei no projeto a oportunidade de garantir a segurança hídrica da propriedade no futuro. A minha propriedade não tinha nada de cobertura natural, estava exaurida. Meu objetivo era reverter isso e, como consequência, aumentar a produção de água das três nascentes que tem aqui na propriedade”, conta.
Na terra em que planta frutas e eucalipto, Marcos fez três trabalhos junto ao programa. A recuperação de áreas degradadas e a conservação das plantas que já vinham crescendo naturalmente, a regeneração do plantio com mudas nativas da Mata Atlântica, e a implantação de um Sistema Agroflorestal para desenvolver mudas que no futuro poderão lhe gerar renda.
“Eu consegui unir a minha preocupação com a necessidade que teremos no futuro, e a facilidade e o incentivo que o programa dá pra gente aderir. É muito acessível trabalhar”, explicou.
COMO FUNCIONA
De acordo com o secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Aladim Fernando Cerqueira, a ideia do Reflorestar nasceu justamente do objetivo de se garantir segurança hídrica no futuro para os produtores rurais. E a adesão destes à ideia aponta para uma mudança de mente significativa no campo, com mais consciência do uso do solo para a água da chuva infiltre e vá para as nascentes.
“O produtor enfrentou uma crise hídrica severa nos últimos anos, que o fez enxergar a importância de cuidar da floresta e do bom uso do solo. A questão era financiar isso, já que o produtor, por si só, não tem recursos. É aí que entra o governo, fazendo e propondo isso. A troca de gerações é um dos motivos que tem levado à abertura de mente, mas não só ela. As pessoas estão mais conscientes de que um dos maiores desafios que a sociedade vai enfrentar no futuro é a água”, afirma.
A meta do programa é recuperar 80 mil hectares até 2020 por meio de ações de restauração e conservação da vegetação nativa, evitando desmatamento e com incentivo de arranjos florestais de uso sustentável. Segundo Aladim, até o momento o Reflorestar já alcançou 2.856 produtores em 74 municípios capixabas, com investimentos que superam R$ 60 milhões.
“Além de fazer um monitoramento da Mata Atlântica, o Reflorestar faz o produtor recuperar a floresta e receber pelo serviço ambiental que ele prestou, sendo pago por essa recuperação. Ele recebe os insumos para isso e, em alguns casos, até uma renda. Isso incentiva o produtor e recuperar e cria um modelo. Esse é o legado dele. Não existe uma escala de recuperação maior no Brasil do que a que estamos fazendo aqui”, ressalta.