É raridade, nos dias de hoje, ver um jovem sem o celular em mãos. A maioria utiliza o aparelho principalmente para acessar as redes sociais – uma curtida aqui, um meme ali, um compartilhamento acolá. Faz parte dos novos hábitos de uma juventude que já nasceu multiconectada. E nesse universo há quem já use o celular, também, para estudar. Assim, lápis, borracha e cadernos, materiais básicos para o dia a dia dos alunos em sala de aula, ganharam um reforço queridinho dos jovens: a tecnologia.
A pesquisa mais recente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic) aponta que 56% dos professores brasileiros utilizam o celular para desenvolver atividades com os alunos. A professora Jeane Pignaton Agostini, por exemplo, dá aulas de biologia na Escola Viva São Pedro, em Vitória, e desde o ano passado mescla a utilização dos materiais tradicionais com a tecnologia.
“Os alunos já têm acesso à tecnologia e, ao trazê-la para a sala de aula, isso gera interesse no aluno. Se a gente ficar só no papel e no quadro, acaba ficando muito cansativo e não os estimula. Por isso, a ideia é levar o cotidiano do aluno para sala de aula”, afirma a professora.
A princípio, Jeane utilizava materiais como slides e vídeos, que proporcionavam aulas mais expositivas. Em 2018, a mistura do tradicional com a tecnologia foi um pouco além, e a professora passou a adotar ferramentas mais interativas. Assim, entram em cena aplicativos de perguntas e respostas referentes aos conteúdos passados, o Google Sala de Aula – que permite criar um ambiente onde o professor possa compartilhar com os alunos materiais, bem como criar e receber tarefas e trocar informações através de e-mail e mensagens instantâneas – e vídeoaulas.
“A mudança não é radical e tem que ser feita de forma gradativa. A minha ideia é, aos poucos, unir tecnologia aos conteúdos, sem deixar de lado os materiais tradicionais”, defende a professora.
A galera “dá like”
O método tem sido aprovado pelos estudantes. A aluna Luanda Mayra dos Santos, 15 anos, é da Escola Viva São Pedro e destaca que com a tecnologia é mais fácil despertar o interesse em aprender. Ela descarta a ideia de que usar o smartphone para estudar atrapalha a concentração ou o raciocínio.
“Eu acho interessante, chama a atenção dos alunos, eu consigo aprender mais. Eu vejo muitas vídeoaulas e não perco a atenção. Atrapalha mais ter uma pessoa falando perto, tirando nossa concentração, do que usar o telefone pra estudar”, garante.
Maria Antônia Dias da Silva, colega de Luanda, concorda com a amiga e diz que o bom aproveitamento da tecnologia passa pelo senso de responsabilidade dos alunos. “Eu não me distraio estudando pelo celular, a gente sabe a hora que a gente tem que dever a hora de lazer”, afirma.
Já Pâmela Pinheiro, 15 anos, que também da unidade de São Pedro, destaca a praticidade como ponto positivo de usar a tecnologia para estudar. “O método tradicional não traz tanto interesse. A tecnologia facilita bastante porque a gente consegue acessar o material de qualquer lugar”, pontua a estudante.
Como a grande maioria dos jovens, as três estudantes permanecem conectadas depois das aulas e isso, segundo Pâmela, facilita aprofundar o conhecimento.
“Com as novas ferramentas que conseguimos acessar nos celular, ficamos mais interessados e conseguimos aprofundar o conhecimento. De pesquisa em pesquisa, vamos além do que foi mostrado em sala de aula”, garante Pâmela.
Incentivo
Unir tecnologia a métodos tradicionais de ensino fica mais fácil e melhor aproveitado contando com equipamentos e estrutura de qualidade. É por isso, que a Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo fortaleceu os investimentos nesta área, através do programa Sedu Digit@l. A iniciativa propôs, entre outras ações, o reforço da aprendizagem e aprofundamento dos estudos usando plataformas de busca de conteúdos digitais como Pré-Enem Digit@l; EJA e CEEJA Digit@l e Plataforma de Cursos.
Além disso, a Sedu disponibilizou 100 carrinhos e mais 4 mil notebooks que serão distribuídos para 100 escolas em diversos municípios do Estado. Cada um desses carrinhos contém 40 notebooks. Os carrinhos servem como laboratórios móveis que proporcionam ganho do tempo de aula, além do uso em outros ambientes da escola, sem necessidade de mobiliário específico e instalações elétricas.
Texto: Beatriz Marcarini. Fotos de Gabriel Lordêllo.