Na água represada, o reflexo da esperança

No espelho d’água da barragem do rio Liberdade, em Marilândia, o produtor rural Lorival Milanezi, de 69 anos, vê refletida a esperança de um novo tempo. Naquele mesmo local, porém, não havia nada há cerca de dois anos: nem barragem, nem esperança, nem mesmo o rio, que havia secado em função da longa estiagem que chegou a colocar o Espírito Santo em situação crítica, beirando o risco de racionamento de água para a população.

O produtor rural hoje mora em frente à represa e, juntamente com o sogro já falecido, cedeu uma área da propriedade para a construção da barragem, que tem capacidade de armazenar 62 milhões de litros de água – uma atitude que mostra que, muitas vezes, é uma ação do presente quepode garantir um futuro melhor. Aposentado, Lorival atualmente se dedica à produção de café conilon que tem na pequena propriedade, de onde tira o sustento da família.

“A barragem aqui era um sonho, e há muitos anos se falava disso. Ela auxilia no abastecimento urbano mas também está ajudando muito a gente aqui no campo, porque nós sofríamos muito com a seca. A represa nem é tão grande, mas para a gente tem um significado enorme”, conta.

Essa garantia de abastecimento para produtores, a exemplo do que acontece com Lorival em Marilândia, com o reservatório de água na localidade de Alto Liberdade –, também está chegando para milhares de capixabas. Em todo Espírito Santo, já são 13 barragens concluídas e entregues e 15 com obras em andamento, atendendo desde já 18 municípios do Estado. Realizações do Programa Estadual de Construção de Barragens, uma iniciativa da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).

Irrigando o futuro

Para combater o fantasma da seca, do prejuízo na produção e da falta de competitividade, um investimento arrojado foi feito para estocar os recursos hídricos. Ao todo, R$ 60 milhões são previstos em investimentos para a implantação de 60 reservatórios hídricos. Com isso, ganha o pequeno produtor, como o Lorival; a cadeia do agronegócio; e toda a população, que tem mais oportunidades e variedade de alimentos independente da estação do ano.

“Isso é a condição de vida e de trabalho da gente mudando, e para melhor. Dá mais confiança”, comenta Lorival Milanezi, que acrescenta que basta um pouco de chuva para o reservatório em frente à sua casa ficar cheio: “Só chover que já enche e fica aquela beleza”, conta, com ares de felicidade.

O Programa Estadual de Construção de Barragens prevê que a capacidade de armazenamento dos reservatórios, após serem todos concluídos, será de 35 milhões de litros de água, o que corresponde a cerca de sete mil caixas d’água de cinco mil litros.

Maiores barragens

Distribuídas pelo interior do Estado, as barragens possuem diferentes tamanhos e capacidades. A maior delas é a que fica na divisa dos municípios de Pinheiros e Boa Esperança, com capacidade de 17 bilhões de litros d’água – quantidade suficiente para abastecer uma população de 310 mil habitantes por um período de um ano.

As obras deste projeto começaram em 2003, inicialmente tocadas pela Prefeitura de Pinheiros. No entanto, no governo do Estado assumiu o projeto em 2016 e, em março deste ano, o projeto, que tem tamanho equivalente a 256 campos de futebol, foi entregue à comunidade.

Em outubro passado, o Estado deu mais um passo para garantir água, também, à Região Metropolitana, ao assinar o contrato para a construção da barragem do Rio Jucu, entre Domingos Martins e Viana. O projeto é orçado em quase R$ 97 milhões, terá capacidade de armazenar 23 bilhões de litros d’água e atenderá 1,2 milhão de moradores nos municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica e parte de Viana.

Reforçando o compromisso com o amanhã, além da construção das barragens, cada uma dessas iniciativas também conta com trabalho de reflorestamento dos entornos, com plantio de mudas nativas da Mata Atlântica e recuperação de áreas degradadas.

“Esse é um legado para o futuro”

Gerenciado pela Secretaria de Estado de Agricultura (Seag), o Programa Estadual de Barragens nasceu justamente para fazer com que o Espírito Santo esteja mais preparado para enfrentar longos períodos de estiagem sem tanto impacto na economia, como ocorreu em 2015 e 2016, e sem prejuízos tão intensos aos agricultores.

Segundo o gerente de Infraestrutura e Obras Rurais da Seag, Winker Denner, nos últimos tempos o Estado tem vivido diferentes crises hídricas. “Tem hora que tem água demais, tem hora que de menos. E como nós não temos aquífero, é preciso reservar a água de alguma forma para que ela não vá para o mar”, explica.

Denner destaca que até então não existiam reservatórios construídos pelo Estado, apenas barragens para geração de energia, que são de empresas: “Precisou que se mudasse aquela cultura para entender a importância do investimento em barragens para a segurança hídrica”.

Essa segurança, segundo o especialista, é revertida na melhoria de oportunidades para o Estado. “Isso vai permitir que o agricultor tenha mais segurança para investir na produção, porque não vai correr o risco de perder a produção por uma questão de seca e a terra vai ficar mais produtiva”, explica Denner.

Diante do novo cenário, o gerente da Seag complementa: “Só quem anda o Estado percebe a necessidade disso. Tem regiões com um grande potencial econômico de produção do agronegócio, mas que convivem com a sequidão que impede o crescimento. Fora que, além do impacto rural, ela ajuda ainda no controle de alagamentos e do fluxo das águas na zona urbana. Então é um legado que fica para o futuro, para todos, com uma cultura que se forma a partir de agora, de preservação e cuidado”.