O secretário de Estado da Saúde, Ricardo de Oliveira, defende esforços para um salto na qualidade de atendimento na saúde pública, com destaque para as unidades da Rede Cuidar. Ele ressalta que esse novo modelo evita que a população tenha que fazer grandes deslocamentos para realizar tratamentos. E destaca também um efeito positivo que já pode ser sentido após a inauguração das primeiras unidades dos complexos de especialidades no interior do Estado: “Os profissionais não estão mais enxugando gelo”.
A seguir, Oliveira fala das mudanças no sistema de saúde e expectativas para o futuro após esses quatro anos de investimentos na rede estadual. Confira:
O que muda no modelo de saúde pública com a Rede Cuidar?
O especial da Rede Cuidar é que ela muda radicalmente o modelo de atenção. O modelo atual de atenção do SUS (Sistema Único de Saúde) é para doença antiga. Esse modelo precisa ser atualizado para a realidade epidemiológica de hoje. Hoje temos doenças crônicas, diabetes, hipertensão, câncer. Então é uma carga de doenças que nós não tínhamos décadas atrás com o volume que tem hoje. 70% dos óbitos hoje são devidos a doenças crônicas. E o sistema de saúde precisa ser reorganizado para atender essa nova realidade epidemiológica. Do jeito que ele está organizado, não consegue tratar direito essas doenças. Essa é a motivação.
Então, a seu ver, esse modelo multidisciplinar está mais focado na prevenção?
Em tudo. Ele traz de diferente, primeiro, foco na doença crônica. Segundo, é centrado na resolutividade da atenção primária. 80% dos problemas de saúde da população se resolvem com atenção primária resolutiva. Então temos que modificar o modelo de atendimento de cada unidade básica do Estado. São mais de mil. Se você muda a base, você resolve 80% dos problemas do lado da casa da pessoa. E evita inclusive que agrave o quadro e venha a precisar de atenção especializada ou até hospital. Mais ou menos 30% dos atendimentos em hospital são devidos à falta de resolutividade na atenção primária. Olha o volume de gente que está indo para hospital que não precisaria se estivesse sendo atendida na base.
E como a Secretaria de Saúde preparou esse novo modelo?
Os funcionários são preparados. Tudo tem hora marcada. Por exemplo, a unidade de saúde que já passou pelo processo de mudança não tem mais aquela confusão na porta. Está tudo organizado. Tem hora marcada até na unidade básica. Você tem vacina nas unidades, muitas não tinham. E territorializou tudo. Isso significa que aquela unidade estabeleceu com clareza a população que ela tem que atender. É muito focado. Primeiro definiu a população. Segundo, estratificou o risco dessa população. Quantos tenho de diabéticos, quantos tenho de hipertenso. Toda a necessidade daquela população, ela identifica. E a partir daí organiza o atendimento. Ou seja, o atendimento é organizado a partir da necessidade e não da oferta de serviços.
Como a Rede Cuidar entra nessa história?
Com esse novo modelo, ela consegue saber quem precisa de atendimento especializado. É esse grupo que precisa de atendimento especializado que vai ser enviado para essa unidade da Rede Cuidar. Porque esta unidade é de apoio à unidade básica de saúde e é função dela fazer consultas e exames especializados, na medida em que a atenção primária é a porta de entrada para o sistema. Essa é a questão central da Rede Cuidar.
E sobre as pessoas que têm que viajar para buscar atendimento?
Queremos acabar com isso. Essa interiorização do atendimento, principalmente na questão especializada, evita que as pessoas fiquem em viagem em direção a Vitória. No máximo vão viajar para sua própria região de saúde. Essa questão de idas e vindas é um outro diagnóstico importante. Imagina, ele é diabético e tem que marcar cardiologista. E depois tem oftalmologista e tem que fazer essa via-crúcis toda de novo. Olha só que maluquice. Hoje acabou tudo isso.
Quais são as expectativas para este modelo nos próximos anos?
Esse é um plano de Estado construído a quatro mãos entre governo e municípios. Inclusive essas unidades todas do interior estão sendo administradas pelos consórcios municipais com a participação de todas as prefeituras. Esse não é um projeto que estamos tocando sozinhos. É Sesa e 78 municípios.
Texto: Katilaine Chagas | Foto: Gabriel Lordêllo