“Dizer que os jovens não querem nada não é verdade”, defende secretário

Uma das políticas prioritárias da atual administração, o Ocupação Social contribuiu para a redução de 42,1% dos homicídios de jovens, de 15 a 24 anos, nos bairros beneficiados pela iniciativa. A queda nas ocorrências violentas, estimada por números oficiais do governo do Estado, é apenas uma das conquistas do programa, uma vez que também abriu as portas para a educação, cultura e a qualificação profissional.

O secretário estadual de Direitos Humanos, Leonardo Oggioni, lembra que o programa começou a ser delineado justamente a partir dos altos indicadores de homicídios em alguns bairros, onde a maioria das vítimas era jovem. Ao aprofundar esse estudo, com a parceria da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), identificou-se que grande parte também não estudava nem trabalhava.

A atenção da equipe de Oggioni voltou-se para os 25 bairros onde o problema era mais evidente – Bairro da Penha, em Vitória, foi contemplado depois – e, com o apoio da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), identificou 6 mil jovens que estavam fora da escola.

“Era justamente o público-alvo do programa. Com o resultado dessas pesquisas, surge o Ocupação Social. Os principais objetivos eram mapear os jovens fora da escola, escutar e conhecer o seu perfil e o da família, saber as perspectivas de futuro para, a partir daí, montar o programa”, conta.

Nesse processo, afirma o secretário, percebeu-se que os jovens queriam sim estudar, ter mais acesso à cultura, esportes, qualificação, inclusive para empreender, montar o próprio negócio. “O senso comum diz que eles não querem nada; isso não é verdade”, ressalta.

Num ambiente de alta vulnerabilidade, de concentração de pobreza, desocupação ou trabalho mal remunerado concorrendo com a escola, não é difícil que muitos jovens se sintam seduzidos pelo caminho da criminalidade. Para estes, há quem diga que a opção é construir mais unidades de internação – tese contestada pela Secretaria de Direitos Humanos.

“A solução do problema não passa pela construção de novas unidades; ela é muito mais complexa e exige que a gente feche a porta de entrada porque, se não trabalhar com esses jovens e evitar que entrem no sistema socioeducativo, serão eles os mesmos a entrar no sistema penal. É uma questão de educação, de mantê-los na escola, torná-la atrativa para evitar a evasão. E, na outra ponta, criar a qualificação e a oportunidade para esse jovem. Aí entra o Ocupação Social”, destaca Oggioni.

O trabalho sistemático das secretarias integradas ao programa têm colaborado para os bons resultados. “O Estado tem conseguido sucesso na redução da evasão como um todo e, no mesmo sentido, a redução de homicídios. E é muito interessante observar que, nos bairros atendidos pelo Ocupação Social, a queda é ainda maior”, frisa o secretário.

“Comecei a pensar: ‘O que vou fazer daqui a cinco, seis anos?’. Então, decidi que quero entrar na faculdade. Mas, mesmo hoje, toda informação que eu puder acumular nesses cursos que estou fazendo também será importante para mim daqui a um tempo”, avalia.

Visibilidade

A música também faz parte da vida de Rhayan Lucas Cardoso da Silva Santana, 19, técnico em Segurança do Trabalho durante o dia, e MC à noite e nos fins de semana. Do bairro Planalto Serrano, na Serra, ele integra o grupo de rap Aikaclan. Para o jovem, o Ocupação Social deu mais visibilidade à arte a que ele e os amigos se dedicam. “Já fizemos alguns shows e isso ajuda bastante, não só porque as pessoas conhecem nosso trabalho, mas também pelo fato de alguns MCs estarem desempregados e, com as apresentações, ganhamos um cachê”, afirma.

Rhayan Lucas revela que o grupo participou da seleção de um edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e ganhou a oportunidade de oferecer oficinas de poesia também pelo programa. “Esses projetos são importantes para a gente divulgar a arte, promover a cultura na comunidade”, sustenta.

Assim como Eliseu e Rhayan Lucas, outros tantos jovens encontraram no Ocupação Social – presente em 26 comunidades do Estado – uma perspectiva para suas vidas, dando o rumo que sonhavam, mas que não sabiam como iriam conseguir chegar até lá.

Mais oportunidades

É o caso de Thatyla Almeida Couto, 21, moradora de Jardim Carapina, na Serra, e hoje estudante do segundo período de Arquitetura. Esse sempre foi o curso que ela quis fazer, mas que só foi possível tornar-se realidade por meio do Nossa Bolsa, programa do governo que concede bolsas de graduação e pós a alunos da rede pública em instituições particulares de ensino superior. Para quem é dos bairros de abrangência do Ocupação Social, foram reservadas 20% das vagas.

Thatyla chegou a iniciar outro curso – escolhido pelo baixo custo e que ainda assim os pais se esforçavam para conseguir pagar, mesmo com desconto – mas não se identificou. “Fiz apenas um período de Administração porque minha vontade sempre foi Arquitetura. Na aula, eu ficava só desenhando e todo mundo dizia que eu estava no curso errado. Depois que saí, fiquei um ano parada, até que soube do Ocupação Social. No programa, fiz curso de fotografia e auxiliar de escritório”, lembra.

Além de buscar qualificações, Thatyla mantinha contato permanente com membros do programa e foi assim que tomou conhecimento do Nossa Bolsa, se candidatou e foi aprovada: “O curso é difícil, preciso me dedicar bastante porque eu estava sem estudar desde 2014, mas estou muito feliz por este momento”, comemora a jovem.

Texto: Aline Nunes | Foto: Gabriel Lordêllo