A vida não se resume a essa escolha

Mais de 25 anos só de carreira na televisão. A alma de Serginho Groisman, de 68 anos, no entanto, respira muita juventude. Acostumado a falar sobre o  jovem e para o jovem, o apresentador viu seu Altas Horas, sucesso nas noites de sábado da Globo, completar nada menos que 18 anos agora em outubro.

Em entrevista ao Guia de Profissões, Groisman, que chegou a abandonar duas faculdades no meio, fala da angústia dos estudantes  na hora de escolher qual carreira vai seguir. “Considero equivocado colocar essa responsabilidade agora. É muito cedo ainda, e a vida não se resume a essa escolha que ele está fazendo agora”, pontua o apresentador, que antes de se formar em Jornalismo, tentou os cursos de Direito e História. Confira a entrevista.

 

Por que você gosta tanto de falar com o jovem? O que mais te atrai nessa faixa etária?

O que me atrai é o fato desse público não ter filtro, sabe? O jovem fala aquilo que ele pensa, ele não fica pensando muito nas consequências. Tem um pouco daquilo que, muitas vezes, o jornalismo não consegue fazer, que são perguntas mais diretas, mais claras, mais objetivas.

 

E quais as principais dificuldades para ter uma comunicação com esse jovem?

Acho que as dificuldades são as mesmas, referentes à formação da juventude. A grande novidade que a gente tem no mundo é a internet, que é um divisor de águas. Acho que, neste momento, a gente tem um jovem preocupado, mas a escola precisa ser repensada.

 

Qual a falha na formação dos jovens?

O jovem precisa ainda ler mais no Brasil. A gente precisa ter uma política educacional melhor, valorização maior dos professores e aí nós teremos um jovem melhor.

 

Para você que acompanha a juventude, é uma fase difícil para tomar uma decisão tão importante como escolher para qual curso vai prestar vestibular?

É um momento difícil. Considero equivocado colocar essa responsabilidade agora. É muito cedo ainda. Eu mesmo fiz três faculdades: uma de Direito, que larguei no meio; fiz uma de História, que também larguei; e fiz Jornalismo. Acho que as pessoas, nesse momento de escolher a profissão, precisam ter um pouquinho de tranquilidade porque você pode voltar e escolher outro caminho durante a vida. A vida não se resume a essa escolha que ele está fazendo agora.

Acha, então, que essa escolha da carreira teria que ser postergada?

Não necessariamente. O jovem é que tem que ter tranquilidade, porque não dá para reformular esse modo de pressão sobre ele. O jovem é que precisa estar mais tranquilo.

Como ele pode ter essa tranquilidade em um momento tão decisivo como esse?

Ele tem que entender que a vida dele não se resume a uma tomada de decisão nessa hora.

 

Como você avalia essa metodologia utilizada para selecionar os estudantes que vão entrar na universidade? As provas, o próprio Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)?

Eu mudaria, mas a realidade é outra, é essa que se tem. Gostaria de ter faculdades onde se entrariam não só por perguntas formuladas por uma banca (de vestibular), mas também por questões pessoais, entre outros pontos. Mas é muito difícil de isso ser colocado.

 

O que seriam essas questões pessoais? Identificação com o curso?

É, que se levasse mais em conta a identificação com o curso, princípios morais, éticos. Entender melhor quem é aquele candidato e não só avaliá-lo  pelos conceitos gerais, pelo desempenho na prova.

Até porque se o estudante não estiver bem no dia da prova do vestibular, toda a preparação pode ir por água abaixo…

Exatamente. Existem outros fatores que precisam ser levados em conta.

Quais dicas você daria para o jovem que saiu do ensino médio e está nesse impasse de decidir qual caminho escolher, qual vestibular prestar?

Ter muita paciência. Não precisa ter absoluta certeza do que quer porque, como eu disse, ele pode mudar se achar que não é aquilo que quer fazer e caçar outra coisa. Se você tem um talento, vai ter que ter um pouco de paciência. Talento e paciência vão dar para você aquilo que  procura.

 

Como você começou a enxergar o jovem como seu principal público-alvo?

Desde a adolescência trabalho com jovens. Na escola, já comecei a trabalhar com pessoas da mesma idade que a minha. Comecei a trabalhar cedo e sempre com música, que sempre fez parte da minha vida. Então, essa relação veio há muito tempo. Por sorte, ou qualquer outra coisa assim, meu trabalho sempre foi voltado para o público jovem/adolescente.

 

Dei aula de Rádio e TV na faculdade, na Fundação Armando Álvares Penteado. Fui diretor do curso de Rádio e TV, dei aula na PUC de São Paulo. Minha vida sempre foi ligada à educação, cultura e juventude. Foi assim que fui construindo minhas coisas.

 

 

Foi você que escolheu seguir esse caminho ou foi esse caminho que te escolheu?

Foram as duas coisas. Sempre tive esse desejo mesmo e, ao mesmo tempo, os caminhos foram se abrindo. Comecei como jornalista do jornal impresso e, depois, acabei indo para o rádio. Fui diretor da Rádio Cultura também, em São Paulo, e acabei indo para a televisão.

 

Nesses anos de carreira, você observou alguma mudança no perfil do jovem?

O jovem  mudou porque o mundo se abriu mais com a internet, mas isso, infelizmente, não significa que ele esteja mais bem informado. Creio que o tempo dele nas redes sociais ainda é maior que o tempo de pesquisa.

 

E como você, como comunicador, se adapta a essas mudanças nesse público?

Não procuro me atualizar em saber qual é a gíria ou correr atrás da rede social só para ficar antenado com os jovens. Nunca quis ser uma pessoa parecida com o jovem. Entre as minhas coisas, é claro, tenho interesse pela internet, mas isso independe do trabalho que eu faço.

 

Serginho, você tem uma carreira consolidada, um programa líder de audiência há anos, além de vários outros projetos. Tem alguma coisa que você deseja fazer que ainda não fez?

 

Tenho feito tudo que eu quero dentro do Altas Horas, que não é um programa exclusivo para o jovem, mas também para toda a família. Tem uma plateia adolescente, mas ele fala para todo mundo. Eu gosto de entrevistar pessoas e dentro do Altas Horas eu coloco alguns quadros pessoais, como o “Linha do Tempo” (quadro em que personalidades da televisão, da música e do esporte relembram a infância, o início da carreira e a relação com a família). Já fizemos 18 anos de Altas Horas na TV Globo.

 

Resultado de imagem para altas horas

Falando no Altas Horas, como é o retorno do público, 18 anos após o primeiro programa? E esses novos quadros trouxeram um resultado positivo?

Tem sido ótimo, estamos muito felizes com isso. A audiência é boa, o que a gente ouve do público na rua e também nas redes sociais tem sido muito bom mesmo.

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