Na era dos profissionais ciborgues

Médicos que operam com óculos de realidade virtual. Arquitetos e engenheiros que constroem edifícios com impressoras 3D. Guias turísticos que levam uma pessoa a viajar sem sair do país. A revolução digital tem transformado de forma profunda o mercado de trabalho. Carreiras tradicionais são ocupadas cada vez mais por indivíduos ciborgues, um híbrido de homem e máquina. Novas carreiras também estão surgindo por causa desse processo de mutação. Para se enquadrar nessa nova realidade, o jeito é o trabalhador também se tornar um ser tecnológico. Muitos temem os efeitos dessa aproximação entre o mundo físico e o digital. Acreditam que esta mudança roubará empregos. Mas analistas afirmam que só não terá espaço no novo mercado de trabalho quem não se qualificar.

 

A especialista em gestão de pessoas Kátia Vasconcelos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), esclarece que a tecnologia não tem alterado apenas a forma de as pessoas trabalharem, mas também o jeito como vivem.

“Atividades repetitivas e que precisam de certa agilidade são desenvolvidas agora por máquinas. Cabe ao homem desenvolver a parte inteligente do negócio, por isso é necessário muita preparação do profissional”, explica, de forma enfática: “Todas as profissões são impactadas pela tecnologia.”

Como exemplo ela  cita a área de Direito. “Existe um serviço de inteligência artificial que pode fazer todo o trabalho antes desenvolvido pelo advogado. Há também robôs que realizam as tarefas de enfermeiros, por exemplo. Estas carreiras vão morrer? Não. Elas só serão reestruturadas. Vão exigir novas habilidades, o que é algo bem positivo”, completa. Kátia explica que hoje as pessoas estudam Medicina não para atuar como um médico do passado. “Já existe gente que salva vidas por meio de drones”, destaca ao ressaltar que professores, jornalistas e administradores também serão mais tecnológicos.

“O mercado já entrega pontes construídas em 3D. É preciso que haja profissionais para operar essa impressora de modo eficiente. No passado, o engenheiro usava régua T, porque fazia os projetos na mão. Hoje, o computador produz os cálculos, mas precisa do ser humano para dar a direção.” Outro ponto que ela destaca é que o homem vai fazer o que as máquinas não são capazes de realizar, que é ter relacionamentos e uma visão mais analítica. “Para se enquadrar nesse mundo, o profissional terá que fazer cursos técnicos, de graduação e pós, além de pesquisar e desenvolver muito a leitura.” Algo que tem influenciado muito algumas profissões é a realidade virtual. Várias categorias profissionais estão testando o uso desse mecanismo para otimizar o trabalho e dar mais precisão.

Na área de Medicina, bonecos de plásticos que imitam o corpo humano e os livros começam a dar lugar a óculos que permitem   estudantes e profissionais enxergarem de uma forma diferente os órgãos e ossos humanos. Na construção civil, o sistema é usado para dar mais segurança aos profissionais das empreiteiras. No turismo, a ferramenta permite o consumidor ir a outros países, conhecer pontos históricos sem necessidade de viajar.

 

Novo emprego

Um estudo apresentado no Fórum Econômico de Davos, em 2017, mostrou que até 45% das atividades feitas por profissionais podem ser automatizadas nos próximos dois  anos. No entanto, a mesma pesquisa apontou que 83% das empresas pretendem manter ou aumentar o número de profissionais. Isso mostra que o funcionário vai ter que se adaptar para se manter ativo no mercado de trabalho. Entre as profissões afetadas, estão a de contador, profissionais da comunicação e garçons. Os contadores, por exemplo, tendem a migrar para uma espécie de consultoria de pequenas empresas, atuando como gestores e auxiliando na tomada de decisões.

 

“O setor do telemarketing também  deve ser totalmente informatizado, com o uso de autoatendimento. Mas profissionais serão necessários para lidar com esses sistemas”, comenta o professor de empreendedorismo Danilo Nascimento, do Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc). Na área industrial, segundo a psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, os profissionais que trabalham na operação são os que mais precisam se reinventar. Aos poucos, eles devem ser substituídos por uma programação específica de equipamento, operado por um funcionário especializado. Zouain pontua a importância de se capacitar para conseguir atender às novas demandas do mercado. “A tendência é ir reduzindo essa mão de obra pouco especializada. A hora agora é de entender os recados do mundo novo e se atualizar. A dica para qualquer área, qualquer profissão e profissional é entender como a tecnologia pode tornar seus processos, a área em que atua, mais eficientes e se preparar”, comenta.

 

O professor Danilo Nascimento destacou, porém, que essas mudanças abrem caminho para o  surgimento de novas carreiras, como o arquiteto de big data.

Big data é o armazenamento de um grande conjunto de dados. “Armazenar isso é complexo e precisa da ajuda de um profissional para ser realizado”, explica o professor.

A pesquisa apresentada no Fórum Econômico de Davos, que recebeu o título de “A Revolução das Competências”, apontou que a tecnologia da informação é o setor com maior previsão de crescimento, de 26%, seguido de recursos humanos, 20%, e foco no cliente, com 15%.

Outra profissão transformada pela tecnologia é a de professor, segundo a coordenadora do Núcleo Gestor de Educação a Distância da Escola São Francisco de Assis (Esfa), Gislaine Cruz.

 

“Os professores hoje contam com vários recursos para ministrar esse conteúdo, como chats, grupos virtuais, além dos aparelhos eletrônicos que já eram utilizados na sala de aula. A gente, dessa forma, consegue abraçar o aluno de um jeito mais eficiente porque essas plataformas oferecem recursos e ferramentas para transformar a sala de aula e aumentar o engajamento dos alunos.”

 

Fim de carreira 

Muitos temem os efeitos dessa aproximação do mundo físico e do digital. Acreditam que essa mudança roubará empregos. Mas analistas afirmam que só não terá espaço no novo mercado de trabalho quem não se qualificar.

 

Futuro das profissões

Transformações tecnológicas afetam carreiras ligadas às áreas de Humanas, Biomédicas e Exatas

 

  • Especialista em Direito Digital

A figura do advogado passa por transformações. Um dos ramos que esse profissional pode atuar é o do Direito Digital. Para se aventurar nessa vertente, é interessante conciliar os cursos de Direito e de Tecnologia da Informação.

 

  • Gestor de resíduos

Também conhecido como lixólogo, essa profissão dá um novo rumo a carreiras de engenheiros ambientais, químicos e também aos biólogos. Além da necessidade cada vez maior de cuidar do meio ambiente, a população mundial aumenta a passos largos, e o lixo produzido demanda profissionais habilitados em dar o direcionamento correto para os resíduos sólidos. Não basta reciclar, é preciso diminuir a produção e o impacto do lixo. Encontrar soluções para os detritos urbanos, não só das empresas, transformando-os em fontes capazes de gerar gás e outras formas limpas de energia está entre as atividades primordiais do profissional.

 

  • Médicos e a realidade virtual

Médicos e estudantes de Medicina podem usar um óculos de realidade virtual para conhecer o corpo humano, explorar órgãos e ossos. Também podem trabalhar com a robótica para manipular robôs que fazem cirurgias.

 

  • Enfermeiros tecnológicos

Novos softwares, digitalização de prontuários e exames, atendimentos via videoconferências e equipamentos mais precisos nos diagnósticos são apenas algumas das previsões para a enfermagem do futuro. Além de facilitar o dia a dia desses profissionais, reduzindo horas de trabalho e melhorando o atendimento, essa tecnologia será essencial para salvar vidas.

 

  • Mentes inteligentes

Engenheiros e arquitetos não precisam mais fazer cálculos e projetos, já que alguns programas podem fazer sozinho estes trabalhos. Porém, podem atuar como mentes inteligentes atrás do software para que eles executem as tarefas com mais precisão. Podem ainda coordenar projetos para construção de prédios e estruturas viárias por meio de impressoras 3D.

 

  • Consultor de finanças

Com a tecnologia, contadores perdem menos tempo com tarefas repetitivas e passam a exercer papel de consultores de pequenas empresas. Por meio de softwares de inteligência artificial, o profissional pode diagnosticar a saúde financeira das empresas e propor soluções.

 

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