Aos 66 anos, Gilberto Herbst, professor de História aposentado acorda às 5h da manhã para fazer sua caminha diária no calçadão de Vila Velha. Mas se bater uma preguiça, não tem problema. Dorme até as 8h, fica o dia inteiro na varanda tomando um vinho, faz o que quer. Isso porque ele se enquadra em um perfil em expansão no país. Segundo dados do IBGE, cerca de 45% das pessoas que moram sozinhas no Brasil têm 60 anos ou mais.
Individualidade e autonomia são os lemas dos que chegam à terceira idade com saúde e uma situação financeira confortável, e que, por variadas consequências, acabam optando por morar sozinhos. Gilberto, por exemplo, mora só desde 1999, quando se separou de sua esposa.
“A liberdade é a maior vantagem de ter a casa só para você. No fim do dia, você não tem que dar satisfação para ninguém. Se eu quiser, tomo água direto da garrafa, vou ao banheiro de porta aberta, fico o dia inteiro na varando vendo a paisagem”, brinca o aposentado, que não cogita largar a autonomia de sua residência para ir morar com algum parente.
Escolha
De acordo com a assistente social Sandra Coelho Parolin, há a tendência de idosos preferirem ter o seu cantinho. Segundo ela, eles devem ser ouvidos e respeitados, com o direito de morar sozinho, se essa for sua escolha. Cabe aos familiares criar estratégias, providenciar soluções, para proporcionar bem-estar e segurança para eles.
“Hoje, os idosos não se sentem obrigados a voltar a morar com os filhos após o falecimento ou separação de seus companheiros. O importante é reconhecer que ser idoso não significa perder o direito de escolha, de tomar suas decisões e exercer a sua vontade, pois morar sozinho é um direito”, afirma.
Nada de solidão
A dona de casa Terezinha dos Santos Sales, 68 anos, passou a morar sozinha desde o falecimento do marido, há oito anos. Autônoma e dedicada às funções do lar, ela não impõe limitações aos afazeres domésticos. “Subo até em escada para trocar lâmpada. Gosto de morar sozinha, de tudo organizado ao meu modo. Confesso que fico brava quando as coisas não estão do meio jeito.”
Mas que fique claro: morar sozinho não é sinônimo de solidão. A filha de Terezinha frequenta sua casa rotineiramente, e ela adora receber visitas em seu refúgio, em Guarapari. “Vários parentes mineiros vêm para cá no verão, a casa é grande e sempre fica cheia”, aponta a dona de casa.
Segundo Sandra Parolin, a melhora nas condições de saúde da população idosa e aumento da longevidade, com destaque à maior sobrevivência feminina, são os motivos do crescimento do número de pessoas acima dos 60 anos morando sozinhas. “Para tomar a decisão de viver sozinhos, é fundamental ter boas condições de saúde e um sistema de suporte”, adverte a assistente social.