Depressão pode gerar isolamento social e doenças crônicas em idosos

Solidão, morte de amigos próximos, distância de parentes, perda gradativa da saúde com o avançar da idade. Esse conjunto de fatores levou a aposentada Maria da Penha Souza, 75 anos, a um quadro que acomete muitas pessoas na sua idade: a depressão. Viúva há cinco anos, ela está na faixa etária mais atingida por essa doença que é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “crise global”. 

Segundo dados da entidade, os idosos são o principal grupo acometido pela depressão. Entre os que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da população idosa. Em pacientes hospitalizados ou instalados em casas geriátricas, a incidência da depressão fica entre 40 e 50%. 

O transtorno pode surgir durante o envelhecimento, na maioria das vezes, devido aos acontecimentos que atingem a terceira idade e que podem resultar em uma carga emocional pesada. “Não tinha prazer em mais nada. Não queria mais comer, sair para fazer compras. Eu não tive vontade de morrer, mas viver era uma coisa estranha”, explica Maria. 

De acordo com o médico geriatra e diretor de Medicina Preventiva da MedSênior, dr. Roni Mukamal, o isolamento social tanto pode ser um sintoma da depressão como também um desencadeador da doença. Segundo ele, pessoas que estão acostumadas a viver rodeadas de amigos ou de colegas no ambiente de trabalho tendem a sentir mais o peso da mudança de rotina causada pelo envelhecimento.

 “Os sintomas depressivos em um idoso podem ser diferentes de um paciente adulto. A depressão pode afetar a memória, exacerbar sintomas físicos, como dor no corpo de forma mais frequente, perda de apetite e sono. O idoso fica triste sem motivo, desanimado, perde vontade de fazer coisas que gostava, vai se isolando, ficando mais irritado”, enumera Roni. 

Tratamento 

Apesar de ser considerada uma doença emocional, a depressão pode vir associada a reflexos físicos. Por isso, segundo o dr. Roni, existem questões clínicas que precisam ser abordadas em conjunto para um tratamento mais assertivo contra os sintomas depressivos.

 “O tratamento tem que ser feito de modo multifatorial. Muitas doenças crônicas podem estar ligadas à depressão e isso exige um esforço de toda uma equipe multidisciplinar, de um geriatra, psiquiatra, psicólogo, fisioterapeuta, enfermeiro e demais profissionais que lidam com o idoso”.

 A prescrição de antidepressivos, sessões de psicoterapia ou outra modalidade de terapia, e em alguns casos até a prática de exercícios físicos também ajudam a melhorar os sintomas depressivos. No caso de pacientes que apresentam isolamento social, o papel dos familiares ou amigos é muito importante.

 Segundo o geriatra, a prevenção envolve ter amigos e contatos sociais, uma vida ativa, um propósito, isso fortalece e traz ao idoso resiliência, principalmente quando ocorrerem os momentos de perdas. Exercer a religiosidade também é importante. “O idoso que tem uma religiosidade, e que traz um sentido para as dificuldades e perdas que podem acontecer com o envelhecimento, parece ter um fator protetor”. 

A busca por um propósito na vida foi o ponto de virada da professora aposentada contra a doença. “É preciso achar alguma coisa para se distrair. Entrei para grupo de idosos, passei a frequentar atividades físicas regulares e fiz novos grupos de amigos. A gente percebe que é errado associar a depressão e a tristeza como algo natural da terceira idade. Dá para ser feliz na minha idade”, anima-se Maria da Penha.

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