Dirigir é um grito de liberdade para quem tem mais de 60 anos

Nada menos do que 280 pessoas com mais de 60 anos procuraram o Detran do Espírito Santo nos últimos dois anos para tirar a primeira habilitação

Chamar um motorista de aplicativo? Que nada. Quem passou dos 60 anos está assumindo a direção de seus veículos e saindo às ruas, seja para ir ao médico, ao supermercado, levar os netos ao shopping ou até mesmo para viajar por aí.

Quem garante é o diretor de Habilitação e Veículos do Detran, José Eduardo de Souza Oliveira. Segundo ele, Vem aumentando o número de pessoas que passaram para a terceira idade e que buscam a primeira habilitação.

“A explicação pode estar no desejo por liberdade, na disponibilidade de tempo e na vontade de aprender e de vivenciar novas experiências. Além disso, a maioria desses idosos recém-habilitados possui renda própria, o que facilita o investimento na CNH e na compra do carro”, afirma José Eduardo.

Ainda de acordo o diretor do Detran, até os 65 anos de idade os procedimentos e exames são os mesmos para todo mundo. A partir disso, a periodicidade dos exames cai de cinco para três anos, podendo até chegar a dois anos, conforme avaliação médica.

“Claro que há um declínio da atenção e dos reflexos dos mais idosos, por isso, é fundamental que haja esses exames. Mas é também essencial que essas pessoas mantenham-se em movimento, aprendendo e evoluindo enquanto cidadãos”, elogia.

Denize Martins, 65 anos
Para Denize Martins, de 65 anos, os carros mais tecnológicos, com retrovisores maiores, facilitam a vida no trânsito

A aposentada Denize Martins, de 65 anos, discorda do diretor de Detran: “Somos mais responsáveis e fraternos no trânsito. Nossos reflexos são melhores dos que os de muitos jovens. Além disso, os carros agora são mais tecnológicos, com retrovisores maiores e maior campo de visão. Isso facilita nossa vida no trânsito”, afirma.

Ainda de acordo com Denize Martins, o carro é a sua independência. Segundo ela, dirigir é uma forma de manter a mente sempre em funcionamento, seja em pequenas compras no supermercado, seja em viagens dentro do Estado com os netos.

“Vou à Pedra Azul dirigindo normalmente, muitas vezes sozinha. Ando para cima e para baixo com meus dois netos e pretendo continuar assim por muito tempo”, brinca.

É justamente isso o que recomenda o médico geriatra Roni CHaim Mukamal, diretor da MedSênior. Segundo ele, direção e mente ativa andam juntas quando o assunto é dirigir depois dos 60 anos.

“Não tem mágica. Quanto mais tarefas conseguimos desempenhar, mais sadio e organizado será nosso cérebro. Da opção de passar por caminhos diferentes até aprender uma nova profissão ou tirar a CNH, o idoso precisa se manter em constante aprendizado”, afirma Mukamal.

Saiba Mais

Até quando é possível dirigir?

No Brasil, legalmente não há idade máxima para uma pessoa continuar dirigindo. É necessário apenas que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) esteja em dia.

Mas, a partir dos 65 anos, a renovação, que antes deveria acontecer de cinco em cinco anos, passa a ser obrigatória a cada três.
Diminuir o tempo de prestação de contas ao Conselho Nacional de Trânsito parece óbvio pensando nas mudanças que a idade traz ao corpo.

Manter uma vida saudável, com foco na prevenção

A maior parte dos impedimentos para dirigir entre os idosos são decorrentes de doenças preveníveis. O diagnóstico precoce de problemas de saúde também evita que surjam sequelas que levam a limitações.

Para aqueles que já apresentam alguma dificuldade, é possível tomar algumas providências como evitar muito tráfego, horários de pico e a direção noturna. Os idosos com alguma limitação frequentemente conseguem manter-se ativos na direção quando optam por guiar em horários mais tranquilos, por trechos já conhecidos e, se necessário, acompanhados.

Depressão

É muito importante lembrar que o automóvel representa para muitos idosos a forma de se manter conectado ao mundo de forma independente. Por meio do carro, mantém seus vínculos sociais, principalmente pelas dificuldades no uso do transporte público. A perda da capacidade de guiar representa um impacto emocional muito significativo, favorece o isolamento social e a depressão.

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