Não seja refém da ansiedade

Quem a vê dona Sarah Fafá de Oliveira, 79 anos, pensa logo que ela é a calma em pessoa. “Eu passo essa ideia. Mas sou muito ansiosa!”, assume. Ela faz parte de um grupo de 9,8% de brasileiros – das mais diferentes idades – que apresentam sintomas de ansiedade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O geriatra e diretor da área de Medicina Preventiva da Medsênior, Roni Chaim Mukamal, explica que a ansiedade é comum em idosos. “Claro que alguns trazem isso da juventude. Mas muitos passam a desenvolver esse transtorno durante o processo de envelhecimento”, afirma.

Dona Sarah

Dona Sarah diz que sempre foi aflita, mas garante que agora está mais controlada. “Busco meios de controlar. Tenho lido livros sobre o assunto, faço aulas de dança, faço massagem relaxante…”.

Mas nem todos os idosos têm consciência de que sofrem desse mal-estar. Mesmo diante dos sinais. “A pessoa sente uma constante irritação, fica impaciente, quer sempre fazer as coisas de forma rápida, sente palpitação, pode ter sintomas gastrointestinais… São sinais vagos, comuns em várias doenças, mas que podem significar ansiedade”, aponta o médico.

Acontece de, muitas vezes, o problema vir mascarado por outros. “Ela pode ser um sintoma da depressão. Aí, quando tratamos a depressão, a ansiedade melhora”, afirma o geriatra.

Mas outros fatores podem desencadear o transtorno. “Pode ocorrer em idosos que sofrem de dor crônica, problemas de sono, diabetes, por exemplo. É o fato de terem que lidar com uma doença, com as limitações por causa dessa doença e até por causa da própria velhice. Eles pensam: ‘quem vai cuidar de mim?’, ‘quem vai suprir as coisas em casa, ir ao supermercado, ao banco..?’”, observa Mukamal.

Ele descreve a ansiedade como uma condição em que a pessoa tem a expectativa de algo do qual não se tem domínio. E a velhice entra aí. “O idoso pode começar a pensar sobre a finitude. É o medo da morte mesmo. Tem as perdas, que acontecem comumente na velhice, como a perda do companheiro, de amigos, da capacidade cognitiva, da saúde. Tudo isso gera uma série de expectativas que, quando não são trabalhadas, vão desencadear sintomas ansiosos”, cita o especialista.

Esse desconforto precisa ser tratado, segundo ele. “Até porque se a pessoa está ansiosa, pode sentir a dor de forma mais intensa. O impacto na qualidade de vida é muito grande. É preciso buscar ajuda médica para saber qual o tratamento indicado”.

O problema, no entanto, precisa ter o diagnóstico médico, que vai apontar se se trata de um transtorno ou não. “Vivemos uma época de banalização dos sentimentos. Ninguém pode ficar triste que já querem dar um remédio. Transtornos são males crônicos. É preciso estar por pelo menos seis meses com os sintomas. Não é porque teve um problema de família, porque vai fazer um exame ou uma cirurgia. Essas situações normais geram ansiedade, mas não quer dizer que a pessoa tenha o transtorno”, alerta Mukamal.

Tratamento
Dr. Roni Mukamal, geriatra
Dr. Roni Mukamal, geriatra

Uma vez identificada a ansiedade, o tratamento, aponta ele, pode ir pelo caminho da psicoterapia e contar com ajuda de medicamentos.  “O tratamento é multiprofissional na verdade. Pode ser necessária uma abordagem psicológica. Antidepressivos devem ser usados em último caso, e com acompanhamento médico. Não se deve pegar dica de calmante com vizinho, até porque alguns têm efeitos danosos, afetam a memória, o equilíbrio. A automedicação deve ser evitada”, orienta.

Programe-se para a aposentadoria e fuja da ansiedade

Trabalhar a vida inteira, por 30, 35 anos, e, de repente, parar. Quando seria hora de relaxar, desacelerar, vem a ansiedade para atrapalhar tudo. A aposentadoria é um fator estressante por si só e pode desencadear o transtorno.

“É comum vermos idosos que não se prepararam para a aposentadoria. Não criam um plano, não planejam outra atividade. Fica um buraco. Ele não vê que pode usar o tempo livre para viajar, curtir outras coisas, voltar a estudar, até desempenhar outra função. Mas quando essa organização não é feita, a vida perde um pouco o sentido. Aí vêm os sintomas ansiosos e depressivos”, destaca o geriatra Roni Mukamal, da Medsênior.

É importante, diz ele, continuar com a vida ativa. “O idoso pode buscar atividades de socialização, como aquelas oferecidas em centros de vivência ou a própria igreja, por exemplo, onde há outras pessoas da mesma faixa de idade para conversar, trocar ideias”.

Exercícios físicos também ajudam a melhorar o bem-estar. E o médico ainda indica outra opção: a meditação. “Temos observado que a técnica do ‘mindfulness’, que é a plena atenção, tem se mostrado útil no combate à ansiedade”..

Mas não basta meditar uma vez e pronto. “Não é como se fosse um analgésico.Tem que ser algo regular, com constância, prática diária. Os benefícios vêm com o tempo”, diz ele.

Dona Sarah Fafá, que trabalhou como professora de matemática, aposentou-se há mais de 20 anos, mas nem por isso leva uma vida menos agitada. Mais recentemente, ela incluiu aulas de inglês na rotina. “Aprender um novo idioma ajuda a distrair e é bom para a memória”, comenta ela.

Católica, Sarah ocupa ainda boa parte da semana com atividades na igreja. “A religião é muito importante. Vou quase todos os dias à missa, não por obrigação. Vou quando quero. E eu sempre quero ir”, conta a senhora

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