Mistério

Sumiço de médico capixaba completa dois anos

dor

A esperança por notícias move Elisa

Choro

"A gente lembra dele todo dia"


Reportagem: Guilherme Sillva

Fotografia: Guilherme Ferrari

Uma ferida que não cicatriza

A ausência de qualquer explicação, ou até mesmo de um corpo, paralisa a vida dos parentes de pessoas desaparecidas. E isso é apenas o primeiro passo rumo a um abismo emocional sem fim.

Sempre que olha a foto da filha, presa à imagem de uma santa na cômoda da sala, a doméstica Elisa Regina Corrêa da Silva, 45 anos, sente um sobressalto. Respira fundo, aperta os olhos e reza para que a sua angústia termine. Ela ainda tem esperança de acabar com o mistério assustador que ronda sua vida desde agosto de 2012. Era véspera de Dia dos Pais quando sua filha, Amanda, saiu para um festa caipira da escola em Castelo, Sul do Estado. Nunca mais voltou. Tinha 15 anos, hoje teria 19.

Amanda é uma das centenas de pessoas que atualmente estão desaparecidas no Estado. Mas ela não faz parte das estatísticas. Simplesmente pelo fato de ter apenas uma Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD), localizada em Vitória, que atende somente os casos referentes aos desaparecidos da região metropolitana. Nas demais cidades, os casos de desaparecidos se misturam a muitos outros nas delegacias comuns. Segundo dados da DEPD, somente no ano passado foram 903 pessoas desaparecidas na Grande Vitória, sendo 803 encontradas e 28 mortas.

Nada faz sentido

Elisa nunca mais teve uma noite de sono tranquila. “É muito difícil. Fico pensando em como ela está e se vai aparecer um dia. Não posso perder a minha fé em acreditar que tudo isso um dia será resolvido”, conta ela, sentada numa das duas camas que fica na sala de sua casa, olhando fixamente para a foto da filha.

De repente o tempo parou para Elisa. E a vida se transformou nessa angústia sem tamanho. O almoço de domingo, as festas de aniversário, as celebrações de Natal e Ano Novo, o Dia dos Pais o Dia das Mães… Nada mais faz sentido. Isso sem falar nas lembranças, como a felicidade da filha ao tirar um boa nota na escola ou a diversão dela com as amigas. A vida de Elisa – e de todos os personagens da série de reportagem “Onde está você agora?” – foram postas pelo avesso desde o momento em que o parente sumiu sem qualquer explicação. São histórias de quem foi ali e não voltou, de pessoas que não deixaram qualquer notícia, nem sequer um corpo. Só dor e espera.

Sumiço sem deixar um só rastro

des-numeros1 (1)Amanda. O nome, de significado amável, foi escolha do pai, o pedreiro José Carlos Vieira. A menina foi desejada e esperada pela família. A gestação da mãe, Elisa, só aconteceu após um tratamento para engravidar. “Tive dificuldade para engravidar e fiz um tratamento. Quando descobri que estava grávida me senti muito feliz, porque ficava em casa sozinha. Ela foi muito desejada e esperada”, conta.

A vivência entre os três foi interrompida na noite de 11 de agosto de 2012, quando Amanda sumiu misteriosamente na entrada de uma festa da cidade. Desapareceu sem deixar um só rastro. “Horas antes fui no quarto e dei um abraço bem apertado nela, um beijo e falei: ‘Se cuida’. Não imaginava que nesse dia ela não iria mais voltar. Foi a última vez que nos falamos”, lembra a mãe. Desde então as buscas foram incessantes na procura da filha. “Comprei um carro para ir nos lugares que as pessoas diziam que tinham visto ela. Mas sempre voltei para casa com a mesma angústia”.

Católica, é na fé que ela se apega para enfrentar esses anos de sofrimento. “Logo no início fiquei quase um mês em casa, não tinha forças para levantar e sair. As pessoas me criticaram muito, dizendo que não tinha capacidade de tomar conta da minha filha e por não saber onde ela estava. Foi muita humilhação que passei”. E essa humilhação quase se transformou em outra tragédia na família Corrêa. Certa vez, sem vontade de viver, Elisa quase se jogou num vão, do alto do quinto andar, do prédio onde trabalha. Mas acabou desistindo.

Quatro anos depois, Elisa não se acomodou com o silêncio. Uma vez por mês vai até a delegacia da cidade procurar por informações. Quase todas as noites, pensa na filha. E chora. A casa de quatro cômodos, está em reforma. O quarto da menina foi desmontado, uma forma dos pais não lembrarem a todo o tempo dela. As fotos também foram guardadas em cima do guarda-roupa. A exceção é aquela que está presa, junto a um terço e as imagens de Nossa Senhoras das Graças, Aparecida e Santa Rita na cômoda de madeira na sala. Dali a filha sorri do retrato.

“Horas antes fui no quarto e dei um abraço bem apertado nela, um beijo e falei: ‘Se cuida’. Foi a última vez que nos falamos” – Elisa Regina Corrêa , Doméstica

84% dos casos da Grande Vitória são solucionados

Cerca de 84% dos casos das pessoas desaparecidos na Grande Vitória são resolvidos. Os dados são da Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD), localizada em Vitória.

Os números mais atualizados mostram que até o mês junho deste ano, das 363 pessoas consideradas desaparecidas 306 foram localizadas. Dez estavam mortas. No ano passado foram 903 pessoas desaparecidas, sendo 803 encontradas e 28 mortas. Dados de 2014 e 2015 apontam que no Estado desaparecem por ano, em média, 1.000 pessoas. Dessas, cerca de 90% são localizadas. Em média, em 5% dos casos a família não dá retorno às autoridades, comunicando o aparecimento do parente, e em apenas 3% o desfecho termina com morte. De acordo com o delegado José Lopes, chefe da Divisão de Homicídios responsável (DEPD), a maior parte dos desaparecimentos estão relacionados a fugas do lar, motivadas por maus tratos e conflitos familiares.

Por lei, logo que a família faz o registro do desaparecimento na delegacia, a polícia deve notificar rodoviárias, aeroportos e fazer uma busca. O delegado ressalta que, ao contrário de outros Estados, não espera 48 horas para fazer o registro e iniciar a procura. “Como os bairros da Grande Vitória são próximos facilita o nosso trabalho. E também são pessoas pobres, que não tem dinheiro para ficar vindo aqui na delegacia. É uma falta de respeito não atendê-los”, comenta o delegado.

Desde 2014 que a delegacia no Barro Vermelho funciona como um local especializado para pessoas desaparecidas. “Fomos a terceira delegacia no país a assinar um convênio para divulgar a foto de desaparecidos em âmbito nacional”, diz José Lopes. Fora da Grande Vitória cada delegacia do município acaba ficando responsável pelo casos, o que dificulta a informação de números mais exatos em todo o Espírito Santo.

O perfil da maioria das pessoas desaparecidas, segundo o delegado, é o de meninas de 12 a 17 anos que, normalmente, saem de casa para viver com o namorado. Em segundo lugar vem os homens adultos, com mais de 18 anos, que também saem de casa por vontade própria.

Glegiane dos Santos procura pela irmã, Diullyane, desaparecida no dia 14 de fevereiro deste ano. “Vivemos o sofrimento de um enterro todos os dias. A dor não passa e nem vai passar” 

“É um enterro todos os dias”

Glegiane dos Santos procura pela irmã, Diullyane, desaparecida no dia 14 de fevereiro deste ano

É pelos olhos que se reconhece o parente de um desaparecido. São olhos tristes, acanhados e sem brilho pelo tanto de angústia que vivem.

Os olhos de Glegiane Nascimento dos Santos, 32 anos, não brilham desde o dia 14 de fevereiro deste ano. Um chamado no portão de casa e a irmã, Diullyane, de 14 anos, desapareceu. “Vivemos o sofrimento de um enterro todos os dias. A dor não passa e nem vai passar”, conta a gari.

Desespero

Do dia para a noite a vida da família Santos perdeu a cor. Um tom acinzentado tomou conta da casa localizada no bairro Guanabara, em Iúna, Sul do Estado. Pouca gente comenta sobre o ocorrido. O pai Lenilson, que vive numa cama devido a um derrame cerebral, apenas ouviu o grito no portão. A mãe Irani, estava dormindo no momento, devido a um calmante. Ao acordar, por volta das 21 horas, percebendo o sumiço da filha, se desesperou.

Esses casos de desaparecimento são chamados pelos especialistas de enigmáticos. É quando uma pessoa some sem deixar qualquer vestígio. Ela pode ter sido levada, pode ter sido vítima de alguma violência, ou mesmo ter decidido fugir. Por hora, não saberemos o motivo.

Esperança

“A última vez que a vi foi na tarde do dia 14 de fevereiro. Ela estava feliz com o começo das aulas e animada para fazer os 15 anos”, conta Glegiane. Pela situação dos pais – a mãe entrou em depressão – ela assumiu as rédeas do problema. Perdeu as contas das vezes que saiu em busca de Diullyane. “De matagal a rios da região, fui em tudo que era possível. Saía às 5h e voltava às 18h, cheguei a pedir comida e café para desconhecidos. Se ela estivesse morta, nós teríamos encontrado o corpo”, relata.

A esperança é tão grande que, no ano passado, a família caiu no golpe de um oportunista. “Acabamos depositando dinheiro na conta de uma pessoa que ligou dizendo que tinha visto a Diullyane. Nunca houve notícias e ela acabou sendo presa”, conta.

A vida foi reduzida a um único tempo verbal, o pretérito, com um presente suspenso e um futuro que ninguém quer: o desconhecido. “É como se ela estivesse viva”, comenta a irmã. A cama, as roupas, o material escolar, o remédio para o estômago, o celular, que seria presente de aniversário… Tudo continua no mesmo lugar. A família optou por não mexer em nada, na esperança de que um dia tudo aquilo seja utilizado novamente pela jovem, que tem o sonho de ser médica.

Enquanto isso, a dor, garante Glegiane, não passa. “Nos lugares que vou – como escola, supermercado e farmácia – sempre lembro dela. Me coloco no lugar da minha mãe. Como irmã tem dia que quase não aguento, imagino a dor da minha mãe”.

Por hora, a família se recusa a desistir de viver. É o olhar de esperança que os mantém vivos.


À espera de uma ligação

É no que se resume a vida de Marlene Rita Mônico, que faz uma busca solitária pelo irmão.

“É tão estranho. Como um homem, que sempre foi bom, amigo, companheiro, que ajudava todo mundo, inclusive doando comida e roupas, desaparece assim? Tem sido difícil viver”.

O relato é de Marlene Rita Mônico, irmã de Abenito, 54 anos, desaparecido desde 26 de setembro de 2014. Há dois anos ela vive no mundo das incertezas. E intrigada com essa traição da vida. A procura por ele é muitas vezes solitária e, quase sempre, marcada pela desilusão.

O enredo da vida de Abenito desandou após a segunda separação. Isso há cerca de 17 anos. Ao voltar de uma semana de trabalho em Guarapari, ele encontrou a casa vazia. Não suportou a dor. Não encontrou os móveis, porta-retrato, as histórias vividas no imóvel, a família. Encontrou a depressão. “Ele sempre foi um pai presente e amoroso. E realmente entrou numa depressão profunda, tornando-se alcoólatra, devido aos aspectos amorosos da vida. Sempre foi um cara bem-sucedido. Mas em algum momento da vida ele se perdeu. Aliás se perdeu de tudo: dos filhos, da família e principalmente de si mesmo. Uma pessoa que ficou sem referência”, conta a filha, Suelen Mônico.

Busca solitária

Era 17 horas, de uma sexta-feira, quando o telefone de Marlene tocou. Do outro lado da linha a notícia que ela jamais imaginou receber um dia na vida. Seu irmão estava desaparecido há algumas horas. Nunca mais apareceu. “Procuramos em casa de parentes, rodamos de carro pelos bairros próximo a Interlagos, Vila Velha. Fui a muitos lugares, alguns perigosos, que fui recomendada a não ir de carro. Muitas vezes vi moradores de rua pensando que era meu irmão”, conta Marlene.

A filha de Abenito também esteve nas buscas. “Fizemos cartazes, folhetos, banners, outdoors. Por conta do trabalho, viajo por todo o Estado, nas estradas fico olhando os andarilhos. É uma procura sem fim”, desabafa.

Atualmente Marlene faz uma busca solitária. Parentes acreditam que ele esteja morto. A dona de casa prefere acreditar que o irmão apenas perdeu a memória. Ela não se dá por vencida. “Parte da família já o matou e enterrou. Até que se prove o contrário, continuarei procurando pelo meu irmão. Sou a única que sai em busca dele”, diz, sentada numa poltrona de couro, ao lado do pai, na casa em Itararé.

No móvel de madeira da sala, a imagem de duas santas fazem a vigília. Na parede, através de quadros presos, as fotografias dos pais contam o passado. Roupas, sapatos e o perfume de marca de Abenito ainda estão no guarda-roupa. Mas é o telefone o objeto mais importante da casa. “Todos os dias fico esperando uma ligação. Toda vez que o telefone toca, meu coração enche de esperança”.

“São perguntas eternas, mas sem respostas”

Ter um parente desaparecido é viver um luto inacabado, uma dor que nunca passa.

A psicóloga Angelita Scardua, especialista em Felicidade e em Desenvolvimento Humano, explica que a situação é um dos processos mais difíceis que uma pessoa pode enfrentar na vida. “Quando uma pessoa morre, conseguimos dar um fim na história que foi vivida em conjunto. Existe um lugar para ela na linha do tempo de nossa história. Por mais que a morte seja dolorosa, existe um significado e um período para superar”.

Já para o desaparecimento, o parente não consegue dar um fim na história. “A relação fica sem sentido. No fim das contas não se sabe o que aconteceu e isso é angustiante. São sempre perguntas que a pessoa tem para fazer e não há respostas”, diz Angelita.

Repostas do que acontece na vida do outro é fundamental para conseguir levar a vida adiante. De acordo com a psicóloga, saber o que aconteceu com o outro nos conforta. “Já quando não se tem resposta é como se algo ficasse aberto e isso é desesperador. Causa angústia e incertezas, sentimentos que a pessoa carrega para a vida inteira”, analisa Angelita.

É preciso ter um suporte familiar, espiritual e, ás vezes, até terapêutico para administrar a vida cotidiana. “O desaparecimento é algo que atormenta todos os dias e momentos. É preciso aprender a seguir em frente”, comenta Angelita Scardua.

Delegacia funciona de forma precária

Em média, três registros de desaparecidos são feitos todos os dias na Delegacia de Pessoas Desaparecidas (DPD), em Vitória. Somente até junho deste ano, foram registrados 363 desaparecidos – 306 localizados, o que representa 84% dos casos solucionados.

Apesar do alto índice de casos solucionados, a situação da delegacia é crítica. Para atender toda a demanda da Grande Vitória, estão disponíveis somente três policiais e dois carros de polícia. O efetivo é baixo e a demanda é alta. “Temos uma rede que trabalha em parceria com o Judiciário e com os Centros de Referência da Assistência Social (Cras). Deveríamos ter um assistente social, mas não temos. Criaram uma delegacia totalmente sem estrutura. A impressão é de que a delegacia não faz nada, mas não é assim”, explica o delegado José Lopes.

A falta de estrutura vai além. Além da ausência de assistente social, também falta psicólogo. “Mas apesar da falta de estrutura, é uma delegacia diferenciada, com um perfil social. O grande problema hoje é que a família ‘quebrou’. A igreja, que era o pilar das famílias, não é mais. O pai terceiriza a educação para a mãe, que por sua vez quer que a escola seja a responsável pela educação. O amor vem de dentro de casa”.

Sistema arcaico

A delegacia só funciona em horário comercial, de segunda a sexta-feira. Qualquer registro de desaparecido fora desse período deve ser feito nas delegacias regionais, que funcionam 24 horas. “O ideal é que, mesmo após o registro de ocorrência na delegacia regional, o familiar vá até a Delegacia de Pessoas Desaparecidas levando uma foto, para que o caso seja inserido no sistema da polícia especializada”, disse uma funcionária, que preferiu não se identificar.

Ó problema se agrava ainda mais fora da Grande Vitória. Nos demais municípios do Estado, não existem delegacias específicas para tratar do assunto. As demandas referentes a desaparecimentos se misturam a todas as outras, levando meses para serem apuradas.

Para tentar localizar os desaparecidos mais rápido, a polícia usa um sistema interno, chamado Rede Infoseg, onde são inseridos os dados de pessoas desaparecidas de todo o país. O estado de Santa Catarina foi o primeiro a compartilhar as informações. O Espírito Santo aderiu ao sistema na segunda etapa, junto com o Rio de Janeiro, inserindo as informações dos desaparecidos em cada região. “A cada três meses eu atualizo a lista de desaparecidos no sistema”, explica José Lopes.

Ele acrescenta que esse tempo se deve ao fato de a maioria dos registros serem relacionados a fuga do lar, motivadas por maus tratos e conflitos familiares, que podem voltar para casa. “Geralmente são adolescentes que saem de casa. Mas não espero 48 horas para fazer as buscas”, explica, ressaltando que, nos casos onde os desaparecidos podem estar fora do país, a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) é informada imediatamente. “Temos uma rede para ajudar a solucionar os casos”, diz.

“Não tem um dia que a gente não lembre dele”

Aos 83 anos, dona Felícia Maria de Jesus não acredita. Toda vez que pega a foto do neto Jefferson de Jesus Cruz, no aparador da sala, ela chora. Jovem, sorriso discreto, ele desapareceu em maio deste ano e, desde então, a vida da família nunca mais foi a mesma.

É Flávia, 26 anos, irmã de Jeferson, que consola a idosa. Apesar de não terem nenhuma pista, elas mantêm a esperança de encontrar o rapaz. “Não tem um dia que passamos sem lembrar dele”, comenta a irmã.

Moradores de Aracuí, em Castelo, a família viu a vida se tornar um pesadelo. Era uma sexta-feira quando Jefferson saiu para encontrar a ex-namorada numa rua próxima de casa. Segundo relatos de pessoas que estiveram com ele naquele dia, o jovem ainda conversou com alguns amigos antes de desaparecer. Foi visto pela última vez à meia-noite. “Dizem que ele pegou carona de moto com uma colega, que ficou de retornar ao local com a ex-namorada. Quando elas retornaram, ele não estava mais lá”, diz Flávia. Desde aquele momento, o celular do rapaz foi desligado.

Indignação
A família faz a peregrinação, toda semana, na delegacia da cidade em busca de notícias. A irmã vê o sofrimento se consolidar no sofá da casa. “Tem seis meses, nunca fui na delegacia. Mas fico indignada pela demora em ter notícias. Existe um suspeito. Achamos que se alguém for preso haverá uma denúncia”, conta Flávia.

De acordo com ela, Jefferson vinha sofrendo algumas ameaças, devido a uma dívida de um carro. “Estava sendo ameaçado por causa de R$ 2 mil. Não acreditamos nessa hipótese. A polícia também trata o caso como desaparecimento. Ele está vivo”.

Se não há corpo, há esperança. Tanto que a família é incansável nas buscas por Jefferson. “Onde falam que ele pode estar, nós vamos. Nunca o encontramos e nem tivemos notícias”.

O quarto dele foi desfeito. As coisas foram mudadas de lugar para que a “presença” dele não aumentasse ainda mais a saudade. “Mesmo assim, de vez em quando, minha mãe diz que vê ele na porta do quarto”. Flávia conta que não tem sido fácil seguir em frente. Toda vez que o telefone toca a esperança é renovada. “Qualquer número diferente a gente já acha que é ele. Ficamos pensando no que pode ter acontecido, onde ele está. Meu pai voltou a beber e não entende porque ele desapareceu”.
Nesse enredo todo, é a mãe que mais sofre com o desaparecimento do filho. “Ela passa os dias tentando se reerguer, vive chorando”, diz a Flavia, sem saber quando essa história terá um fim.


O oncologista capixaba Roberto Gomes desapareceu em São Paulo, onde participava de um congresso

Sumiço de médico completa dois anos

O médico capixaba Roberto Gomes sumiu aos 67 anos, depois de ir a São Paulo, no dia 26 de novembro de 2014, para participar de um congresso onde lançaria um livro de sua autoria. O oncologista fez seu último contato com a mulher em 27 de novembro de 2014. 

Ele telefonou dizendo que a sua volta para Vitória estava prevista para a noite do dia seguinte, mas que ele tentaria adiantar o voo para o período da manhã. Depois disso, a esposa chegou a ligar para o celular dele, que já estava desligado.

Registros

Câmeras do hotel onde o médico estava hospedado flagraram o momento em que ele fez o check-out na recepção, na manhã do dia 28, e saiu pela porta principal do estabelecimento carregando uma sacola de plástico, do tipo de supermercado.

Antes de sair do hotel, localizado na Avenida Paulista, Gomes deixou o terno e a mala na recepção. As informações são de familiares do médico.

A família chegou a receber a informação de que um homem com as mesmas características do médico foi socorrido por uma equipe do Samu com problemas cardíacos e encaminhado ao Hospital do Coração.

A Polícia Civil de São Paulo fez buscas em Departamentos Médico Legais (DMLs), hospitais e pontos de aglomeração de moradores de rua para tentar localizá-lo. A família também contratou uma empresa especializada em investigação, mas não obteve sucesso. Dois anos se passaram e o desaparecimento do médico permanece um mistério.

“Tenho a sensação de que ele está morto”

A médica Nildete Gomes, mulher do oncologista Roberto Gomes, conversou com A GAZETA. Ela confessou ter a sensação de que seu marido está morto, disse que “se deu alta da terapia”, que doará os pertences do médico para uma instituição e que no próximo dia 27 de novembro realizará uma celebração em nome dele, na Comunidade Santa Helena.

Como está a vida, dois anos após o desaparecimento do seu marido?
Enquanto na morte o luto progride, no desaparecimento isso não acontece. É como uma história inacabada. A cada chamada telefônica, especialmente com um DDD de outro Estado e número desconhecido, tenho um episódio de taquicardia… Por outro lado, acredito que todos nós temos, no fundo, vontade de sobreviver, então nos agarramos com força ao que sobrou da tempestade. No meu caso em particular, além do grande apoio dos filhos, dos amigos, a ternura pelos netos, meus próprios projetos me fizeram lutar para me manter no prumo e no rumo. O apoio terapêutico no começo foi muito importante, mas me dei ‘alta’, e sei que posso seguir com minhas próprias pernas.

A senhora já estudava artes? De que forma isso te ajuda a seguir em frente?
A pintura foi essencial para ampliar as minhas ambições. Três anos antes do desaparecimento do meu marido, eu havia começado a estudar artes e depois decidi ir para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, local por onde passaram muitos dos grandes artistas brasileiros da atualidade. O entusiasmo de Roberto com o meu trabalho na época – eu era aluna do Attílio Colnago – foi um legado que não me deixou desanimar. Estou preparando trabalhos para duas exposições no Rio, uma coletiva em março e uma individual no final do ano. A individual tem profunda influência do acontecimento e chama-se “Poesia do Chão”, onde abordo os acontecimentos do chão em si, assim como o estar no chão, como sinônimo do sofrimento emocional, e a perda do chão como símbolo de perda das referências.

Ainda tem esperança?
Nunca mais tivemos notícia alguma. Alguns mandaram fotos, mas que não eram dele… Outras pessoas em Vitória criam suas próprias fantasias, dizendo que a gente sabe onde ele está. Gostaria de reafirmar que qualquer pessoa que tiver qualquer notícia que nos leve até ele será muito bem recompensada financeiramente. Não estipulamos valores porque uma pessoa amada não tem preço. Mas desde a primeira semana do desaparecimento tenho a sensação de que ele está morto.

E os objetos dele?
Faremos a doação de todos os objetos dele – roupas, relógios, livros, objetos de arte e decoração, discos – para uma instituição. Possivelmente será um bazar que deverá acontecer em dezembro.

“Quarenta mil crianças desaparecem todos os anos no Brasil”

Tenente-coronel da PM de Santa Catarina, Marcus Claudino escreveu livro que relata o drama de pessoas desaparecidas

Tenente-coronel da PM de Santa Catarina, Marcus Claudino escreveu livro que relata o drama de pessoas desaparecidas

O desconhecimento da sociedade sobre os desaparecidos e a falta de estrutura de segurança pública formam alguns dos motivos que fizeram Marcus Claudino, tenente-coronel da Polícia Militar de Santa Catarina, a escrever o livro “Mortos Sem Sepultura” (PalavraCom Editora). Nas páginas ele relata o drama de pessoas desaparecidas e suas sequelas para as famílias e à segurança pública.

Lançada em 2014, a obra escancara o sofrimento vivido por aqueles que não têm notícias de seus entes queridos, felicidades do reencontro e a tristeza da perda definitiva. Confira a entrevista:

O que mais surpreendeu o senhor ao escrever a obra?

O desconhecimento da sociedade sobre o tema desaparecidos e a falta de estrutura de segurança pública e atendimento psicossocial em dar uma eficaz resposta ao problema em todos os seus aspectos. Hoje no Brasil temos apenas quatro delegacias especializadas em desaparecimento e somente a Polícia Militar de Santa Catarina tem uma Coordenadoria de Pessoas Desaparecidas. E principalmente pela falta de apoio público ao desaparecimento de pessoas.

Nas minhas pesquisas para reportagem, percebi que, geralmente, em se tratando de adolescentes, a polícia diz aos pais e mães que “é coisa de fuga com namorado”. A que você atribui esse fenômeno?

A principal causa do desaparecimento no Brasil é a fuga do lar, principalmente de crianças e adolescentes. A família é a maior vítima e a maior produtora de desaparecimentos. Existe muito preconceito pelas polícias em tratar destes casos, porém acho muito importante uma atenção especial em muitos casos, pois quando verificamos a causa da fuga do lar verifica-se como causa: maus-tratos, abuso sexual, pedofilia, trabalho infantil e exploração sexual.

Existem elementos específicos que resultam no fenômeno dos desaparecidos no Brasil?

O principal é a fuga do lar, mas podemos destacar o tráfico humano, pedofilia, trabalho escravo, exploração sexual e demências. Porém, destaco que o problema do desaparecimento de crianças e adolescentes no Brasil possui uma frequência relevante e seu impacto sobre a vida dos envolvidos é significativo, ao mesmo tempo em que a qualidade da primeira resposta policial é fundamental para aumentar a resolutividade dos incidentes.

O volume de desaparecidos ultrapassa a percepção que a sociedade tem do problema. Todos os anos, aproximadamente 40 mil crianças desaparecem no Brasil. O número é assustador: é equivalente à população de uma cidade de porte médio. De acordo com dados da Subsecretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, só em São Paulo ocorrem 10 mil casos todos os anos. Ou seja, o equivalente a 30 novos casos por dia.

Que valores familiares são identificados no discurso das famílias que perderam alguém?

O drama de uma família que tem um ente querido é incomensurável e relatada pelas famílias como pior que a morte, pois a incerteza do bem-estar do familiar desaparecido “mata a conta-gotas”, principalmente as mães de uma criança desaparecida.

Existem métodos de prevenção no desaparecimento de pessoas?

Sim, existem. Prevenção com palestras em escolas e instituições, mas principalmente na relação da família, onde a palavra mágica é atenção aos filhos, seja pelo Estado ou pela família, pois pela falta destes a criminalidade se apresenta como substituto galgável. O principal é sempre informar ao responsável o local para onde está indo. Também apresentar os amigos e dar aos pais o telefone deles. Possuir (e dar aos seus responsáveis) os telefones das instituições que frequenta: escola, trabalho, igreja, casa de amigos. Outra dica é avisar, se for dormir fora de casa, deixando o contato do local para onde vai. Se não quiser contar para os pais, informar esses detalhes para alguém em quem confia (deve ser uma pessoa com quem seus responsáveis tenham contato. Pode ser um tio, um primo ou o melhor amigo, por exemplo).
Qual é o papel da família?

Aos pais cabe a iniciativa de desenvolver um bom relacionamento; aos jovens, comunicar o seu destino, a sua rotina. Já aos policiais, cabe ajudar a promover esse intercâmbio, destacando, sempre que possível, a relevância da interação entre as pessoas que compartilham seus cotidianos.

De que forma o governo fracassa na questão dos desaparecimentos?

Em muitos aspectos, principalmente na falta de um sistema de alerta eficiente para desaparecimentos de pessoas, falta de estrutura e treinamento policial para casos de desaparecimento, falta de políticas públicas voltadas ao tema, falta de atenção especial para os moradores de rua e atendimento psicossocial para as famílias vitimadas pelo desaparecimento.

“Sempre tive a esperança de achar meu irmão”

A história de Maria Antônia Tiroli, que mora em Vitória, teve um final feliz: após seis anos ela reencontrou o irmão

As histórias de desaparecimento também podem ter um final feliz. Foi o que aconteceu com a dona de casa Maria Antônia Tiroli, 50 anos, que reencontrou o irmão seis anos depois.

Ela, que nasceu em Nanuque, Minas Gerais, tinha 18 anos quando veio morar no Espírito Santo. Por aqui começou a trabalhar como manicure, casou e teve três filhos. Sua vida corria como o esperado até descobrir o sumiço do irmão Adilson Antônio.

“Ele morava em Mucurici, interior do Estado, com a esposa e dois filhos. Durante anos achei que estava tudo bem. Mas um dia a minha mãe, que morava em Montanha, passou mal. Ela vivia angustiada e um dia, no hospital, falou que estava triste porque um dos filhos estava desaparecido. Ali fiquei sabendo do desaparecimento do meu irmão”, relata.

Foi a partir deste momento que ela começou a busca para reencontrar Adilson. Espalhou cartazes, foi em delegacias e participou do quadro “Desaparecidos” da TV Gazeta duas vezes. Adilson foi identificado – após ter sua foto divulgada no quadro – por um parente da atual esposa que mora com ele na Bahia. Ele assistiu ao jornal, reconheceu Adilson pela foto e ligou para Maria.

Adilson reencontrou os oito irmãos num almoço de família. “Ele conta que teve vontade de sair pelo mundo e não pensou duas vezes. E que foi adiando o dia de ligar para a família para avisar aonde estava, até que se passaram todos esses anos. Ele passou por Eunápolis, Teixeira de Feitas e Tabelas, cidades da Bahia. Sempre tive a esperança de que um dia iria reencontrá-lo. O reencontro foi emocionante e, hoje, nos falamos sempre”, conta Maria Antônia.

Casos nacionais que chamaram a atenção

Priscila Belfort, na foto com o irmão Vitor. Ela está desaparecida desde 2004O desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort, no Centro do Rio de janeiro, comoveu o Brasil. Ela foi vista pela última vez com vida, em 9 de janeiro de 2004, quando deixou o escritório da Fundação Esporte e Lazer, no Centro, onde trabalhava, para almoçar.

No dia do desaparecimento, Priscila acordou indisposta e resolveu pegar uma carona com a mãe, Jovita Belfort, até o trabalho. A jovem foi para o trabalho e horas mais tarde saiu sozinha, dizendo aos colegas que iria almoçar.

Foi a última vez que alguém viu Priscila. Não houve qualquer pedido de resgate. Segundo a família, ela já havia sofrido lapsos de memória no passado, mas nunca a ponto de perder o contato com os parentes.

Com apelos de famosos, o caso ganhou repercussão nacional. Mas, apesar disso, 12 anos após o sumiço dela, a polícia não tem ideia do que possa ter acontecido. No ano passado surgiu um boato de que Priscila teria sido levada para o Morro da Providência, onde teria sido executada. Mas o corpo nunca apareceu e ninguém nunca assumiu o crime.

O produtor cultural Giuliano Ricca, de 47 anos, irmão do ator Marco Ricca, está desaparecido desde 19 de outubro de 2014. O desaparecimento aconteceu após Giuliano deixar a capital paulista em seu carro, uma CRV preta, pela Rodovia Presidente Dutra.

O caso até hoje está sendo investigado pela delegacia de desaparecidos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Não foram divulgados, no entanto, detalhes da investigação.

Em recente entrevista, o ator falou sobre o desaparecimento. “É a tristeza da minha vida. Infelizmente, não sabemos de nada até hoje. Mas basta ouvir um barulho no portão para pensar nele. É angustiante.”

O ator contou ainda que mergulhou no trabalho para conseguir lidar com o sumiço do irmão e que chegou a pesar 69 quilos na época. “Daqui a pouco completam dois anos sem notícias, só apareceram denúncias falsas de gente oportunista.”

Como agir em caso de desaparecimento

Veja o que fazer caso algum parente ou conhecido desaparecer

  • Mantenha a calma.
  • O primeiro lugar onde se deve procurar uma pessoa desaparecida é próximo ao local em que supostamente ela sumiu. Pergunte a todos aqueles que se encontram pelas imediações e aqueles que estão passando na região.
  • Faça uma rápida busca pelas delegacias de polícia, pelos hospitais e prontos-socorros.
  • Registre imediatamente um boletim de ocorrência em uma delegacia da Polícia Civil. Caso seja na Grande Vitória, procure a Delegacia de Pessoas Desaparecidas (DPD). Se for criança ou adolescente, dê preferência à delegacia especializada de proteção à criança e ao adolescente (DPCA).
  • Se a polícia se negar em registrar o Boletim de Ocorrência, procure o Ministério Público de sua cidade ou Conselho Tutelar para garantir o seu direito.
  • Você pode denunciar também através do Disque Direitos Humanos, o Disque 100, além de ser um canal de denúncia de violações de direitos humanos constitui-se também em uma ferramenta que auxilia na localização de crianças e adolescentes desaparecidos.
  • Não é necessário esperar 24 horas para registrar o boletim de ocorrência. Lembre-se de que as primeiras horas que sucedem o desaparecimento são vitais para garantir a localização e proteção do desaparecido.
  • Mantenha alguém no local onde a pessoa foi vista pela última vez, pois ela poderá retornar ao local.
  • Avise amigos e parentes o mais rápido possível, principalmente os de endereço conhecido do desaparecido, para onde ele possa ter ido.
  • Percorra os locais de preferência da pessoa.
  • Tenha sempre uma foto da criança ou adulto atualizada.
  • Memorize a vestimenta da pessoa e outros detalhes para melhor descrever a pessoa.
  • Para efetuar o registro do caso é importante que a família informe todas as características possíveis do desaparecido.
  • Na página “Desaparecidos – Espírito Santo”, do Facebook, é possível colocar fotos e informações do familiar desaparecido.
  • No site Desaparecidos do Brasil (desaparecidosdobrasil.org) é possível cadastrar informações – com fotos – do desaparecido (adulto ou criança) e tirar dúvidas.
  • No site do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (desaparecidos.gov.br) é possível cadastrar fotos e informações de crianças e adolescentes desaparecidos.

Se a pessoa que estava desaparecida retornou para casa o que deve ser feito?
Nesse caso, é importante ir até a delegacia onde foi feito o Boletim de Ocorrência para que seja dada a baixa no BO. No caso de crianças e adolescentes comunique também ao Conselho Tutelar.

Fonte: Desaparecidos do Brasil

Bens materiais: Como proceder?

A advogada, Doutora em Direito e professora de Direito Civil da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Bruna Lyra Duque, esclarece sobre como a família deve proceder em relação aos bens materiais do desaparecido. De acordo com ela, a declaração da morte presumida é um procedimento para certificar o falecimento de pessoas cujos corpos não foram encontrados, como acontece nos casos de acidentes aéreos, catástrofes, acidentes naturais, dentre outras situações.

“Após o encerramento de todas as buscas efetivadas pelas autoridades competentes, os interessados (filhos, pais, cônjuges, etc.) ou o Ministério Público (MP) poderão propor medida judicial a fim de obter a declaração de ausência.

A partir da declaração, todos os bens serão levantados e será iniciada a administração do patrimônio deixado pelo ausente. Somente após esse procedimento, e decorridos três anos, poderá ser iniciada a sucessão.

As medidas relacionadas à sucessão (transmissão e administração de bens) são as seguintes: nomeação de um curador, que administrará os bens do ausente, início da sucessão provisória e, posteriormente, da sucessão definitiva”, explica.

O Código Civil, nos artigos 37 e 38, determina que em dez anos, após o trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória, poderá o interessado requerer a sucessão definitiva. “A sucessão permitirá a resolução de pendências administrativas, fiscais, previdenciárias e vínculos contratuais, o que se dará mediante a declaração dos seus efeitos jurídicos, em cada caso concreto, pelo juiz que declarar a transmissão e a administração dos bens. Se a pessoa reaparecer, ela poderá exigir a restituição do seu patrimônio ou poderá ser indenizado se os bens não puderem mais ser devolvidos”, explica a advogada.

Reportagem publicada em 20  e 21 de novembro de 2016. 

Edição de vídeos: Sullivan Silva; Edição online: Aglisson Lopes