Defensora da importância do relacionamento interpessoal, do trabalho coletivo e da manutenção da cultura cooperativista, a especialista em empreendedorismo social Maria Flávia Bastos sustenta que “o cooperativismo sempre foi e continua sendo um modelo de negócio que gera trabalho e renda de maneira coletiva, onde todo mundo ganha, da maneira mais justa e igualitária possível”.
Natural de Minas Gerais, Maria Flávia é graduada em Comunicação Social, mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local e doutora em Administração. Autora de três livros sobre empreendedorismo, ela é considerada uma das principais palestrantes do assunto no país e foi uma das convidadas para o Painel Cooperar 2019, realizado no auditório da Rede Gazeta, onde falou sobre o empreendedorismo cooperativo para uma plateia de empresários, associados de cooperativas e convidados.
Durante sua apresentação, ela explicou como uma vida cooperativa pode contribuir para que empresas, pessoas e sociedade se tornem mais humanizadas e justas.
Um dos pilares do cooperativismo é a participação de todos nas decisões. Isso ajuda a despertar o empreendedorismo?
O empreendedorismo no Brasil é marcado por essas ações que são coletivas, com a junção de pessoas e ideias. Somos um povo que cria com muita facilidade com a ajuda uns dos outros. Passamos por muitas dificuldades, então, dividir ideias e custos é uma postura típica do brasileiro. Quem empreende, por meio de cooperativa ou por meio do pensamento cooperativo, tem mais possibilidade de dar certo.
Como as cooperativas podem ser mais competitivas?
Estamos vivendo uma crise econômica mundial, e um problema econômico não se resolve da noite para o dia. Todos que empreendem no Brasil estão tendo dificuldade de se posicionar no mercado. Pensar e agir de maneira cooperativa é uma das grandes possibilidades de se alcançar algo e fazer com que uma ideia prospere de fato.
Sempre que eu me alio a outras pessoas, eu posso dividir custos. Estamos falando de um ciclo produtivo do bem, que estimula o crescimento não só das cooperativas, mas da economia nacional de uma maneira geral.
Quais as vantagens que as cooperativas, graças a esse modelo associativo, têm nessa disputa de mercado?
As maiores vantagens que uma cooperativa tem estão exatamente no seu modelo de negócio, baseado na cooperação, na divisão, na partilha. Assim, ela se coloca no mercado de uma maneira que possa “fatiar” as dificuldades.
É uma maneira de aprender a crescer coletivamente. Vários estudos comprovam que quanto mais diversidade de pessoas e ideias eu tiver na minha empresa, mas inovação eu vou gerar, e uma cooperativa é um símbolo dessa diversidade de pessoas de ideias.
O que é o “empreendedorismo social” e como essa ideia se encaixa no modelo das cooperativas?
É uma espécie de empreendedorismo a serviço da paz, da justiça e da mudança plena da nossa economia. O tipo de capitalismo que a gente tem ainda não é baseado em processos sustentáveis. O empreendedorismo social nasce desta perspectiva, do comércio justo, das atividades coletivas que podem gerar emprego, trabalho e renda.
O empreendedorismo social é primo-irmão das cooperativas. Todos os seus conceitos bebem na fonte do cooperativismo, da economia solidária, da agricultura familiar.
Sair da zona de conforto é o grande desafio do empreendedor?
O maior segredo para um empreendedor ter sucesso é que ele possa acreditar que sair de sua zona de conforto é dar ouvidos a outras pessoas que estão do seu lado, os clientes, os concorrentes, a comunidade.
Empreendedorismo se faz na rua, como disse bem o Fernando Dolabela, autor de vários livros da área. Empreender é ser cada dia mais cooperativo a ouvir e entender o que as pessoas têm a nos dizer, é estar atento ao que acontece ao nosso redor.
Em um cenário de crise, qual a importância das cooperativas como geradoras de emprego e renda?
O cooperativismo sempre foi e continua sendo um modelo de negócio que gera trabalho e renda de maneira coletiva, no qual podemos incluir o que chamamos de comércio justo, onde todo mundo ganha, da maneira mais igualitária possível.
Pensar de maneira cooperativa talvez seja a única saída que tenhamos para conseguir novos espaços e novas possibilidades de emprego e renda para uma população muito carente, com mais de 13 milhões de desempregados.
