Santa Maria de Jetibá

Santa Maria de Jetibá

A partir do fim do trajeto original da Rota Imperial, na ponta de Santa Leopoldina, a rota ganha um ramal importante que vai margeando o rio Santa Maria em direção à sua nascente, chegando à cidade de Santa Maria de Jetibá. O município possui, entre outros diversos atrativos, uma das maiores populações descendentes de pomeranos no Brasil.

Um deles é Erasmo Kusang, 43 anos. Com um português arrastado e misturado ao pomerano, o agricultor fez do trabalho na roça com a família a sua fonte de sustento. "Três vezes por semana a gente passa o dia inteiro na colheita de abobrinha e repolho. Vem mulher e até filho pequeno, que fica no bercinho de madeira improvisado". Os produtos colhidos saem da comunidade de Alto Santa Maria direto para o Sul do país, onde serão comercializados por uma empresa de alimentos do Rio Grande do Sul.

Erasmo Kusang, agricultor de Alto Santa Maria

Também no distrito de Alto Santa Maria, vale muito a pena uma visita ao museu da família Waiandt. Não é difícil chegar ao local saindo do centro basta seguindo a estrada de chão por trás da prefeitura. Há plaquinhas indicativas. E chegando à propriedade dos Waiandt, o visitante passa por um grande portal em madeira na estradinha de chão e, assim que termina a curva, se depara com uma aprazível e bem conservada casa pomerana.

O imóvel, da década de 1950, tem um rico acervo da história dos pomeranos em Santa Maria. É muita coisa, mesmo! Todos os cômodos são mobiliados (no quartinho dos filhos tem até um berço e a cama também está feita, como se estivessem por receber visita). Há ainda utensílios domésticos, ferramentas de lavoura com mais de cem anos de idade e louças que fizeram parte do cotidiano pomerano.

"Os pomeranos usavam dois tipos de louça. A de metal, mais resistente, era usada de segunda-feira a sábado. Já no domingo, as mulheres abriam suas cristaleiras e serviam o café e o almoço com suas melhores porcelanas. Como era muito difícil chegar louça de boa qualidade, as melhores eram guardadas para ocasiões especiais", conta Marineuza Plaster Waiandt, 52 anos.

Marineuza é a proprietária do museu e faz questão de receber os visitantes sempre vestida com roupa típica. "É um orgulho manter de pé a nossa cultura. Os pomeranos se orgulham muito, tanto que muitos, em casa, só falam o pomerano. E também faz parte do currículo escolar em Santa Maria desde o ensino infantil", afirma.

Fechado o passeio pela casinha, que foi um presente do sogro de Marineuza para a família, ela cumpre uma tradição: convida a todos para um café em sua casa, que fica a poucos metros do museu. Bolos, sucos, café, leite quente e biscoitinhos da região são postos à mesa, que fica em um varandão aos fundos da casa. 

A casa faz parte do circuito Terras Pomeranas, que engloba uma série de restaurantes, fazendas produtoras de vinho e locais para dormir em diversos pontos da cidade. Os Waiandt hospedam famílias que estão em passeio pela cidade e em busca de sossego. Quartos espaçocos, para até cinco pessoas, com vista para os vales, friozinho da tarde e até direito a esse café da manhã farto. Uma delícia!

Santa Maria também é pioneira numa opção que parece bem simples, mas que agrada todo turista que chega à cidade. Já ouviu falar no colhe-pague? Pois é. É nos mesmos moldes de um pesque-pague, só que em vez de pescar, o visitante ganha uma cestinha e tem o direito de colher direto no pé o alimento que quer comprar. Aí o proprietário rural pesa o produto e você leva para casa, fresquinho.

Agora se a ideia já é excelente para qualquer hortaliça, imagine para frutas. A produtora rural Maria Aparecida Gaiba tem um colhe-pague de uvas em seu sítio, o sítio Mata Verde, bastante conhecido na região. A uva é sem caroço, docinha e fica bem roxa quando está pronta para ser colhida. A criançada faz a festa, os pais fazem mil fotos e os agricultores movimentam a renda familiar o ano inteiro. Ah, se essa moda pega... (tomara!)

Maria Aparecida Gaiba Marquardt, produtora de uvas, vende no sistema “colhe-pague.

Culinária

Para uma cidade tipicamente descendente dos pomeranos, que chegaram à região por volta de 1846, a culinária também tem que ser especial. Nesse ponto, é impossível falar de pomeranos sem falar de pato. Isso mesmo, a carne é um dos itens que não podem faltar à mesa, explica Veronica Krauser, que serve o prato em seu restaurante e só ouve elogios.

"Durante a semana, o pomerano costuma comer comida "normal", com arroz, feijão, carne de porco. Já nos finais de semana, o feijão sai do prato e dá lugar a tubérculos amassados, como um purê". Para completar o bom prato pomerano, um macarrão é sempre bem-vindo. E o pato é a grande estrela. "E a sobremesa pomerana é difícil alguém que não goste: arroz doce", conta Verônica, de olho no fogão de lenha.

Preservando as origens

Assim como até hoje as refeições costumam acompanhar as tradições das famílias pomeranas, tanto na área rural quanto na urbana, as danças também têm seu espaço garantido nos eventos da cidade. Na Praça Floriano Augusto Berger, por exemplo, o primeiro toque da concertina é o suficiente para atrair a atenção de moradores com seus celulares a postos. A concertina é como um acordeon, mas com 29 pontos diferentes. E o primeiro toque já é sinal de apresentação dos grupos de dança típica pomerana. O local tem cerca de 20 grupos diferentes de dança, que se apresentam com músicas, passos e vestimentas diferentes uns dos outros.

Mas do mesmo modo que os dançarinos carregam consigo a responsabilidade de não errar o pé diante de tanta gente assistindo, o tocador da concertina é quem dita todo o ritmo. O que não é uma tarefa complicada para toda a experiência de seu Adenivaldo José dos Santos, 70 anos. Mas o nome de batismo é só para registro. Ele gosta mesmo é de ser chamado de Zé do Fole!

"Eu toco concertina desde os oito anos de idade. Aprendi sozinho, ouvindo os pomeranos de Itarana e treinando em casa", conta ele, com sorriso aberto. "Tomei gosto, me aperfeiçoei e fiz tantos amigos que hoje toco em aniversário, casamento. Faço qualquer negócio". É tanta habilidade que basta passar uma moça bonita, que Zé do Fole já dispara a rima:

Tocador de concertina

Só merece coisa boa

Uma coxa de galinha

E um beijo da "alemoa"

Câmera que pertenceu ao fotógrafo que registrou o povo pomerano no início do século XX, Erwin Kerckhoff, exposta no Museu da Imigração Pomerana

Serviços

  • Hotel Boa Vista - Tel.: (27) 3263-1345
  • Hotel Montanhes Marquadt - Tel.: (27) 3263-2130
  • Hotel Pomerhaus - Tel.: (27) 3263-1718 ou (27) 3263-1037
  • Pousada Paraíso - Tel.: (27) 3263-1664
  • Sítio Vale Verde (Hospedagem Cama e Café) - Tel.: (27) 99983-8035 ou (27) 99901-8999
  • Restaurante da Vera - Tel.: (27) 99896-6848
  • Restaurante e Churrascaria Majeski - Tel.: (27) 3263-1291
  • Restaurante e Churrascaria Kiabai - Tel.: (27) 3263-2694
  • Restaurante Recanto do Jajá - Tel.: (27) 3263-9801
  • Restaurante Vieira - Tel.: (27) 3263-1514
  • Museu da Imigração Pomerana: Em seu arquivo é possível conhecer um pouco mais sobre a história e a chegada dos imigrantes ao Estado do Espírito Santo.
  • Horto Municipal: Localizado a 5 quilômetros do centro, é uma área ambiental com 32 hectares destinada à produção de mudas nativas, ornamentais e exóticas.
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