Manhumirim

Manhumirim e divisa Mg-Es

Chegar a Manhumirim para quem cruza a Rota Imperial com destino a Vitória é como um presente. A última cidade mineira no trajeto antes da divisa do estado tem aquele ar de cidade acolhedora, onde se encontra um pouco de tudo: banco, hotel, restaurante, movimentação nas ruas, e o principal: orgulho por parte dos moradores. O município tem cerca de 22,4 mil habitantes e guarda informações valiosas para quem se interessa pelas histórias da rota.

Para visitar os pontos mais importantes da Rota Imperial na cidade, contamos com a ajuda de Ralph Silveira. Ele é administrador do Parque Ecológico Municipal Sagui da Serra e um estudioso da rota em Manhumirim. Foi dele a responsabilidade de ajudar o Instituto Rota Imperial a mapear todos os pontos da estrada bicentenária no local.

É em Manhumirim, por exemplo, que está localizada a Fazenda do Quartel. A casa branca com portas e janelas azuis em estilo colonial tem varanda para o amplo terreiro de cimento onde o café é secado após a colheita. Mas o que muita gente não sabe é que o nome da fazenda é uma herança da utilidade do local durante o Brasil Império, quando a Rota Imperial passava em frente à propriedade rural.

Fazenda do Quartel, antigo estabelecimento usado por tropeiros da rota

“Esta fazenda era um dos vários quartéis espalhados ao longo da Rota Imperial. Ao contrário do que muitos pensam, eles não eram cadeias ou locais com celas para prender ninguém. Eles serviam, na verdade, como um ponto de apoio para as tropas, onde as pessoas podiam fazer parada e até “pousar” por uma noite”, conta Ralph.

O curioso é que o nome confunde até os funcionários que trabalham na fazenda. “A gente ouve falar que antigamente as pessoas ficavam presas aqui, onde hoje está esse terreiro de secar café. Mas depois também já foi escolinha, pois eu estudei aqui”, conta um funcionário.

Além da Fazenda do Quartel, há outros pontos da estrada de chão entre Manhumirim e a divisa com o Espírito Santo que chamam a atenção. A estrada é de chão, mas é bem nivelada e tem algumas propriedades rurais no seu entorno, o que facilita na hora de pedir informação, já que em Minas Gerais não há placas específicas sobre a Rota Imperial.

  • Ralph, administrador do parque
    Ralph Silveira, administrador do Parque Ecológico Municipal Sagui da Serra, em Manhumirim, e um dos moradores que ajudou a divulgar os pontos da Rota Imperial no município.
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Esta fazenda era um dos vários quartéis espalhados ao longo da Rota Imperial. Eles serviam, na verdade, como um ponto de apoio para as tropas, onde as pessoas podiam fazer parada e até “pousar” por uma noite." conta Ralph

Por esse motivo, vale a pena bater um papo com os moradores da região. É que eles são familiarizados com todo o trajeto, mas não conhecem a estrada pelo seu nome oficial. Então, com apenas cinco minutos de conversa já é possível pegar dicas de fazendas e cachoeiras ao longo da rota.

Também em Manhumirim há uma pequena estrada, citada por alguns moradores, que passa por dentro de uma das fazendas da região e que pode ser um pedaço oficial da Estrada São Pedro de Alcântara. É conhecida entre vários moradores antigos a existência de um trecho calçado com pedras, mas que hoje em dia não é possível passar nem a cavalo mais, graças à vegetação que já tomou conta. “Esse tem grandes chances de ser um pedaço oficial ou ramal da Rota Imperial. Como o trajeto foi recuperado recentemente, muitas coisas novas vão surgindo com o passar do tempo”, explica Ralph.

A placa na árvore informa o ano em que provavelmente o quartel começou a ser usado pelos tropeiros: 1828.

Mas não foi fácil cortar Manhumirim em direção ao Espírito Santo. É que como a zona da mata mineira foi a última região a ser desbravada no Brasil, para proteger o ouro mineiro do litoral capixaba, os índios de diversas regiões ficaram ilhados na região dos “Arrepiados”, como era conhecida a região da serra do Caparaó graças aos cabelos dos índios puris da localidade. Mas como a zona da mata era o último refúgio dos indígenas, os botocudos também se aglomeraram na região. Imagine a dificuldade para abrir uma estrada na localidade.

“E uma curiosidade interessante levantada nas pesquisas: quando passavam as caravanas, os índios davam preferência por atacar primeiro os escravos, e não os seus senhores. O motivo é que os índios achavam a carne negra mais gostosa, pois acreditavam que eram macacos que estavam no chão”, diz o pesquisador. “Mas os brancos só ganhavam alguns segundos, pois eles eram alcançados logo em seguida”, conclui Ralph.

A equipe decidiu sair um pouco da rota e avançar em direção ao Parque Nacional do Caparaó, com suas paisagens exuberantes e lindas cachoeiras. Você confere nos vídeos um pouco dessa beleza toda!

Entrada do Parque Nacional do Caparaó.

Deixando a região da Fazenda do Quartel, a estrada atravessa o rio José Pedro, um riacho de pequenas proporções que divide Minas Gerais e Espírito Santo. Uma travessia rápida, de poucos metros – talvez cinco ou seis -, mas que já mostra diferença imediata. Ao lado da travessia da ponte já está o primeiro marco de localização da Rota Imperial, um informativo de cimento que ajuda os turistas e desbravadores a se localizarem em todo o território capixaba. Ufa!

Ao chegar ao Espírito Santo, o primeiro marco de localização da Rota Imperial

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