Zivan Roque participou de pelo menos seis sindicatos. Foto: Chico Guedes/Arquivo
Num sobrado no bairro Alvorada, em Vila Velha, uma organização sindical parece se esconder das autoridades. O imóvel não tem qualquer placa, e o portão fica sempre fechado. Mas vizinhos e proprietários do imóvel confirmam que o local tem sido usado para atividades de um sindicato.
O inquilino da sala comercial é Zivan Roque Tavares, apontado como presidente do Sindicato dos Bombeiros Civis (Sindbombeiros) e de uma federação da mesma categoria. O vínculo com a instituição não causaria qualquer estranheza, se não fosse pelo fato de Zivan ser investigado pelas autoridades por supostamente forjar uma contratação para se tornar presidente da entidade sindical.
Figura conhecida no meio trabalhista, o dirigente foi alvo de processos administrativos e, na Justiça, pela suspeita de ter aberto federações e sindicatos, como o Sindtter, Sindmontagens, Sindferragens e Sindprest – todos do setor de terceirização –, para representar segmentos de trabalhadores aos quais nunca pertenceu.
O sindicalista, que ainda é ligado ao Sindicato dos Compositores, também foi presidente do Partido Pátria Livre (PPL/ES), que teve a filiação cancelada ao não fazer a prestação de contas do uso dos recursos do Fundo Partidário ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Ele é ainda suspeito de usar nomes de amigos e parentes para fundar o Sindbombeiros. Entres eles havia funcionários de escolas, lavanderia e até gerente de supermercado. Um dos laranjas é o sobrinho de Zivan. Ele, que pediu para não ter o nome revelado por medo de perder o emprego, acusa o tio de fraude. “Quase fui demitido, e decidi denunciá-lo à polícia”, explica o jovem, que tem carteira assinada há sete anos e pretende processar o parente.
Cerca de R$ 1 milhão em imposto sindical circulou pelos sindicatos administrados por Zivan. O Sindbombeiros recebeu no ano passado, por exemplo, R$ 24 mil em contribuição compulsória.
Outro sindicato de Zivan, o Sinditter, fechado pelo Ministério do Trabalho por decisão da Justiça, arrecadou entre 2007 e 2012, R$ 612 mil de contribuição sindical, dos quais R$ 86 mil foram pagos depois de o registro da entidade ter sido cancelado. O que não impediu o Sinditter de funcionar com o CNPJ do Sindbombeiros, homologando rescisões trabalhistas de funcionários de mais de 100 empresas do Estado. O caso foi encaminhado ao Ministério Público Federal.
A busca por Zivan levou a uma peregrinação. Durante três dias a reportagem visitou diversos endereços ligados ao sindicalista, mas descobriu residências, salas vazias e até escritórios de contabilidade.
Quem procura o dirigente no Bairro de Lourdes, em Vitória, na sede do Instituto de Desenvolvimento e da Produtividade da Vida Humana, uma associação privada que visa à defesa de direitos sociais, constituída em nome de Zivan, vai no máximo alugar uma fantasia para festas. O CNPJ da entidade também era usado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Armação, cujo cadastro foi cancelado pelo Ministério do Trabalho.
Outra surpresa: no Centro de Vitória, no Edifício Navemar, seria a sede da Associação de Proteção à Família e aos Portadores de Necessidades Especiais do Espírito Santo, que teria sido criada por Zivan. Mas lá é uma residência.
Algo semelhante aconteceu no Edifício Banco, Indústria e Comércio, também no Centro. Na sala, onde funciona um escritório de contabilidade, é o endereço da empresa Resgate Soluções Prestação de Serviços Terceirizados. O Ministério do Trabalho suspeita que a firma, registrada em nome do irmão do Zivan, seja de fachada. A intenção, aponta o órgão, seria justificar o fato dele ser presidente do Sindbombeiros, cujo mandato foi vetado por indícios de irregularidades nas eleições.
Desde que as investigações envolvendo o Sindbombeiros foram iniciadas, ninguém sabe a real localização da sede. A família de Zivan nos informou que o Sindbombeiros e a federação estavam em Alvorada. Em uma das três visitas ao local, encontramos Emerson Rachel, que afirmava trabalhar no setor de homologação, mas minutos depois negou ser funcionário do Sindbombeiros e alegou ser ligado à Federação dos Bombeiros Civis. O que aconteceu após nossa equipe ligar para Zivan.
O dirigente nega e garante que lá, no imóvel alugado há dois meses, funcionaria a sede da Associação de Esporte, Cultura e Lazer. E mais, que não é presidente do Sindbombeiros. Zivan, que alega ser inocente das acusações, recusou-se a encontrar com a equipe para uma entrevista. Limitou-se a dizer que atualmente só é presidente da UST, uma central sindical que também não foi encontrada no Centro.